![Você não está só (Foto: Arte: Iago Francisco) — Foto: Glamour](https://cdn.statically.io/img/s2-glamour.glbimg.com/B0G3f0p9lweDWhyl7gX309vxPgs=/0x0:607x795/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_ba3db981e6d14e54bb84be31c923b00c/internal_photos/bs/2021/p/a/zCMme5QQWe5N4v9eZudQ/2018-06-28-coluna-luiza.jpg)
Era uma vez uma Rainha Negra contemporânea. Estudada, culta, trabalhadora e linda. Carregava consigo atributos como segurança, inteligência, bom humor e autoestima. Orgulho da família, querida entre os amigos e destaque em sua profissão. Agora a pergunta que não quer calar: e nos relacionamentos? Ao lado de um mulherão desses, bicho, só pode estar a-que-le príncipe (ou outra princesa) encantadx. Respira, pausa dramática, muita calma nessa hora e senta, que lá vem história...
+ Está na hora de discutirmos os preconceitos em torno do cabelo afro
+ Uma reflexão sobre o espaço da mulher, principalmente negra, na sociedade
+ Chega de nos reprimirmos e criarmos meninas recatadas e do lar
Se esse conto de fato existisse, sem dúvidas se chamaria Solidão da Mulher Negra. Essa é uma pauta que acomete muitas das minhas irmãs negras e, claro, não me excluo dessa. Se ser uma mulher livre, interessante, bem-sucedida e dona do próprio destino ainda é um tabu para a sociedade, para nós, pretas, isso recai sobre um não lugar.
Quantas de nós não sofremos com a hipersexualização? Seja do gringo, que nos enxerga como a mulata do samba, seja do homem branco, que muitas vezes nos
entende como “a mulher para transar, mas não casar”. E nem pense que somos poupadas quando nos envolvemos com parceiros negros! É comum sermos preteridas,
e a prova disso vemos na revista de fofoca e nos sites de celebridades: quando eles atingem um status ou uma posição de destaque, em grande parte dos casos somos substituídas pelas não negras (não estamos falando de competição entre mulheres, ok?). Nas relações homoafetivas? Esse interesse de nós por nós mesmas ainda não é um sentimento que fomos estimuladas a viver – algo que se correlaciona demais com a nossa imagem, sempre atrelada e reduzida a servir aos desejos sexuais masculinos.
Se você ainda é da turma que acredita que “amor não vê cor”, me desculpe, mas ele vê, sim. E isso é histórico! A teórica e ativista social americana bell hooks (com letras minúsculas mesmo, é o pseudônimo de Gloria Jean Watkins) retrata nossa realidade em torno do afeto com muita propriedade e há tempos alertava sobre quão problemática é a nossa vivência quando falamos desse preterimento. “Nossas dificuldades coletivas com a arte e o ato de amar começaram a partir do contexto escravocrata. Isso não deveria nos surpreender, já que nossos ancestrais testemunharam seus filhos sendo vendidos; seus amantes, companheiros, amigos apanhando sem razão. Pessoas que viveram em extrema pobreza e foram obrigadas a se separar de suas famílias e comunidades não poderiam ter saído desse contexto entendendo essa coisa que a gente chama de amor. Elas sabiam, por experiência própria, que na condição de escravas seria difícil experimentar ou manter uma relação de amor”, escreveu bell no artigo Vivendo de Amor.
+ Camila Coutinho foi a uma palestra e decifrou a paquera virtual em 7 pontos
+ Paquera: seria o Instagram o novo Tinder?
+ Violência doméstica: como superar o trauma e recuperar a autoestima
Fica evidente, então, porque somos figuras em baixa no mercado matrimonial, o nosso número de matches ser drasticamente menor se comparado ao de nossas amigas brancas nos aplicativos de paquera, e nos permitirmos menos estar em configurações de relacionamentos modernos como o poliamor e o trisal. Ao longo das nossas vidas, nos acostumamos a ver mulheres como nossas mães, tias e avós criando seus filhos sozinhas ou, ainda, se sujeitando a relacionamentos abusivos.
Se, por um lado, o tempo sempre nos apontou que afetividade era um artigo de luxo, por outro, nossa capacidade de reinvenção e transformação nos indica que a cura dessa nossa tensão está no resgate do amor-próprio. E a melhor terapia para isso? Massagear o ego, sem culpas!
Enquanto nossa beleza é encarada como exótica, na mídia somos retratadas apenas como as coadjuvantes das narrativas, e no campo intelectual somos consideradas “só corpo, sem mente”, como nas palavras de bell, que exista muito autoamor e autocuidado para recomeçar. Ah, e nunca se esqueça: você é linda, não está sozinha!
Curte o conteúdo da Glamour? Ele está no nosso app e agora também no Globo Mais, o app que é muito mais do que uma banca. Nele você tem acesso a um conteúdo exclusivo em tempo real e às edições das melhores publicações do Brasil. Cadastre-se agora e experimente 30 dias grátis.