Jornada de beleza
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Por Gabriela Loran

"Gabriela é uma mulher de sonhos. Os sonhos me motivaram, e ainda me motivam todos os dias, a chegar aonde eu quero. Eles me provam que nada é impossível, por mais que existam dificuldades que são predeterminadas para nós enquanto seres humanos, enquanto mulheres, enquanto pessoas trans. Eles me motivam a querer sempre mais.

A arte me salvou, foi minha válvula de escape. Foi no teatro que eu me desabrochei enquanto mulher. Não digo transicionar, porque o botão dessa flor esteve sempre dentro de mim. Só que, por falta de informação e de acesso, por conta da sociedade que nos afasta do nosso corpo, eu acabei me distanciando.

Tenho muito orgulho da criança que eu fui. Obviamente, eu era afeminada, então eu sofri o peso, mas, em contrapartida, sempre tive uma imaginação muito fértil. Eu via os artistas na televisão e queria ser igual, por isso, dentro do banheiro, eu já era a Gabriela sem nem mesmo saber. Eu me trancava, colocava a toalha na cabeça, tocava a música de Nina Simone, cantava e dançava.

Eu me olhava no espelho e enxergava beleza, para além das questões de gênero. Fui crescendo e escutando na escola os mais diversos apontamentos negativos, mas não conseguia reconhecê-los. Eu não nasci no corpo errado, não tem nada de errado com meu corpo.

Quando eu comecei o processo de transição, tive que assinar um termo que dizia que eu era doente, a sociedade faz com que você acredite que o problema é você. Mas eu me olhava no espelho e me amava do jeito que eu era. Eu queria fazer pequenas intervenções, mas nada tinha a ver com a minha essência.

Gabi Loran — Foto: Fernanda Pompermayer/Glamour
Gabi Loran — Foto: Fernanda Pompermayer/Glamour

Um divisor de águas foi o livro O Segredo, que fala sobre o poder dos pensamentos. Eu trabalhava em uma farmácia e minha prima estudava na Casa das Artes de Laranjeiras (CAL), no Rio de Janeiro. Quando a vi lendo aqueles textos, comecei a mentalizar e a escrever no papel: 'Eu vou me formar na CAL'. Entrei Gabriel na faculdade de artes cênicas e, a cada semestre, eu desabrochava. Finalizei a graduação fazendo a releitura de cenas das séries Orange Is the New Black e Sense 8, muito importantes para mim.

Gabi Loran — Foto: Fernanda Pompermayer/Glamour
Gabi Loran — Foto: Fernanda Pompermayer/Glamour

Quando você entende o poder que a arte tem de transformação, você muda vidas. Vivi um dos momentos mais marcantes da minha vida por causa do teatro. Em uma aula de conhecimento corporal, a professora pediu para que tocássemos cada parte dele ao chegar em casa. No banho, comecei o exercício olhando a cutícula, massageando entre os dedos, sentindo a nuca, atrás da orelha e, de repente, tive uma crise de choro.

Naquele banho, entendi tudo o que eu precisava. Encontrei todas as respostas dentro de mim. Eu também tenho a sorte de ter uma família que me acolhe e me aceita, porque sei que não é uma realidade para muitas como eu. Faço questão de mostrar isso na internet, para que chegue a outras mães e a outros pais.

Caminhamos a passos lentos quando o assunto é representatividade, e não podemos nos satisfazer com pouco. Por isso, não desisto. Pelas que vieram antes de mim, que me permitiram chegar nesses lugares, e por todas que virão, atuo para que possam viver em um mundo com menos preconceito."

*Depoimento concedido à jornalista Carolina Merino.

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