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Por Depoimento A Nathalia Fuzaro


Eu sempre soube o que queria! Sou a Andressa Cavalari Machry, mas pode me chamar de Andressinha! Desde criança gosto de futebol e sei que seria alguém no esporte. Hoje, com 24 anos, já jogo há dez pela seleção brasileira (sim, eu comecei a trabalhar aos 14), tenho títulos de Copa América e Sul-Americano, participei da Copa do Mundo de 2015 e das Olimpíadas de 2016... Mas quero uma taça, né? E não é só por mim ou pelo futebol feminino, mas por todas as mulheres que estão buscando um espaço hoje na sociedade.

Andressinha usa jaqueta, Nike; top, Coven (Foto: Foto: Obvious Agency) — Foto: Glamour
Andressinha usa jaqueta, Nike; top, Coven (Foto: Foto: Obvious Agency) — Foto: Glamour

Sem preconceito

Eu tive sorte de ter o apoio total da minha família nas minhas escolhas. Meu pai, que também queria ser jogador, me levava para treinar com ele ainda pequena e, quando entrei no time de Pelotas, no Rio Grande do Sul, dirigia mais de 1.200 km, da minha cidade até lá, todos os fins de semana para eu jogar. Minha mãe também me ensinou muito, como que é preciso ter disciplina, uma das lições mais importantes que aprendi na vida. Nasci e cresci em Roque Gonzales, no interior do RS, e vivia na rua jogando bola com os meninos... Na escola, nosso time feminino começou a se destacar. Muitas vezes, voltei chorando para casa porque me chamavam de “menina-macho” e não entendia por que eu não podia jogar futebol. Com o tempo, entendi que eram pessoas com pensamento pequeno e antigo, e não ouvi ou nem liguei mais. Mas fico pensando nas meninas de hoje que, em pleno 2019, ainda sofrem machismo e preconceito.

Tive sorte também porque, além de ter sido acolhida pelos meninos com quem jogava, consegui formar um time de garotas na escola. Viajávamos para competir e elas adoravam; aí começamos a ganhar e a cidade inteira se empolgou. Aqui no Brasil infelizmente é assim, né? Primeiro você tem que conquistar algo para depois investirem em você. Se você é mulher, então... Até hoje, sinto que tenho que provar mais. Tenho 1,61m e, não sei por que, parece que não passo a imagem de jogadora de futebol. Não entendo, mas cada um tem seu estilo, eu sou assim e me sinto bem. Não vou mudar por causa de ninguém.

Andressinha usa colete, Printing; top, Olympiah; shorts, meias e tênis, tudo Nike(Foto: Foto: Obvious Agency) — Foto: Glamour
Andressinha usa colete, Printing; top, Olympiah; shorts, meias e tênis, tudo Nike(Foto: Foto: Obvious Agency) — Foto: Glamour

Quem vê o close não vê o corre

Cada coisa, né? As pessoas acham que é fácil, que a gente ganha muito dinheiro e que é só jogar futebol. Nós, jogadoras, em geral moramos longe de onde treinamos e passamos muito tempo sozinhas em hotéis. Treino todos os dias e só tenho folga 48h após um jogo. Ah, e concilio três “empregos”! Além de jogar pela seleção brasileira, estou no Iranduba (de Manaus) e no Portland Thorns FC (de Portland, nos EUA). É que a temporada lá fora dura só 7 meses e, querendo ou não, isso valoriza o meu passe aqui.

Uma pena que ainda tenhamos diferenças exorbitantes entre o futebol masculino e o feminino. E não só de salário, mas de estrutura e até torcida! Essa Copa do Mundo de Futebol Feminino já está sendo completamente diferente porque é a primeira vez que vão transmitir nos canais de TV daqui e os olhos estão todos voltados para nós. Dá para sentir mais apoio, sabe? Nós, da seleção feminina, não estamos vindo de um momento muito bom, pois algumas derrotas abalam mesmo a confiança do time. É normal, é do futebol! Mas não temos tempo para lamentar, o Mundial está aí e temos que levantar a cabeça, deixar o que rolou para trás, olhar para a frente e pensar em tudo o que podemos fazer de bom. É uma competição muito curta, o primeiro degrau é classificar e sabemos que serão três jogos muito difíceis: Jamaica, Austrália e Itália. Na última Copa, as australianas nos tiraram da competição com um único gol e nos provocaram. No ano seguinte, nas Olimpíadas, demos o troco, mas ainda estamos com elas engasgadas, sabe? [Risos]

Andressinha usa casaco, Coven; top, calça, meias e tênis tudo Nike(Foto: Foto: Obvious Agency) — Foto: Glamour
Andressinha usa casaco, Coven; top, calça, meias e tênis tudo Nike(Foto: Foto: Obvious Agency) — Foto: Glamour

Se ela ganha, eu ganho

Marta sempre fala que trocaria todas as suas bolas de ouro por uma taça, para você ter noção da importância deste título! E ambas queremos a mesma coisa. Quando eu era mais nova, ouvia muito “a Andressinha é a promessa da seleção” e comparações com ela. Só que sempre fui muito consciente, e a verdade é que não vai existir outra Marta. O que ela fez e faz é surreal, é um ponto fora da curva. Eu sou a Andressinha e quero fazer a minha história, sem contar que as minhas características não têm nada a ver com as dela. Marta é uma jogadora rápida, agressiva, que faz gols. Eu sou mais do tipo que distribui e acaba pensando mais o jogo, são habilidades bem opostas. Já tive e ainda tenho o prazer de jogar com ela, uma pessoa super legal e com quem tento aprender o máximo possível. Tem que ter sororidade, né? Se ela ganhar eu ganho também, a vitória é coletiva.

Agora não conseguiremos viver a equidade que tanto sonhamos, mas só de conquistarmos o respeito já é alguma coisa. Eu e as outras meninas da seleção estamos brigando para que as condições das próximas gerações de jogadoras sejam melhores, assim como as que nos antecederam também lutaram. E esse é o caminho: ter atitude, brigar pelo que você quer, porque ficar quieto e sentado não te leva a lugar nenhum.

Fotos: Obvious Agency, Coordenação de moda: Fabiana Leite. Styling: Raquel Lionel. Stylist Assistente: Matheus Pallos. Assistente de moda: Carol Castro. Beleza: Jake Falchi.

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