Gui
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Por Gui Takahashi (@guitakahashi)

Jornalista e criadora de conteúdo digital. Gosta de refletir e falar sobre beleza, comportamento e sociedade.

Cada vez que a Lina tinha seus pronomes femininos desrespeitados no Big Brother Brasil 22, aquilo parecia que doía em mim e pegava como uma bolada espalmada no peito. Afinal, eu sei como é ter minha identidade de gênero atropelada pelo descuido, descaso, desrespeito e transfobia dos outros.

Como pode alguém que tem tatuado na testa seu pronome “ela” ser desrespeitada tantas vezes? E olha que ainda estamos falando da Linn da Quebrada, que na minha opinião, tem bastante passabilidade (termo que usamos para indicar quando uma pessoa trans se parece com uma pessoa cis em seu gênero). Senti em mim as lágrimas dela quando, pela enésima vez, a trataram no masculino durante uma festa. Nem sempre o nosso choro é pontual, às vezes, a gente deságua pelo cansaço, pelo desrespeito constante e reiterado.

Tenho visto várias pessoas usando sua bio nas redes sociais para deixar mais clara a identidade de gênero e, assim, evitar situações constrangedoras. Você já deve ter visto perfis que colocam os pronomes similares a “ela/dela”, “ele/dele”, “elu/delu” pra direcionar um contato adequado e garantir uma experiência melhor. Acho importante tornar nossos pronomes claros até como uma reafirmação do gênero e pra que, quando formos desrespeitadas, não haja margem para as justificativas do “não sabia”. Mesmo pessoas cis aliadas podem colocar essas informações em seus perfis, porque o gênero não deveria ser algo imposto ou definido pelos outros e, sim, por nós mesmos independente de sermos trans ou cis.

Também é importante, porque suposições sobre o corpo e da identidade alheia é perigoso. Nada garante que um cabelo curto seja fator decisivo de masculinidade ou que a maquiagem seria sinal indubitável de feminilidade, e daí por diante.

O gênero é autodeclaratório e, assim, o melhor é perguntarmos para as pessoas quais os pronomes delas

Tenho uma amiga jornalista morando na Alemanha e que me disse que essa prática já é muito comum por lá. É isso mesmo: não é constrangedor (ou não deveria ser) perguntar o gênero ou os pronomes de alguém. Melhor que ser violenta e desrespeitosa, não é mesmo?

Sempre me pego imaginando se países com línguas que têm mais presente o gênero neutro como o inglês, o alemão, são mais propícios a menos desrespeitos com pessoas trans. Em parte, acho que sim, já que no português até substantivos comuns têm gênero e o neutro é o masculino. Por exemplo, por que “cadeira” é um substantivo feminino? No inglês, “chair” simplesmente não tem gênero. E no português, quando a frase é “todos os funcionários estão em casa”, a gente entende que se refere a todas as pessoas que trabalham em uma empresa e não apenas os homens.

Me parece evidente que usar palavras com marcadores masculinos como se fosse indicador de neutralidade para se referir a todo mundo é um jeito de fortalecer a estrutura patriarcal. Isso contribui até para que a ideia de superioridade do homem em relação a mulher continue sendo naturalizada. Isso fica mais claro ainda, quando a gente analisa o costume de tratar empregadas domésticas quase que exclusivamente no feminino e empresários no masculino…. Já reparou?

Acredito que há uma longa e necessária jornada de desconstrução das nossas ideias de gênero para criarmos novos costumes e percepções mais sensíveis. Posso contar com você?

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