• por Bianca Alves
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Rica em gorduras insaturadas, a dieta do mediterrâneo é considerada a mais saudável por especialistas de Harvard (Foto: Getty Images)

Rica em gorduras insaturadas, a dieta do mediterrâneo é considerada a mais saudável por especialistas de Harvard (Foto: Getty Images/ Reprodução)

Com muitos prazeres à mesa, a nutrição fica em segundo plano, em detrimento aos hábitos alimentares, que incluem alto consumo de industrializados, e aos padrões corporais vigentes. Longe das dietas da moda, o psiquiatra Drew Ramsay dedicou sua carreira a estudar como a alimentação afeta - e muito! - como nos sentimos psicologicamente. 

Não estamos falando dos alimentos que trazem prazer instantâneo, mas daqueles que têm o poder de estimular o cérebro para uma vida saudável. Para o doutor Ramsay, é como se o nosso cérebro fosse feito de comida, uma vez que as móleculas presentes nele, como carbono, nitrogênio, zinco e magnésio, vêm da alimentação. Dessa forma, ao olharmos para o nosso prato, devemos nos perguntar o que estamos colocando na cabeça, ao invés de pensar em como a comida afeta a aparência.

O psiquiatra explica que na medicina pode não se falar muito em tipos de alimento, mas os nutrientes são altamente discutidos. Além das substâncias já citadas, ômega-3, vitamina B2, vitamina E, ferro e ácido fólico também atuam no funcionamento cerebral. "Ter altos níveis desses nutrientes em nossos corpos está ligado à prevenção e ao tratamento da depressão", escreveu ao site Refinery29. "Há também informações crescentes de que certas comidas e nutrientes ajudam nosso cérebro a crescer e se recuperar de enfermidades. Neuroplasticidade significa que seu cérebro está constantemente crescendo, evoluindo e novas conexões estão sendo feitas. Certas substâncias induzem um hormônio chamado Fator Neurotrófico Derivado do Cérebro (BDNF), que controla a neuroplasticidade".

Os primeiros estudos que comprovaram que a dieta mediterrânea pode prevenir e colaborar com o tratamento contra a depressão foram publicados em 2017, pelo jornal acadêmico BMC Medicine. Nele, os participantes que entraram em uma dieta chamada "comida para o cérebro", rica em grãos, frutas, vegetais, castanhas, legumes, carnes magras e frutos do mar, tiveram os sintomas depressivos reduzidos.

Transformar a alimentação pode parecer um desafio, mas uma outra pesquisa publicada no Nutricional Neuroscience, em 2017, mostrou que os indivíduos conseguem melhorar os hábitos nutricionais, de fato, em apenas três meses, afastando-se de refinados, processados e "comidas vazias" e adotando uma dieta parecida com a mediterrânea, rica em gorduras e nutrientes. Nessa avaliação, as pessoas que conseguiram incorporar as "comidas para o cérebro" em suas vidas tiveram os níveis de depressão reduzidos em 45%.

O psiquiatra também chama atenção para o fato de que a alimentação de antigamente tende a ser mais nutritiva do que a atual. Isso, porque na época dos nossos pais ou avós os alimentos refinados e processados eram menos comuns, tornando as dietas mais naturais e simples. Sendo assim, os índices de depressão eram menores.

Esses princípios ainda podem ser encontrados nas rotinas alimentares clássicas do Mediterrâneo, Japão e Noruega, as quais têm em comum a ausência máxima do que os especialistas chamam de "calorias vazias" (industrializados), favorecendo o consumo de frutos do mar, ricos em ômega-3.

Além disso, o doutor Ramsay acredita que as conexões feitas com o alimento e entre as pessoas durante as refeições são elementares na prevenção de doenças cerebrais. "As pessoas comem juntas, conversam ao se alimentarem e plantam os próprios alimentos ou sabem de onde eles vieram. Está tudo conectado. E nada na minha experiência clínica ajuda as pessoas a se sentirem mais felizes e saudáveis do que estarem ligadas e fazerem parte de uma comunidade. É, realmente, o que o cérebro faz: ele é um órgão de conexão, e o que nos conecta melhor do que a comida?".

Porém, acima de tudo, o especialista concorda que a comida é feita para ser aproveitada, de forma que dietas restritivas não são benéficas. Por isso, adequar-se a uma nova alimentação deve fazer sentido para a rotina e gostos pessoais, levando em conta um modelo a ser seguido, o qual pode variar. "Modelos diéticos, ao contrário de dietas restritivas, permitem a flexibilidade, porque não se trata de examinar tudo o que você come - com certeza, coma o bolo de aniversário! É sobre o padrão geral de sua alimentação", esclarece.