Saúde mental
Publicidade
Por

"Sou maquiadora há 13 anos. Começo falando isso, porque a escolha da minha carreira tem ligação direta com a maternidade. Como casei muito nova, aos 22 anos, e estava naquela pressa de sair de casa, encontrar uma área que despertasse interesse levou um tempo. A ideia era descobrir essa identificação nos anos seguintes, mas, com 24 anos, engravidei e tudo mudou.

Atendia às expectativas da sociedade por estar casada, mas o relacionamento já não estava indo bem há tempos. A imaturidade dificultou o processo, por isso continuei casada durante a gravidez. Além dos desentendimentos em casa, fora dela, começava a sentir o tanto de julgamento que é despejado para as mães. A decisão de ter uma parto domiciliar foi o principal alvo desses “palpites”.

Nessa fase, parei de compartilhar as coisas com as pessoas e fui ficando cada vez mais isolada, principalmente depois do parto. O pai dela não acordava à noite, com a desculpa que trabalhava fora, enquanto eu cuidava dela, da casa, fazia comida. Isso durou até ela completar um ano e meio.

Marília Martins — Foto: Marcelle Cerutti (@projetocarademae)
Marília Martins — Foto: Marcelle Cerutti (@projetocarademae)

Na mesma semana, recebi um convite para reencontrar algumas amigas, o que achei uma boa já que nunca tinha saído sem minha filha antes. Vivia integralmente em função da maternidade e não me reconhecia mais. Me organizei para ficar três horas fora e, quando avisei ao pai dela, ele achou um absurdo e tivemos uma briga horrível, mas no fim foi importante para eu colocar um ponto final no casamento. Posso dizer que foi a melhor decisão que tomei na minha vida.

A partir dali, retomei aquele processo de entender o que me fazia feliz e lembrei que, na adolescência, a maquiagem era uma das minhas paixões e poderia se tornar minha profissão. E virou! Encarei a maternidade solo com mais leveza depois dessa libertação. As pessoas olhavam para mim e sentiam dó, mas finalmente consegui viver sem interferências. Claro que não é fácil criar uma criança sozinha, mas é muito melhor você maternar em paz, sentimento que me levou ao reencontro com a minha essência, a arte e juventude.

Marília Martins e sua filha Olívia — Foto: Acervo pessoal
Marília Martins e sua filha Olívia — Foto: Acervo pessoal

Comecei a perceber também que, quando ela estava com o pai, em um final de semana no mês, tinha um momento comigo mesma e voltei a me reconhecer como mulher, pessoa e não só como mãe. Por outro lado, me culpava por sentir alívio e felicidade quando minha filha não estava em casa e também percebia olhares e conversas por estar em um show e não com ela, por exemplo.

Tudo isso aumentava a carga da maternidade, mas coloquei na cabeça que estava fazendo o meu melhor como mãe e precisava conquistar uma vida que não tinha vivido até então. É um exercício não misturar o peso do ser mãe com a sua relação com o filho. É inevitável! Há amor por aquela pessoa, mas isso não significa que tenho que amar todo o resto. Então, infelizmente, essa sobrecarga vira impaciência, que encontra um julgamento do 'não pode falar alto', 'não pode se estressar', 'tem que fazer tudo perfeito'.

Olívia e Marília Martins — Foto: Acervo pessoal
Olívia e Marília Martins — Foto: Acervo pessoal

Na hora que comecei a perceber que também sou um ser humano e existo para além da maternidade, as coisas fluíram melhor. Hoje, participo de um projeto chamado Cara de Mãe, idealizado pela fotógrafa Marcelle Cerutti, que coroa esse entendimento que conclui sobre a maternidade. Convidamos mulheres para sessões de fotos que expressam a totalidade delas e não as restringindo apenas aos filhos. É um presente poder escutar e potencializar nossas individualidades."

*Marília Martins em depoimento à jornalista Ana Carolina Pinheiro.

Mais recente Próxima Se estamos exaustas, por que a pausa para o descanso é tão difícil?
Mais de Glamour