Luiza
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Por Por Luiza Brasil (@mequetrefismos); Ilustração Domitila de Paulo


Nos últimos tempos, nos vimos estarrecidas com o caso Mari Ferrer. A influenciadora e promoter afirma ter sido dopada e estuprada por André Aranha em dezembro de 2018. A sentença acabou com o reú do crime absolvido por falta de provas (além da palavra da vítima) de que ele teve a intenção de estuprá-la, o que foi chamado pela imprensa de estupro culposo. Fomos para as nossas redes, esbravejamos, ganhamos as ruas de algumas cidades e... Será que depois dessas comoções tudo volta ao indesejado “normal” do que é ser mulher no Brasil?

“O ‘meu corpo, minhas regras’ precisa ser mais do que corpos nus padronizados performando liberdade” (Foto: Arte Domitila de Paulo) — Foto: Glamour
“O ‘meu corpo, minhas regras’ precisa ser mais do que corpos nus padronizados performando liberdade” (Foto: Arte Domitila de Paulo) — Foto: Glamour

Vivemos no país em que, depois da pandemia e seus desdobramentos como o isolamento social, a cada nove horas algumas de nós perdem suas vidas por causa do feminicídio. Ainda segundo o monitoramento Um Vírus e Duas Guerras, é impensável não cruzar os índices de violência doméstica sem analisar os recortes raciais e sociais. Em estados como Minas Gerais, 61% das vítimas são negras e 70% não concluíram o Ensino Médio. A nossa vulnerabilidade nesses casos vai além das mensagens de autoestima do mundo digital. Está na falta de informação e de liberdade, que precisam ser combatidas com a conscientização dos nossos direitos. Obtivemos conquistas? Sem dúvidas.

Entendemos cada vez mais a importância de denunciar crimes desta esfera, e isso é louvável. Mas como a justiça pondera o valor do depoimento da vítima de um crime motivado por questões de gênero, se o próprio sistema que visa protegê-la acaba por acusá-la?

O “meu corpo, minhas regras” precisa ser mais do que práticas nos feeds de Instagram com frases de impacto, corpos nus e padronizados performando liberdade, porém aprisionados em conceitos esvaziados sobre o mesmo. Ou até mesmo os rituais do “sagrado feminino seletivo”, em que muitas vezes sequestram a ancestralidade dos povos originários, demarcam este espaço como uma grande novidade do contemporâneo e pouco dialogam com a vivência de mulheres periféricas ou de gerações anteriores. Nosso corpo precisa, sim, ser protegido pelo Estado.

Para os tempos que vêm por aí, temos um desafio: mais do que repercussão das importantes bandeiras do autoconhecimento, precisamos trazer luz à importância que o maior autocuidado que podemos ter com nós mesmas é assumirmos o compromisso com a luta por direitos para que as mais diversas realidadesdo feminino consigam se alinhar e provar o gosto doce e saboroso da conquista.

@mequetrefismos Luiza Brasil é jornalista, fashionista, crespa assumida e ativista racial. Aqui, na coluna Caixa Preta, compartilhará insights sobre moda, comportamento y otras cositas más... (Foto: Arquivo Pessoal) — Foto: Glamour
@mequetrefismos Luiza Brasil é jornalista, fashionista, crespa assumida e ativista racial. Aqui, na coluna Caixa Preta, compartilhará insights sobre moda, comportamento y otras cositas más... (Foto: Arquivo Pessoal) — Foto: Glamour
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