• Por Gladys Magalhães
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Nova variante traz de volta a necessidade de olhar com atenção especial a saúde mental (Foto: Pexels / Mart Production / CreativeCommons)

Nova variante traz de volta a necessidade de olhar com atenção a saúde mental (Foto: Pexels / Mart Production / CreativeCommons)

Desde que foi identificada pela primeira vez no Brasil, no final de novembro do ano passado, a variante ômicron já é a prevalente nos casos de Covid-19 no país, e a cada dia faz com que o número de casos confirmados com a doença bata novos recordes.

A situação, além de causar preocupação com eventuais esgotamentos dos sistemas de saúde, trouxe de volta a necessidade de olhar com atenção a saúde mental. “Com a vacinação avançando mundialmente, todos começamos a vislumbrar um cenário de recuperação, observamos queda das mortes, casos graves e internações. Além disso, a virada do ano contribuiu para a sensação de segurança. Aí, eis que surge uma nova onda de Covid-19, causada pela variante ômicron, confrontando nossa segurança e nos lançando no terreno do imprevisível. Diante deste cenário são naturais os sentimentos de medo, angustia, raiva, insegurança, frustração e ansiedade, tão presentes desde o início da pandemia”, explica a psicóloga Ana Faustino, especialista em psicologia clínica.

Fadiga Pandêmica

Segundo Ana, ainda não temos estudos conclusivos que apontem ou diferenciem os impactos na saúde mental desta nova onda com as anteriores. Entretanto, ela alerta que a Organização Mundial da Saúde (OMS) já usa a terminologia 'Fadiga Pandêmica'.

“A fadiga pandêmica é caracterizada por um cansaço e esgotamento físico e mental, sendo uma resposta às muitas restrições do convívio social, às questões financeiras e outros problemas acarretados na pandemia. O prolongamento desta fadiga pode gerar ou intensificar os transtornos mentais, mesmo daqueles que não apresentavam nenhum sintoma”, esclarece a profissional.

Como diminuir os impactos?

Para a médica Ariana Mendonça, que atende em clínicas e hospitais no Rio de Janeiro, a saúde mental ainda é negligenciada no Brasil. Dessa forma, ela ressalta que buscar ajuda é fundamental para mantê-la em dia. “Infelizmente, existem poucas políticas públicas voltadas para a saúde mental no Brasil. É necessário garantir o acesso à população a equipes multidisciplinares no cuidado da saúde mental, incluindo psicologia, psiquiatria, terapia ocupacional, por exemplo. No mais, nós não somos psicoeducados, não sabemos lidar com nossas emoções, com o cotidiano, ou, até mesmo, com situações adversas”, diz a médica.

Para diminuir os impactos, Ariana ressalta ser importante investir no autocuidado, o que inclui boa alimentação, prática de exercícios físicos e terapia. Ana completa chamando atenção para a qualidade do sono e para práticas integrativas, como ioga e meditação.

Quando procurar ajuda?

Conforme as profissionais, crianças e idosos merecem um olhar especial quando se trata de saúde mental. Isso porque esses grupos sempre foram classificados como vulneráveis para tais doenças.

“A saúde mental impacta diretamente a construção da personalidade, as relações da criança em sociedade e seu bem-estar na totalidade. Já a população idosa manifesta os transtornos de saúde mental de forma diferente, como sonolência e falta de apetite, então, o olhar deve ser bastante atento, para que essas alterações não passem despercebidas”, diz Ariana.

Independentemente da idade, as pessoas devem ficar alertas para os seguintes sinais:

-  Mudanças no padrão de sono, alimentação e disposição física;

- Uso de substâncias psicoativas, especialmente para “aguentar” o dia;

- Perda de interesse por atividade que antes eram prazerosas;

- Cansaço ou estresse que não passam;

- Sentimentos como medo, desânimo, ansiedade e raiva intensos e frequentes. “É natural e até contextualizado estes sentimentos, mas quando eles não passam e começam afetar o trabalho, as relações e atividades diárias, então é hora de buscar ajuda. O medo é o sentimento que nos ajuda a sermos cuidadosos, faz parte do senso de autopreservação, mas quando nos paralisa deixa de ser funcional e se torna o que chamamos de disfuncional”, finaliza Ana.