Cultura
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Por — São Paulo

As caixas de entrada da tradutora Flora Thomson-DeVeaux estão transbordando de mensagens que começam com: “Não sei se você viu...”. Todas se referem a um vídeo, que viralizou no fim de semana, no qual a booktoker americana Courtney Henning Novak comentou “Memórias póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis, cuja tradução para a língua inglesa, publicada pela Penguin Classics, é assinada por Flora.

“Eu tenho três grandes problemas com esse livro. Primeiro, a minha edição só tem 300 páginas. Só faltam 100 páginas para eu ler, e se eu for muito cuidadosa elas vão durar até o fim de semana. E aí o quê? O que eu deveria fazer com o resto da minha vida?”, afirmou a influenciadora, que descreveu a tradução e Flora como “exquisite” (primorosa, extraordinária). “Eu não consigo nem imaginar o quão bom isso é em português”, acrescentou Courtney, que assumiu o projeto de ler uma obra clássica de cada país do mundo.

Desde segunda-feira (20), “The Posthumous Memoirs of Brás Cubas” ocupa o topo de lista de mais vendidos da Amazon na categoria ficção latino-americana e caribenha, à frente de “O amor nos tempos do cólera”, do colombiano Gabriel García Márquez e dos contos do argentino Jorge Luis Borges (e de “O idiota”, do russo Dostoiévski, que entrou de penetra no ranking latino).

Flora, que é americana, tem 32 anos e vive no Rio, comemorou o sucesso de Machado. Ela até mandou o vídeo para suas irmãs mais novas, de 17 anos, para ostentar seu sucesso no TikTok, a rede social preferida da Geração Z (nascidos entre 1997 e 2010).

— Esse é o entusiasmo que a gente sempre almeja provocar quando traduz uma obra — diz Flora, referindo-se aos comentários animados da booktoker. — Li “Brás Cubas” quando estava aprendendo português e foi um arrebatamento, uma reação espontânea diante de algo excepcional, que não precisava do rótulo “grande obra literária” para ser reconhecida como uma. Minha reação foi algo como: “Caralho! Que coisa maneira!”. É uma imensa alegria que minha tradução esteja conseguindo transmitir o que eu senti lendo.

“Brás Cubas” foi o primeiro romance de Machado que Flora leu, ainda na faculdade.

— O que me encanta em “Brás Cubas” é que, ainda hoje, no ano da graça de 2024, ele continua quebrando regras. Você lê e fica: “Ué, mas pode isso?”. Machado já chega rasgando o regulamento. O narrador morreu, mas ninguém te conta como ele consegue escrever o livro. Parece que Machado está te vendo, prevendo todos os seus incômodos e objeções e dizendo que não está nem aí. É libertador — afirma Flora, que é diretora de pesquisa da Rádio Novelo, plataforma de podcasts jornalísticos. — Na faculdade, eu tinha a impressão de que líamos as obras como se dissecássemos corpos que não podiam mais reagir. Mas com Machado não é assim, ele ainda parece vivo.

Flora traduziu “Brás Cubas” durante seu doutorado, na Universidade Brown. Ela pesquisou a história da recepção do livro nos Estados Unidos, revisitou as traduções já existentes em língua inglesa e dialogou com a crítica machadiana. Publicada em 2020, sua tradução foi saudada pela imprensa americana e reavivou a antiga esperança de que o brasileiro enfim tenha o reconhecimento que merece no exterior.

A tradutora afirma que o principal desafio enfreando ao fazer Machado falar inglês foi manter sua sutileza característica e, ao mesmo tempo, torná-lo inteligível ao público americano. Se explicasse demais, descaracterizaria a prosa do autor. Se explicasse de menos, o leitor talvez não se atentasse para os temas implícitos na obra, como o cotidiano da escravidão urbana no Brasil. Por isso, Flora optou por uma edição anotada, que contextualiza a realidade de onde brotou Brás Cubas.

Para inglês ler

Quanto à internacionalização de Machado, a tradutora se mantém “cautelosa”. Ela lembra que durante o século XX, várias vezes repetiu-se a profecia de que o escritor brasileiro estava prestes a ganhar o mundo.

— Prefiro não cantar vitória. Sou botafoguense e sei como isso é perigoso — explica. — Mas o cânone não se faz do dia para a noite e eu vejo pequenos sinais de que Machado está ganhando terreno. Entrou já para o currículo da Universidade Columbia, e não como uma nota de rodapé na literatura mundial, mas como um autor que dialoga com a tradição. Vários exemplos anedóticos mostram que Machado está mais na boca das pessoas, está mais pop, sendo resenhado de forma descontraída, o que possibilita mais encontros despretensiosos com novos leitores.

Flora também verteu outro clássico da literatura brasileira para o inglês: “O turista aprendiz”, de Mário de Andrade. Caso a booktoker que se encantou com “Brás Cubas” queira ler mais literatura brasileira, ela tem algumas dicas:

— Alguns livros brasileiros estão tendo uma segunda chance em língua inglesa, como “Macunaíma” (de Mário de Andrade), traduzido agora por Katrina Dodson (tradutora dos contos de Clarice Lispector). Espero que quando Courtney terminar seu projeto de ler um livro de cada país, já tenha saído nos EUA a nova edição de “Grande sertão: veredas” (de Guimarães Rosa), traduzida por Alison Entrekin. Felizmente, há muitas editoras apostando na literatura brasileira.

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