Paula Daidone

Por Paula Daidone

Colunista | Jornalista de vinhos, sommelière, especialista em marketing de vinhos e idealizadora da plataforma Reserva85

O processo de elaboração e as uvas usadas modificam completamente o resultado do vinho tinto. Por isso, conhecer as uvas e saber suas preferências ajuda muito a escolher o seu rótulo ideal.

Como é feito o vinho tinto?

Para produzir o vinho tinto, é necessário esmagar as uvas para liberarem o suco de dentro da polpa. Esse suco, também chamado mosto, é encaminhado para o tanque de fermentação, onde permanece em contato com as cascas das uvas por até duas semanas.

É a pele da uva que garante características como cor, sabor e tanino à bebida. Quanto mais tempo em contato com a pele, mais intensas serão essas características no vinho final.

As principais uvas para vinho tinto

A uva francesa Cabernet Sauvignon é uma das mais populares cultivada ao redor do mundo — Foto: Steve Revare / Flickr / Creative Commons
A uva francesa Cabernet Sauvignon é uma das mais populares cultivada ao redor do mundo — Foto: Steve Revare / Flickr / Creative Commons

A OIV (Organização Internacional do Vinho) é o órgão responsável por catalogar todas as uvas autorizadas para a produção de vinho fino no mundo. Atualmente, são cerca de 5 mil castas catalogadas. Entretanto, existem algumas mais populares. Destaque para as variedades francesas, cultivadas na maioria das regiões vinícolas, como Cabernet Sauvignon, Merlot, Pinot Noir e Syrah.

Reinvenção das uvas e dos vinhos tintos no novo mundo

Uvas Malbec maduras em vinícola em Mendonza, na Argentina — Foto: Seba y Maru Maru y Seba / Flickr / Creative Commons
Uvas Malbec maduras em vinícola em Mendonza, na Argentina — Foto: Seba y Maru Maru y Seba / Flickr / Creative Commons

Historicamente, a França liderou o mercado de vinhos e foi responsável por dizer ao mundo qual seria o estilo de vinho tinto ideal para ser produzido e consumido. Com isso, produtores do mundo inteiro passaram a usar as mesmas técnicas e variedades de uvas francesas. Mas é claro que a história não acaba por aí.

No século 20, a América do Sul começou a criar seu próprio estilo de vinho. O grande responsável por isso foi Nicolá Catena, que, em 1902, levou para a Argentina algumas mudas de Malbec. A variedade originária de Bordeaux (França) não tinha uma boa fama entre os viticultores da sua terra nativa. Mas Catena percebeu que a partir dessa variedade seria possível elaborar grandes vinhos.

Em 1990, a Catena Zapata lançou um vinho elaborado 100% com a uva Malbec. Algo inédito e completamente disruptivo. O sucesso desse vinho colocou a vinícola no hall das mais importantes do mundo e a Argentina entre os países promissores na produção de vinhos.

Ainda hoje, vinícolas argentinas têm grande responsabilidade em dar nova vida a uvas internacionais esquecidas. Como exemplo a Bodega Dante Robino, que reviveu a Bonarda – uma uva de Savoie, na França, que, atualmente, ganha espaço nos vinhedos de Mendoza.

Parreiras de Cabernet Franc na vinícola da Casa Valduga, no sul do Brasil — Foto: Felipe Roos / Flickr / Creative Commons
Parreiras de Cabernet Franc na vinícola da Casa Valduga, no sul do Brasil — Foto: Felipe Roos / Flickr / Creative Commons

Já a Cabernet Franc, uma variedade de Bordeaux muito usada na composição de blends, passou a ser a estrela na vinícola Alfa Crux e ganhou espaço em vinhos varietais, ou seja, elaborados apenas com uma variedade. Para nossa sorte, esses vinhos estão disponíveis no Brasil.

Outro grande exemplo deste renascimento foi a Carménère. A variedade, também originária de Bordeaux, chegou a ser extinta por falta de uso. Até que em 1993, o ampelógrafo francês Jean Michel Boursiquot descobriu, enquanto caminhava pelos vinhedos de Alto Jahuel da Vinícola Carmen, no Chile, que a variedade tida como Merlot era, na verdade, Carménère. Graças a essa descoberta, o Chile e a Carménère entraram para o mapa da viticultura mundial.

A cena dos vinhos tintos brasileiros

A uva francesa Tannat ganhou fama no Uruguai e vem conquistando espaço na região sul do Brasil — Foto: Vinícola Salton / Divulgação
A uva francesa Tannat ganhou fama no Uruguai e vem conquistando espaço na região sul do Brasil — Foto: Vinícola Salton / Divulgação

O Brasil também tem sua parcela na propagação de uvas francesas pouco exploradas. A Marselan, originária do sul da França, está ganhando cada vez mais espaço nos vinhedos brasileiros, muito impulsionada por um projeto da Vinícola Salton. Assim como a Tannat, que saiu da França para ganhar fama no Uruguai e agora galga seu espaço no Brasil.

A Campanha Gaúcha, no Rio Grande do Sul, é a principal casa dessas variedades no Brasil. Lá está o vinhedo mais antigo do País, datado de 1976. Patrimônio da vinícola Miolo, a vinícola é composta por Tannat.

Na região também crescem a todo vapor uvas portuguesas, como Touriga Nacional e Tinta Roriz, através de um projeto desenvolvido também pela Miolo, que vem provando safra após safra a qualidade das uvas lusitanas para elaboração de vinhos tintos em solos brasileiros.

Syrah e a colheita de inverno

Nas regiões sudeste, centro-oeste e nordeste do Brasil, a uva Syrah é colhida durante o inverno, ao contrário do restante do mundo — Foto: Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil / Flickr / Creative Commons
Nas regiões sudeste, centro-oeste e nordeste do Brasil, a uva Syrah é colhida durante o inverno, ao contrário do restante do mundo — Foto: Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil / Flickr / Creative Commons

A Syrah é outra uva tinta que o Brasil está colocando no mapa da viticultura. A variedade é estabelecida há séculos na França, mas, aqui, está protagonizando uma revolução com a Colheita de Inverno. As regiões sudeste, centro-oeste e nordeste colhem a uva no inverno, diferente do resto do mundo, onde é colhida no verão.

A Syrah se adaptou bem a esse sistema inovador. Tanto que no Decanter World Wine Awards 2022, o mais importante concurso mundial de vinhos, o vinho Sabina, elaborado na Serra da Canastra (MG) pela vinícola Sacramentos Vinifer, levou 92 pontos, deixando diversos concorrentes franceses para trás.

Essa é só mais uma prova de que o vinho tinto do Novo Mundo não fica devendo em nada para os inventores. O melhor dessa história é que o universo dos vinhos se renova e amplia a cada dia, principalmente na América do Sul, trazendo infinitas possibilidades para os apaixonados por vinho.

Neste e-book, você encontra a descrição das uvas, as características de aromas e os melhores pratos para harmonizar com cada uma delas!

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