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O que a Folha pensa Argentina

A Argentina derrete

PIB desaba, inflação dispara e populismo avança à direita e à esquerda

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Cliente manipula notas de peso argentino em açougue de Buenos Aires - Agustin Marcarian/Reuters

Nenhum fenômeno econômico é mais devastador para o bem-estar de uma sociedade do que a combinação de recessão e inflação elevada. A vizinha Argentina corre o risco de experimentar doses cavalares das duas mazelas.

O descontrole inflacionário já está instalado —e não se vê solução para ele tão cedo. Os preços ao consumidor acumularam alta de 124% nos últimos 12 meses. Somente em agosto, foram assustadores 12,4%, o que corresponde a um índice anualizado de mais de 300%.

Na terça-feira (19), divulgou-se que o Produto Interno Bruto argentino teve queda aguda no segundo trimestre deste ano, de 4,9% ante o período correspondente do ano passado e de 2,8% na comparação com o trimestre anterior.

Um único registro de encolhimento da produção e da renda pode não ser o suficiente para caracterizar o início de um ciclo recessivo, mas o caos vivido pelo país sul-americano não encoraja previsões de recuperação.

Na mesma terça, relatório da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) projetou recuo de 2% do Produto Interno Bruto neste ano e de 1,2% no próximo. Não parece haver pessimismo exagerado aí.

Na derrocada argentina, incertezas econômicas e políticas se alimentam umas às outras, enquanto o país se aproxima do primeiro turno das eleições gerais, marcado para 22 de outubro.

O cenário, já calamitoso, piorou a partir de agosto, quando as primárias para a Casa Rosada mostraram a ascensão de um candidato exótico e histriônico, Javier Milei, que une um discurso populista contra o establisment a uma pregação ultraliberal sem conexão com a realidade política do país.

Consta que Milei, hoje líder das pesquisas, busca suavizar sua plataforma de governo, mas a disputa presidencial toma rumos insanos.

O candidato do peronismo governista —ninguém menos que o ministro da Economia, Sergio Massa— decidiu recorrer a mais irresponsabilidade orçamentária na reta final da campanha, propondo uma radical isenção de Imposto de Renda sobre salários.

Segundo estimativa de precisão duvidosa, apenas 1% dos trabalhadores continuarão pagando o tributo com a aprovação do projeto —que teve o apoio de Milei.

Em um país que adia há anos reformas imprescindíveis, os principais postulantes à Presidência trabalham para tornar ainda mais difícil, econômica e politicamente, a tarefa de recuperar as finanças públicas e a confiança na moeda nacional ao longo dos próximos anos.

editoriais@grupofolha.com.br

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