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Eduardo Saron

O desafio do pensamento criativo na educação brasileira

Artes, teatro e escrita criativa estimulam essa habilidade nos jovens

Eduardo Saron

Presidente da Fundação Itaú, instituição que congrega Itaú Social, Itaú Educação e Trabalho e Itaú Cultural

O Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), realizado pela OCDE, divulgou, pela primeira vez, os resultados da avaliação do desempenho de alunos no quesito criatividade, destacando a importância dessa habilidade no contexto das complexidades do mundo contemporâneo.

Para a edição de 2022, o pensamento criativo foi definido como "a competência de se envolver produtivamente na geração, avaliação e melhoria de ideias que podem resultar em soluções originais e eficazes, avanços no conhecimento e expressões impactantes de imaginação".

Os resultados não foram favoráveis para a educação brasileira, com o país ocupando a 44ª posição e uma média de 23 pontos em uma escala de 0 a 60 —a média dos países da OCDE foi de 33 pontos.

Aproximadamente 700 mil estudantes de 15 anos participaram da avaliação, em 57 países. Mais da metade dos nossos estudantes (54,3%) ficou abaixo do nível considerado básico para essa habilidade. Isso desafia a imagem culturalmente constituída de um povo inventivo, posicionando-nos atrás de países como Catar, Chile, México e Cazaquistão.

A pesquisa também evidencia que a criatividade não é uma característica inata, mas uma habilidade que deve ser estimulada na escola, em casa e nos territórios. Nossa Base Nacional Comum Curricular (BNCC) inclui o pensamento crítico e criativo como uma das dez competências gerais a serem desenvolvidas, o que é positivo.

Entretanto, falta-nos a implementação dessa diretriz. Isso exige não só o aprimoramento das atividades que endereçam a criatividade no conjunto dos currículos mas também a formação e o apoio a professores e gestores para cumprir essa ação.

O pensamento criativo precisa ser trabalhado de forma contínua em todas as áreas de conhecimento, com especial potencial para o desenvolvimento de projetos interdisciplinares.

Outro desafio é equilibrar disciplinas e carga horária em sala de aula, o que demanda a centralidade da BNCC no processo educativo, além de uma reestruturação que conflua de forma eficaz conteúdo e tempo. São alinhamentos que podem facilitar a oferta de abordagens lúdicas e focadas para que conteúdos sejam aprendidos de forma participativa.

Essa modelagem faz parte de uma formação verdadeiramente integral, que inclui não só educação cultural, artística, digital e esportiva mas também o desenvolvimento de habilidades socioemocionais, a articulação entre escola, família e território, somada à devida atenção às condições de trabalho dos profissionais de educação e infraestrutura escolar.

O Pisa também indica que a participação regular —pelo menos uma vez por semana— em atividades escolares como artes, teatro e escrita criativa está associada a um melhor desempenho em pensamento criativo.

O estudo destaca ainda que 30% da capacidade criativa dos estudantes estão relacionados à proficiência em matemática. Segundo a própria OCDE, nossos baixos resultados em matemática, somados à pobreza, dificultam o desenvolvimento do pensamento criativo. Aliás, a confluência entre educação e cultura e o tema da matemática fazem parte das prioridades da Fundação Itaú.

Adicionalmente, a aceleração exponencial da inteligência artificial exigirá ainda mais habilidades criativas. O Fórum Econômico Mundial, em 2023, considerou o pensamento criativo a segunda habilidade mais demandada pelo mercado, ficando atrás apenas do pensamento crítico.

As enormes mudanças que estamos vivendo exigem, entre outros pontos, uma aliança profunda entre arte, cultura e educação. Com um sistema educacional verdadeiramente integral, conseguiremos transformar nossos alunos em participantes do futuro nessa complexa caminhada rumo a um país mais produtivo, sustentável, inclusivo e equânime.

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