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Por Amanda Foschini


Como lidar com a depressão? Nós ajudamos! (Foto: Getty Images) — Foto: Glamour
Como lidar com a depressão? Nós ajudamos! (Foto: Getty Images) — Foto: Glamour

Eu sou amiga da minha depressão e a gente quase sempre se entende. Tem dias que ela faz a louca e me carrega para uns rolês muito estranhos onde eu nem sei quem sou. Tem dias que esses rolês duram semanas e eu começo a duvidar de mim mesma. Em outros, eu pego a primeira saída à esquerda e volto a ser o meu alegremente reclamão e azedamente feliz eu. A série "Depressando Com Amanda" já está na 4ª temporada – Oi, Netflix, quer tc? – e agora já entendi que a depressão é tipo boy lixo que não pode te ver feliz que já vem com um "oi, sumida" para o teu lado.

Na primeira temporada, eu tinha 22 anos e era massacrada em um emprego terrível. Não fazia ideia do que era a depressão - imaginava que o depressivo só chorava e não saía da cama nem para tomar banho -, até que ela começou a corroer quem eu era: minhas reclamações passaram a durar dias, eu não sabia segurar meu choro, fiquei agressiva e paralizada. Era impossível romper esse ciclo por mais que tivesse o apoio de todos. Meu namorado na época, que era formado em psicologia, me deu a letra e me ajudou a encontrar um psiquiatra. Comecei um tratamento com ansiolíticos e, duas semanas depois, eu era a Super Xuxa Contra o Baixo-Astral com um emprego novo e muito mais segurança em mim mesma.

Amanda Foschini (Foto: Divulgação) — Foto: Glamour
Amanda Foschini (Foto: Divulgação) — Foto: Glamour

Esse mesmo namorado amigão psicólogo voltou na 2ª temporada para me dar um pé na bunda que daria inveja na Adele. Depois de 6 anos e um noivado fail, ele me deixava porque tinha conhecido outra (isso ele não contou, mas a internet, sim). Eu aguentei o tranco à base de muito vinho, Amy Winehouse e casa escura. Um ano depois do tsunami amoroso, a depressão veio mansa me impedir de sentir qualquer coisa: nem dor, nem amor, nem tesão, nem ódio. Se o Cauã Reymond me chamasse para sair, eu diria “vou ver aqui e qualquer coisa eu te ligo”. Se eu ganhasse na Mega-Sena, acho que gastaria tudo em pão de queijo e livro. A depressão virou uma ostra e me trancou dentro dela. Dessa vez, mais sabidona dos paranauê psicológicos, eu já estava em um processo terapêutico – que segue até hoje e não para, não para, não para não, vai até o chão! – e pedi a ajuda dos medicamentos. Duas semanas depois, eu era a Dora Exploradora e tinha decido largar tudo e me mudar para Barcelona.

"Hoje vejo que o pânico foi meu corpo e meu espírito gritando por mais amor e atenção. Deixei tudo de lado e passei a me curar com carinho e cuidado, meus e dos outros." - Amanda Foschini

A terceira temporada estreou em 2017, quase cinco anos depois da minha chegada na Espanha. O fim de uma relação tóxica, vários cornos e o desemprego me passaram uma rasteira. Mesmo seguindo forte na santa terapia de toda quarta-feira às 19h, eu não conseguia sair do buraco e nem encontrava o interruptor da luz. A depressão me afastou do mundo e eu me senti abandonada, mesmo com amigos incríveis sempre ao lado. Eu dizia que o universo tinha perdido o meu arquivo e por isso minha história não evoluía. Não entendia como tinha ido parar ali e não me reconhecia nas minhas atitudes. Eu mesma sentia pena de mim! De tanto pensar nisso, meu corpo começou a adoecer e tive uma crise de cefaleia crônica tensional, uma dor de cabeça que não passa nunca e durou mais de 30 dias. Tentei resistir ao remédio e investi em tratamentos alternativos: reiki, acupuntura, meditação e yoga. Mais um pouco e eu virava o Buda de All Star e batom vermelho.

Esse combo segue fazendo parte da minha vida como tratamento de contenção. Eles são a cerca de arame farpado que não deixa a bad vibe invadir. Só que naquele momento eu era a bad vibe e, com certa resistência, voltei ao ansiolítico. Depois de uma semana, a cabeça não aguentou e eu tive uma crise de pânico. A primeira e única. Estava sozinha em casa e meu corpo deu pane. Pensei que estava ficando louca e que esses 10 minutos durariam para sempre. Hoje vejo que o pânico foi meu corpo e meu espírito gritando por mais amor e atenção. Deixei tudo de lado e passei a me curar com carinho e cuidado, meus e dos outros.

A quarta temporada está sendo gravada. O enredo ainda está em sigilo mas vai ter culpa, sensação de falha, comparação com os outros, muita lágrima e "eles devem me achar uma mala por ser assim". Mas também vai trazer o que venho aprendendo com a depressão ioiô depois de tantas temporadas: abra a porta, passe um café e puxe uma cadeira. A depressão quer te contar que talvez existam partes suas que precisam ser escutadas e desejos que precisam ser vividos. Hoje entendo que cada vez que me afasto de mim, a depressão vem bater na minha porta para reclamar. A cada momento que me permito ser mais eu e vivo de acordo com isso, ela abre caminho para o meu sorriso.

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