Malu Gaspar
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Malu Gaspar

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O pagamento dos dividendos extraordinários em 2023 não foi o único tema relacionado à Petrobras que os ministros Rui Costa (Casa Civil), Alexandre Silveira (Minas e Energia) e Fernando Haddad (Fazenda) discutiram na última quarta-feira (3), no Palácio do Planalto. Outro assunto inevitável foi a situação do CEO da companhia, Jean Paul Prates, que está sob intensa fritura.

Quem soube das conversas teve a certeza de que ele não dura muito no comando da petroleira, e não apenas porque Lula já colocou o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, no aquecimento.

Em outros momentos de crise o próprio Mercadante e outros petistas graduados, como a secretária-executiva da Casa Civil, Miriam Belchior, chegaram a ser cotados para substituir Prates, mas nada aconteceu.

A conclusão de que desta vez a coisa é mais séria vem dos sinais de recuo que os principais pontos de sustentação do CEO da Petrobras têm dado nos bastidores. Um desses aliados de Prates que já começou a soltar sua mão é o ministro Fernando Haddad. O outro é a Federação Única dos Petroleiros (FUP), comandada por Deyvid Bacelar, que tem hoje bastante influência na companhia.

Haddad, que sempre funcionou como escudo para Prates na guerra interna do governo em torno dos rumos da companhia, deu na própria quarta-feira alguns sinais de que não pretende mais brigar pela permanência do aliado.

Diante de Silveira e Costa, ele disse que gosta do presidente da Petrobras, tem muito respeito por ele e tentou muito ajudá-lo, mas afirmou que ele tem um temperamento difícil e não consegue dialogar.

Um dos exemplos dessa falta de traquejo, de acordo com os ministros, foi o entrevero entre Prates e o presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas, a respeito de um pedido de autorização dos técnicos da corte contábil para investigar a possibilidade de fraude no contrato da Petrobras com a fábrica de fertilizantes Unigel.

Em uma dura troca de mensagens com letras em caixa alta, o CEO da Petrobras cobrou Dantas pela publicação de uma matéria sobre o caso no blog na última segunda-feira (1). O presidente do TCU se queixou ao Palácio do Planalto.

Só nesta quinta-feira, três auxiliares de Lula e um aliado de Prates me disseram avaliar que ele não tem jogo de cintura e foi dinamitando pontes por não entender que o cargo de dirigente da Petrobras não é apenas técnico mas também político.

Como informou o colunista Lauro Jardim, a própria informação de que Prates pediu a Lula uma reunião “definitiva” para tratar de sua fritura no cargo , publicada pela colunista da Folha Monica Bergamo, foi encarada no Planalto como uma tentativa do CEO da Petrobras de emparedar Lula, o que não costuma funcionar muito bem com o presidente da República.

O curioso é que esses mesmos interlocutores não fazem o mesmo discurso em relação a Alexandre Silveira, que numa entrevista à Folha de S. Paulo publicada também na quarta-feira admitiu ter divergências com o presidente da Petrobras e fez ironias justamente quanto ao seu temperamento.

"Hoje, nesse momento, acho que eu posso ter um pouquinho de tranquilidade e ele pode ter também. Amanhã de manhã pode ser que… Tomara que o humor dele amanheça bem", declarou Silveira à Folha.

Outro apoio importante que está se distanciando de Prates é o presidente da Federação Única dos Petroleiros, Deyvid Bacellar, que sempre o sustentou publicamente e indicou vários aliados para cargos de confiança na companhia.

A FUP, que trabalhou ativamente na defesa de Lula durante o período em que ficou preso e na campanha eleitoral de 2022, tem voz no PT e é próxima de Aloizio Mercadante.

Nos bastidores, sindicalistas que vêm se queixando internamente do ritmo dos investimentos em refinarias e dos projetos de transição energética – considerado muito lento – já começam a se animar com a eventual nomeação do presidente do BNDES para o comando da Petrobras.

Para eles, além da vantagem de ser próximo a Lula, Mercadante ainda teria o plus de não ser diretamente ligado a Silveira, com quem o sindicalismo petroleiro não tem boa relação.

Ontem, diante da discussão em torno da iminente saída de Prates da presidência, a entidade emitiu uma nota pública em que condena o "espancamento público do presidente da Petrobras”, mas afirma reconhecer que "a decisão final será do presidente Lula".

A nota foi entendida pelo PT e o entorno de Lula como um sinal de que, se depender do sindicalismo, a transição entre Prates e Mercadante será absolutamente tranquila.

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