Malu Gaspar
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Malu Gaspar

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Informações da coluna

Apesar de ter produzido uma grande quantidade de provas e evidências da fraude orquestrada nas Americanas ao longo dos anos, reunidas em três inquéritos, os investigadores da Polícia Federal e do Ministério Público Federal ainda têm uma lista de perguntas para responder a respeito do esquema. Fontes da própria investigação ouvidas nos últimos dias elencaram as dúvidas que ainda pairam sobre o caso e indicaram que as apurações ainda seguirão por vários meses.

A principal questão que policiais federais e procuradores da República estão procurando responder é qual o valor exato da fraude perpetrada nos balanços, uma vez que até agora só o que existe é uma estimativa feita pela própria empresa em seus comunicados oficiais, de R$ 25,7 bilhões.

O Ministério Público Federal, inclusive, solicitou a seus peritos um laudo contábil para calcular o montante exato da maquiagem, assim como o prejuízo causado ao mercado. Só depois que esse laudo ficar pronto é que será feita a denúncia contra os alvos da operação realizada na quinta-feira (27) sobre os executivos acusados da fraude.

Dos 14 que foram alvo de busca de apreensão, dois tiveram a prisão preventiva decretada. O ex-CEO da Americanas Miguel Gutierrez foi preso nesta sexta-feira em Madri, enquanto a ex-CEO do braço digital do grupo, Anna Saicali, continua foragida, possivelmente em Portugal.

Outra grande dúvida que ainda não foi totalmente esclarecida é se os principais acionistas da empresa – Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles – tinham ou não conhecimento das fraudes.

Não surgiu nenhuma evidência disso até agora, nem nos documentos e arquivos apreendidos e nem nos depoimentos dos dois delatores que nortearam as apurações. Numa de suas oitivas, ex-diretora Flávia Carneiro disse inclusive que a diretoria alterava os resultados “para não frustrar Sicupira [o sócio Beto Sicupira] e as expectativas do mercado”.

O Beto a que Carneiro se refere é Carlos Alberto Sicupira, um dos acioniatsa que controlam a empresa, junto com Jorge Paulo Lemann e Marcel Telles. Depois que o escândalo contábil veio à tona e a empresa entrou em recuperação judicial, com dívidas de R$ 43 bilhões, o trio injetou R$ 12 bilhões na empresa.

Apesar dessas informações, por ora nenhum dos investigadores, nem na PF e nem no MPF, se arrisca a dizer que o trio de bilionários está completamente inocente em relação ao esquema.

Isso porque Gutierrez, apontado como líder do grupo de executivos que operava as fraudes, era também o principal interlocutor dos acionistas, especialmente eSicupira, com quem conviveu nos 20 anos em que esteve no grupo Americanas.

Mas como Gutierrez nem sequer admitiu as fraudes, não se sabe ao certo se ele repassava algum tipo de informação sobre a maquiagem nos balanços aos integrantes do trio.

Outra pergunta que os investigadores estão tentando responder a partir da busca e da apreensão é se há mais pessoas envolvidas na fraude além das que já estão na mira e qual a extensão da participação de cada um.

Algumas pistas já surgiram durante as buscas, mas vai ser preciso esperar para checar os computadores, celulares e documentos apreendidos, além de aguardar para ver se algum dos alvos da operação fará delação premiada e entregará mais detalhes do esquema.

Aí será possível saber também o quanto o esquema era conhecido na empresa. Em seu depoimento, a delatora Flávia Carneiro contou que, ao chegar na Americanas, em 2007, para trabalhar justamente na área da auditoria, ela constatou que a falsificação nos dados do balanço já existia.

Flávia disse ainda que alertou seu chefe imediato, o diretor de relações com investidores Carlos Padilha, que teria afirmado que o problema seria resolvido em "doses homeopáticas". Como se viu, as fraudes não só pararam como passaram a crescer ano a ano, no que a própria Flávia chamou de "bola de neve".

A operação de quinta-feira destrinchou boa parte do que havia dentro dessa bola de neve, mas pelo jeito ainda tem bastante coisa para vir à tona.

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