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“Sou uma carioca de 53 anos e, há 13, decidi congelar meus óvulos. Um ano depois, parti para a maternidade independente e, hoje, sou mãe da Catharina, de 10 anos. Trabalhei por 30 anos no mundo corporativo, com grandes empresas, e a rotina me consumia muito, mas estava tudo bem. Eu atingi um cargo legal, viajava, curtia, namorava, porém, quanto mais crescia na carreira, mais deixava de lado a minha vida pessoal.

Quando mais nova, eu tinha um planejamento: queria me casar aos 27, ter o primeiro filho aos 30 e o segundo aos 33 — nada disso aconteceu. O desejo de ser mãe sempre foi muito latente dentro de mim, mas a vida foi me levando. Até que em um domingo, aos 38 anos, estava sozinha na sala da minha casa e me perguntei ‘O que vai ser da minha vida daqui dez anos?’ e a perspectiva começou a me incomodar. Não consegui achar um namorado, nada nem ninguém me satisfaziam completamente para decidir formar a minha família. Eu era tão competente profissionalmente falando, será que eu era incompetente no amor?

Marquei uma consulta com o meu ginecologista e ouvi falar pela primeira vez sobre fertilidade. Por conta da minha idade, ele me indicou um especialista em reprodução assistida e comecei a avaliar a possibilidade de fazer uma ‘produção independente’. Eu acho esse termo horroroso porque soa como uma coisa mecânica, industrial, sem sentimento e quando eu falo de maternidade, também falo sobre amor e uma mãe independente lutou e escolheu maternar.

Quando fui apresentada à maternidade independente, consegui enxergar um mundo de possibilidades. Entendi que não era egoísta por não dar um pai para o meu futuro filho, porque a relação e a conexão que teríamos seria muito forte e, eu vivi isso com a Catharina. Tudo o que eu faço é por ela e pela nossa família. Existe uma vida antes da minha filha e uma vida depois, ela mudou tudo.

O processo da Fertilização In Vitro gera ansiedade, frustração e foi bem introspectivo, no meu caso, mas nunca passou pela minha cabeça não gestar meu bebê. Com o aval dos médicos e após três tentativas de FIV, engravidei aos 42 anos e tive a Catharina aos 43. Para mim, não poderia ser de outra forma.

Acredito que existam três pilares importantíssimos para se tornar uma mãe independente: rede de apoio, emocional estabilizado e financeiro adequado. Tive minha filha no auge da minha carreira corporativa, em 2013 e segui como executiva até 2020. Até que optei por empreender e me apropriar desta narrativa.

Há 12 anos atrás existia um desconhecimento generalizado e até um certo preconceito com a maternidade independente. Doador de esperma, engravidar sem parceiro, as pessoas não sabiam que existia esse universo. Depois que minha filha nasceu, decidi criar um site, escrever um livro contando a minha experiência e agora estou lançando um financiamento coletivo para publicar o livro infantil ‘Sendo um sonho... Acontece!’, que fiz para explicar a origem da minha filha e desejo que seja uma ferramenta para outras mães como eu.

Com três anos, a Catharina chegou para mim e me perguntou ‘mamãe, cadê meu papai?’ e eu expliquei que existem famílias de diferentes configurações. Com cinco, a escolinha me ligou dizendo que ela contou aos amiguinhos que o pai tinha morrido e aquilo me incomodou, porque essa não é a história real dela. É um processo terapêutico, mas muito necessário, eu falo apenas o necessário, não enrolo para não dificultar o entendimento, mas falo a verdade.

Não sei como teria sido se eu tivesse me tornado mãe aos 30, acho que poderia ter mais energia, mas isso é subliminar também. Quando somos mães, nosso foco muda, você veste o chapéu. Lá atrás a Bettina estava querendo tanto a independência financeira, a carreira, que não tinha como parar tudo.

Eu banquei minha história. Nada que me falassem ia mudar o que eu estava sentindo, estava muito certa de que era aquilo que eu queria, ter a Catharina. Quero que minha filha esteja inserida em uma sociedade mais inclusiva e diversa, que o fato dela não ter pai não a exclua de se sentir confortável em qualquer ambiente que ela conviva"

*Bettina Boklis em depoimento à jornalista Carolina Merino.

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