Gui
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Por Gui Takahashi (@guitakahashi)

Jornalista e criadora de conteúdo digital. Gosta de refletir e falar sobre beleza, comportamento e sociedade.

Mesmo para mim, que trabalho com beleza há muito tempo, ir ao salão, a SPAs e consultórios de dermatos nunca perde o encanto. É como ir a um parque de diversão. Além de me cuidar, ser autoindulgente, também tem o despertar da curiosidade, da investigação, de me atualizar com os últimos babados de beleza e colocar a fofoca em dia com aqueles profissionais que me acompanham.

Numa dessas, marquei minha consulta com uma dermatologista e fui feliz da vida pensando em mil perguntas para fazer. Dentre elas, estava: “Doutora, como já passei dos 30 anos e tenho visto algumas marcas de expressão se formando, queria saber se você me recomendaria aplicar toxina botulínica.”

Sim, sou simpática ao Botox. Nunca curti, para mim, procedimentos invasivos na busca eterna da juventude. Primeiro, porque acho que inalcançável e eu correria o risco de viver perseguindo uma miragem. E, em segundo lugar, porque tá aí o mundo das celebridades ricas e com acesso a tudo para nos provar que é possível "dar ruim" essa síndrome de Peter Pan – por mais que se tenha os melhores recursos cirúrgicos, estéticos, dermatológicos.

Ainda assim, acho doido perceber as mudanças do meu rosto ao longo dos anos. Tem vezes que a luz bate em um novo ângulo e e você se dá conta de alguma ruga que não estava ali antes.Ou percebe que o tônus está diferente e aquele canto da bochecha começou a sentir a flacidez. Dá aquela puxadinha leve com o indicador e, de repente, é transportada para uma espécie de 10 year challenge.

Então, como o botox não é invasivo e não modifica nossos traços faciais, só paralisa a musculatura para a pele não enrugar, eu estava aberta à possibilidade. Voltando à consulta, soltei a pergunta com um misto de emoções. Se a dermatologista dissesse que não era a hora ainda, eu ficaria aliviada (e me achando muito boa no skincare a ponto de nem precisar de uma injeção preventiva). E se ela me falasse que poderíamos fazer o procedimento, eu teria a bênção médica para usar a toxina. Enquanto tudo passava pela minha cabeça, eu era examinada. A médica puxou um pouco meu rosto para cá, para lá, pediu para eu fechar os olhos com força, franzir a testa e a resposta foi… “A gente não pode aplicar botox na sua testa”. “Não pode?”, indaguei, surpresa.

Pois bem, eu tenho uma condição chamada ptose palpebral. Resumindo, meu nervo não consegue fazer a musculatura da pálpebra direita tracionar e se levantar. Isso faz com que meu olho direito seja mais caidinho. Quando era mais nova, a pele até cobria um pouco da íris. Durante a faculdade, fiz uma cirurgia que me deu dobrinhas nas pálpebras, melhorou meu campo de visão e deixou meus dois olhos mais similares esteticamente. Um dos riscos da cirurgia oftalmológica era que se o médico tirasse um pedaço maior de pele, eu poderia ter problemas para fechar os olhos, levando a um ressecamento da retina e possível perda da visão. Mas ainda bem que nada disso aconteceu. Ufa! No entanto, o que rola é que uso a musculatura da testa para fechar os olhos e se eu paralisar esse músculo com o botox, corro o risco do tal ressecamento da retina.

Contei esse rolê todo para dizer que, apesar de jamais ter imaginado que eu não poderia usar a toxina, senti a importância de me consultar com um bom profissional para fazer qualquer procedimento. Até algo que parecia simples e corriqueiro poderia ter consequências desastrosas. E depois, também me senti aliviada por não precisar me preocupar em aplicar, retocar, reaplicar o botox. Sem falar no gasto que seria fazer essas visitas semestrais na dermatologista.

Em outras palavras, a negativa me tirou um peso que vinha da vaidade, da pressão estética, do etarismo. Ela me livrou da FOMO (“fear of missing out”) de ver famosas, colegas de trabalho, amigas "botocadas", enquanto eu seguia sem. Percebi como tuuudo isso estava permeando o meu desejo. Nem sei mais ao certo o quanto eu realmente queria as aplicações. O mercado, a moda e a indústria da beleza têm dessas de conseguir despertar vontades que, antes, a gente nem sabia que tinha. Agora tô mais livre para envelhecer tranquila, pautada por um argumento médico. Ou, pelo menos, até o próximo procedimento da moda chegar...

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