![A luta continua (Foto: Arte: Iago Francisco) — Foto: Glamour](https://cdn.statically.io/img/s2-glamour.glbimg.com/7u4LMWvHvZGV83A5NA52JnQEiEE=/0x0:600x900/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_ba3db981e6d14e54bb84be31c923b00c/internal_photos/bs/2021/k/S/opxH4jQWmBVcspGBnu2g/2018-04-27-a-luta-continua.jpg)
"Há que endurecer-se, mas sem jamais perder a ternura”. Cresci ouvindo a suposta frase de Che Guevara da boca de Leci Brasil, uma mulher negra e psicopedagoga. É, mãe, ter esse lema em mente ao longo da minha trajetória tem me ajudado bastante a construir a mulher forte e “empoderada” (sim, com aspas mesmo!) que sou. Mas confesso que, com os últimos acontecimentos, não perder a ternura e não cobrir o corpo livre com pesadas armaduras tem sido um baita desafio para nós, mulheres – principalmente as negras. E não é só achismo meu, tá?
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Estudamos e trabalhamos cada vez mais, porém chegamos a ganhar apenas 40% da remuneração de um homem branco, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Outros números, disponibilizados pela Ancine (Agência Nacional de Cinema), mostram que das 219 produções audiovisuais de maior
bilheteria realizadas entre 1995 e 2016 no País, nenhuma conta com uma mulher negra na direção ou no roteiro. E tem mais: de acordo com um relatório do Ministério da Saúde, quase 63% dos óbitos por complicações na gravidez são de mulheres negras, o que revela uma grande desigualdade de acesso à assistência médica. Sem esquecermos, claro, os índices alarmantes de violência doméstica e feminicídio, em que infelizmente somos maioria.
Eu poderia levantar mais uma infinidade de estatísticas, mas prefiro falar sobre o quanto ser forte a toda hora, por um lado, é necessário, nos engrandece e nos traz cada vez mais senso de empatia e ocupação de espaços, mas, por outro, afeta também a nossa relação com o mundo e o lado emocional. Em nossos relacionamentos, muitas vezes não somos compreendidas pelo fato de nos dedicarmos tanto aos nossos projetos e trabalhos. E aí, onde era para ser um ambiente de acolhimento e afetividade, vira campo de competição e insegurança – principalmente se o parceiro for do sexo masculino.
Somos encaradas como exceção, o que não é motivo para orgulho: nos questionam a todo momento sobre a nossa capacidade e detonam a nossa autoestima, como se não merecêssemos as nossas conquistas. Mas não podemos esmorecer, minhas caras!
![Angela Davis (Foto: Getty Images) — Foto: Glamour](https://cdn.statically.io/img/s2-glamour.glbimg.com/APj1KcjB4swz0Gr0i0c3azUiJCg=/0x0:600x900/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_ba3db981e6d14e54bb84be31c923b00c/internal_photos/bs/2021/v/Z/HaDYM2SY6VuHkUSrSIqA/2018-04-27-gettyimages-52604010.jpg)
Certamente, diante disso tudo, a última coisa que vou te aconselhar é que seja ainda mais forte. Apesar de não esquecer da nossa história – o matriarcado africano é antagônico ao patriarcado europeu e sempre fomos fortaleza e resistência, desde os nossos ancestrais –, posso mandar a real, bater um papo de mulher para mulher? Temos que priorizar cada vez mais o cuidado com a nossa própria saúde mental. Não é frescura! Nossa geração tem feito com que a luta por igualdade e representatividade, idealizadas por uma legião de mulheres negras como Angela Davis, Elza Soares, Marielle Franco, Maya Angelou entre muitas outras, não morra na praia. Apoio psicológico para lidar com as nossas angústias, dificuldades e frustrações não é um luxo. Permita-se a autocompaixão e a leveza consigo mesma.
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Talvez você, pessoa não negra, me pergunte: e eu, como posso contribuir para essa transformação? Antes de tudo, questione a representatividade nos ambientes em que convive, seja ele profissional ou pessoal. Leia mais Chimamanda Ngozi Adichie e Carolina Maria de Jesus. Prestigie o conhecimento de intelectuais negras como Dríade Aguiar, Giovana Xavier e Stephanie Ribeiro. Saiba mais sobre as produções audiovisuais de cineastas como Sabrina Fidalgo e Yasmin Thayná. Entenda a complexidade dos processos artísticos de talentos multidisciplinares com Igi Ayedun e Zezé Motta. Valorize a importância de mulheres como Talíria Petrone e Benedita da Silva para a política nacional. Descentralize suas referências. Entenda a representatividade como um rico meio de troca de informação e conhecimento. Afinal, somos guerreiras, mas não queremos passar para as próximas gerações o bastão de sobreviventes.
Aprendi com Na Minha Pele, livro de Lázaro Ramos, que mais do que viver uma vida inteira de resistência, o que mais posso desejar para mim e minhas irmãs negras é
que tenhamos uma trajetória de plenitude e poder.
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