A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, fez nos últimos dias uma troca em massa de executivos em cargos-chave da companhia, em um movimento que provocou apreensão entre funcionários da carreira e até integrantes da própria cúpula da empresa. No lugar dos desligados, a nova CEO ampliou as indicações políticas com quadros próximos à Federação Única dos Petroleiros (FUP) e ao PT.
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As trocas de agora se deram principalmente entre gerentes-executivos e se concentraram na área de exploração e produção, que administra os campos de petróleo, e na de engenharia, que contrata equipamentos e serviços.
Somadas às trocas informadas na semana passada, a equipe do blog mapeou 12 substituições na alta gestão da companhia entre esses cargos-chave. Dos oito gerentes de exploração e produção, cinco foram sacados de seus postos e um foi remanejado. Só dois continuam onde estavam.
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Na Petrobras, as gerências-executivas são o mais alto nível hierárquico operacional, logo abaixo dos diretores. Com salários em torno dos R$ 80 mil, eles têm mais poder e orçamento do que muitos vice-presidentes de empresas privadas. Além disso, três das gerências que terão novos titulares agora tem assento no comitê de decisões de investimento junto com os diretores da companhia, justamente por estarem em postos centrais para a empresa.
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Um deles é o ex-secretário de energia do rio nos governos Anthony e Rosinha Garotinho, Wagner Victer, que assume o cargo de gerente-executivo do campo de Búzios, e outro é o professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Eduardo Costa Pinto, que é vinculado à Federação Única dos Petroleiros.
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Ambos vão para o lugar de funcionários de carreira da empresa. E embora Victer seja originalmente da Petrobras, ele passou pelo menos 24 anos em cargos fora da companhia. O último foi o de diretor-geral da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), entre 2019 e 2023, na gestão do petista André Ceciliano. Victer retornou à companhia em maio do ano passado, como assessor da presidência.
Agora, vai administrar Búzios, o maior campo de petróleo em águas profundas do mundo, com produção de 560 mil barris de petróleo por dia, o equivalente a 17% da produção nacional. O plano estratégico para 2024-2028 prevê quase quadruplicar essa marca, para 2 milhões de barris extraídos diariamente.
De acordo com fontes ligadas a Magda Chambriard, outra missão de Victer será diminuir a reinjeção de gás no campo de Búzios para alimentar o gasoduto que leva gás até a região de Maricá (RJ), o Rote 3.
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Já Eduardo Pinto chegou à Petrobras no ano passado para ser assessor especial de Jean Paul Prates e não tem experiência executiva na área de petróleo.
Na gerência executiva de gestão de parcerias e processos de Exploração e Produção da Petrobras, hoje ocupada por uma técnica de carreira, ele vai administrar todas as parcerias da Petrobras com outras empresas, gerir o portfólio da companhia, avaliar o desempenho dos campos e tomar decisões sobre projetos bilionários.
Nas palavras de um executivo experiente da petroleira, é o “maestro da orquestra”. Por isso, o economista também terá assento no comitê estatutário que define os investimentos da empresa.
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Hoje, além de assessor especial no gabinete da CEO, Costa Pinto é pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), entidade acadêmica ligada à FUP. Como publicamos no último dia 24, sob o comando de Magda a FUP tem ampliado ainda mais sua influência na companhia, que já era expressiva na gestão de Jean Paul Prates.
Críticas a Haddad
Nas redes sociais, Costa Pinto costuma defender políticas de conteúdo nacional, é um crítico da Lava-Jato e também do plano de arcabouço fiscal elaborado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Participou, inclusive, de diversas lives da Revista Fórum, veículo historicamente alinhado ao petismo, denunciando a “reforma conservadora de Haddad” e defendendo o “confronto” de Lula contra o Banco Central.
Atacou a distribuição de dividendos extraordinários da Petrobras no governo Jair Bolsonaro e, na gestão Lula, falou em “farra dos dividendos”. Mas, depois de assumir o cargo de consultor na presidência da estatal, as críticas cessaram. Sob Prates, a companhia aprovou o repasse de quase R$ 22 bilhões para os acionistas no primeiro semestre.
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Consultado pela equipe do blog, o presidente da FUP, Deyvid Bacelar, elogiou tanto a indicação de Victer – "excelente engenheiro e profissional que atua com maestria e profissionalismo em defesa da Petrobrás e da soberania nacional" – e de Pinto – "um dos melhores professores e economistas que conheço".
Uma terceira troca relevante, em um cargo que também tem espaço no comitê de investimentos junto com a diretoria, ocorreu na gerência-executiva de Sistemas de Superfície, Refino, Gás e Energia. É essa gerência que faz as licitações para a contratação de projetos de todas as construções de plataformas, obras de refinarias e terminais de gás – cerca de US$ 14 bilhões por ano.
O novo gerente-executivo deve ser Flávio Fernando Casa Nova da Motta, que foi gerente-geral de engenharia do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) e ex-gerente de empreendimentos da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco.
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Os dois empreendimentos foram interrompidos em 2015 após as investigações da Operação Lava- Jato constatarem que os contratos foram obtidos com pagamento de propina. De acordo com o Tribunal de Contas da União (TCU), os dois projetos provocaram um prejuízo de US$ 27 bilhões no total.
O fato de as mudanças atingirem em cheio a área de exploração e produção, considerada a alma da companhia, está sendo visto com muita preocupação na Petrobras, onde se diz que "nem no primeiro mandato de Lula se trocou tanta gente" nesse setor.
As trocas preocupam porque os executivos desligados eram vistos como tecnicamente qualificados e até cotados para assumir voos maiores no futuro, como o comando de diretorias.
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Pessoas próximas a Magda Chambriard, porém, dizem que os principais executivos substituídos eram muito novos e tinham pouco tempo no cargo, e que a nova CEO buscava funcionários mais experientes.
Em tese, os gerentes-executivos devem cumprir pré-requisitos de experiência em suas áreas, além de já terem ocupado cargos de gerentes-gerais e gerentes no passado. Mas as regras não são estatutárias e podem ser mudadas pelas diretoria.
As mudanças demonstram que Magda Chambriard está empenhada em atender às cobranças de Lula e do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira.
O plano de Victer de aumentar a comercialização do gás obtido em Búzios é uma das prioridades abertamente defendidas por Silveira.
Victer chegou a ser indicado para o Conselho de Administração da Petrobras no início do ano passado, mas sua nomeação acabou substituída de última hora por Bruno Moretti. Na ocasião, foi taxado de “bolsonarista” pela FUP, embora sua nomeação seja atribuída ao PT fluminense.
Ainda na área de E&P, também foram destituídos os gerentes-executivos João Jeunon (Libra), Francisco Queiroz (Terra e Águas Rasas) e Ricardo Morais (Águas Ultraprofundas).
Na Diretoria Financeira, foi desligada Marina Quinderé, gerente-executiva de Suprimentos e responsável pelas contratações da estatal. Já na Diretoria de Tecnologia e Engenheria, quem está de saída é Mariana Cavassin, gerente-executiva de Implantação de Projetos de Produção. Os substitutos ainda não foram confirmados pela empresa.
No setor de Sistemas de Superfície, Refino, Gás e Energia, peça-chave para o projeto de Lula para retomar refinarias, sai Cesar Cunha de Souza, que deverá ser substituído por Casa Nova.