Daniel Bolson

Por Daniel Bolson

Colunista | Arquiteto à frente do escritório Daniel Bolson Arquitetura

Utensílios e acessórios para a casa sempre foram itens que despertaram desejo de quem gosta de cuidar do lar. Objetos ansiados, muitas vezes são adquiridos através de listas de casamento, pelo costume de pedir de presente aquilo que dificilmente compraríamos, pelo simples prazer de tornar as dinâmicas do lar mais aprazíveis.

Listas de presentes com cobertas de mesa, jogos de porcelana, caixas de faqueiros de prata, taças e copos de cristais, bandejas polidas à mão... Objetos lindíssimos, raramente usados, guardados para momentos especiais, que poucas vezes chegavam ou ocasiões pouco valorizadas à altura para usar tais acessórios.

Café da manhã da pousada Pequenas Tiradentes , em que delícias locais são servidas em louças disponíveis para compra na loja dentro da pousada, em Minas Gerais — Foto: Lufe Gomes / Editora Globo
Café da manhã da pousada Pequenas Tiradentes , em que delícias locais são servidas em louças disponíveis para compra na loja dentro da pousada, em Minas Gerais — Foto: Lufe Gomes / Editora Globo

Eu sempre questionei minha mãe sobre quando seriam esses momentos em que poderíamos montar a mesa com artigos tão especiais. Desde pequeno me parecia claro que fazer uso desses itens cotidianamente era uma espécie de afago para nós mesmos. Uma maneira de deixar o dia mais bonito, e até mesmo as refeições mais interessantes. Vamos combinar que uma bela louça revoluciona o que está sendo servido, certo?

Apesar da variedade de cerâmicas produzidas industrialmente, cada vez mais esse tipo de peça com artesanal é valorizado. O torno, máquina que auxilia a fazer utensílios de argila, antes era conhecido apenas pela clássica cena de cinema em Ghost, com Demi Moore e Patrick Swayze, juntos, moldando cerâmica. Atualmente, tornou-se bastante comum entre alunos de cursos de cerâmica país afora. Nos últimos anos, a quantidade de escolas que ensinam esse tipo de técnica cresceu muito devido à procura de itens produzidos manualmente.

Diferentes técnicas, desde a argila esmaltada, mais rústica, à porcelana, ou mesmo o granilite, são usadas para a confecção desses itens, sejam pratos, bowls, moringas e canecas, sejam apenas bandejas. O interessante é mostrar certa forma orgânica na fabricação, valorizando a beleza do imperfeito e assimétrico na fabricação. As peças são feitas tanto para uso pessoal em casa, como para louças e utensílios de restaurantes, muitas vezes personalizadas aos estabelecimentos.

No projeto de Bianca Rieg, os lençóis de linho rosa contrastam com a cabeceira da palhinha natural em tom mais neutro, vestindo o ambiente e criando uma sensação de aconchego ao quarto de tons neutros — Foto: Fabio Jr. Severo / Divulgação
No projeto de Bianca Rieg, os lençóis de linho rosa contrastam com a cabeceira da palhinha natural em tom mais neutro, vestindo o ambiente e criando uma sensação de aconchego ao quarto de tons neutros — Foto: Fabio Jr. Severo / Divulgação

Montar um acervo de itens onde seja possível misturar diferentes materiais traz um charme especial à mesa posta. Essas combinações podem vir de cerâmicas industriais mais básicas, mescladas a peças artesanais; itens de madeira entalhada, encontrados em mercados de artesanato, como gamelas e tábuas; pedras naturais esculpidas em bandejas, cumbucas e potes.

Uma boa maneira de criar um acervo interessante e cheio de boas memórias é garimpar por essas peças quando se viaja. Antiquários também são excelentes lugares para se encontrar objetos incríveis, que já foram parte de acervos de outras pessoas no passado. Itens interessantes, com logomarcas de estabelecimentos antigos, contam histórias e fogem do lugar-comum.

Vestir a casa também é fundamental para alcançar a sensação de aconchego nos espaços. Roupas de mesa, toalhas de tecidos delicados, como linho, com toque e tingimento natural. Para os espaços de descanso, lençóis que conversam com o visual dos quartos, monocromáticos, cores mais neutras, quentes, conforme o contexto do ambiente.

Toque de fibras naturais ajudam a criar uma atmosfera de serenidade e conforto. Cobertores tricotados de lãs de pontos grandes, mantas com tramas rústicas. Verificamos a valorização cada vez mais forte do nosso artesanato e da cultura como peças de identidade e elegância.

A escola de cerâmica Alma, situada em Porto Alegre, oferece em sua sede cursos para iniciantes e também em nível mais avançado de cerâmica, além de vender artigos produzidos por eles, no mesmo espaço — Foto: @almaobjetosceramicos / Instagram / Reprodução
A escola de cerâmica Alma, situada em Porto Alegre, oferece em sua sede cursos para iniciantes e também em nível mais avançado de cerâmica, além de vender artigos produzidos por eles, no mesmo espaço — Foto: @almaobjetosceramicos / Instagram / Reprodução

Qual foi a última vez que você comprou flores para a casa, além de alguma celebração especial, para trazer um bom astral no cotidiano, de bem-estar para quem usa diariamente a casa? Um gesto tão simples reflete um hábito de autocuidado, valoriza o significado tão importante que o lar tem para nós.

Hábitos simples podem incluir uma pequena horta em casa, mesmo que sejam apenas pequenos vasos com mudas de temperos que gosta, apoiados na janela da cozinha, aumentam a vontade de preparar o próprio alimento e criar uma rotina mais agradável.

Receber os amigos em casa, montar uma mesa com queijos e vinhos na sala, é uma das atividades mais gostosas de se fazer. Mas, além disso, poder curtir o cotidiano torna nossas rotinas mais interessantes.

A casa é um conjunto de elementos que reunimos ao longo da vida e representa muito do que nos identificamos, conforta-nos e faz bem. Começar o dia com uma mesa de café bonito não é nada menos do que merecemos, em meio ao modo de vida tão agitado e sobrecarregado que a sociedade impõe. São pequenas pausas e momentos de conexão consigo mesmo que nos recarregam e estimulam.

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