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Boulos diz em sabatina Folha/UOL que não se sustentará só em Lula e minimiza caso Janones

Deputado federal defendeu parecer de sua autoria que favoreceu deputado, criticou Nunes por 'gastar muito e resolver pouco' e negou ter 'amolecido'

São Paulo

O deputado federal e pré-candidato à Prefeitura de São Paulo Guilherme Boulos (PSOL) disse durante sabatina promovida por Folha e UOL nesta sexta-feira (12) que replicar o embate entre Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL) não será sua única estratégia na eleição.

O parlamentar disse ser inevitável trazer a polarização para a disputa paulistana, como pregou o presidente Lula, seu apoiador, mas ressalvou que também buscará tratar das questões locais. "Esta é uma eleição sobre a cidade de São Paulo com impacto nacional. O que eu vou discutir é a cidade."

O pré-candidato do PSOL minimizou parecer de sua autoria que ajudou a livrar o deputado André Janones (Avante-MG) no Conselho de Ética da Câmara em caso de suspeita de "rachadinha", assim como a campanha antecipada de Lula a ele no 1º de Maio, que gerou condenação pela Justiça Eleitoral.

Guilherme Boulos, pré-candidato do PSOL à Prefeitura de São Paulo, em diferentes momentos da sabatina Folha/UOL

Boulos afirmou que tentar desgastar Ricardo Nunes (MDB) por ter entre os apoiadores o ex-presidente Bolsonaro não será sua única estratégia, dizendo que vai sustentar sua candidatura também em propostas e na apresentação de uma alternativa ao atual prefeito.

"Esse é um ponto [apoios de Lula e Bolsonaro] importante para a eleição, e logicamente a cidade precisa saber quem apoia quem", afirmou, antes de mudar de assunto e pregar que "São Paulo precisa mudar".

"Quem vai investir e a quem interessa investir em polarização ideológica é o meu adversário, porque ele ficou três anos no cargo e não entregou nada. Qual é a marca deste governo? [Ele] foi começar a fazer coisa na véspera de eleição, asfalto sem planejamento, obra sem planejamento."

Emendando críticas à atual administração, Boulos afirmou que "São Paulo é a cidade mais rica da América Latina" e continua com problemas como população de rua, fila de exames na saúde e transporte ineficiente. "Nós temos uma prefeitura que gasta muito e resolve pouco", disse.

O pré-candidato afirmou que Nunes, por "não ter o que mostrar", precisa se ancorar no que chamou de fake news sobre ele e sua trajetória, buscando pintá-lo como extremista e vinculá-lo a invasões.

Após a sabatina, Nunes criticou o oponente no X. "Ver quem invade defender a legalidade no caso da rachadinha, o nome disso é Boulos. Ver alguém criticar muito com dados errados e propor muito pouco, o nome disso é Boulos".

Questionado sobre o desempenho positivo de Nunes entre eleitores mais pobres nas pesquisas eleitorais, o pré-candidato disse que acreditar que o cenário vá mudar a seu favor à medida que a população da periferia tome conhecimento da ligação entre Bolsonaro e Nunes e do apoio de Lula a ele.

Boulos afirmou que o eleitor com renda inferior a dois salários mínimos "é o que se decide por último na eleição" e que, por enquanto, o pleito ainda não é discutido por todas as camadas sociais.

Ele admitiu, contudo, que as entregas de obras e o asfaltamento turbinado por Nunes nas franjas da cidade "têm um impacto na periferia", mesmo sendo o que classificou de iniciativa "eleitoreira e superfaturada".

"Esse público vai se decidir quando a campanha começar, e a maior parte desse público que está nas periferias não sabe que o Ricardo é apoiado pelo Bolsonaro e não sabe que eu sou apoiado pelo Lula. É o público onde eu ainda não cresci, mas é o público onde eu tenho menor rejeição."

Ele também relativizou o poder eleitoral de Nunes por estar no cargo. "A máquina cumpre um papel. Agora, se máquina decidisse eleição, o Rodrigo Garcia era governador de São Paulo", disse, citando o ex-governador, que concorreu à reeleição em 2022 e perdeu para Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Questionado sobre o passado como militante pró-moradia e líder de movimento social, explorado negativamente por adversários para tachá-lo de radical e de invasor de propriedades, Boulos disse que é o mesmo, negando ter se distanciado da verve indignada de outrora.

"Amadurecer não pode ser a mesma coisa que amolecer", afirmou ele, que foi coordenador do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto). Ele disse ainda que há preconceito contra o movimento que reivindica habitação.

"O que acontece é que muitas vezes existe um preconceito tremendo e uma caricatura sobre a atuação do movimento social. 'Ah, o movimento sem- teto invade casas'. O movimento sem-teto dá casas para as pessoas. Eu no movimento, sem a caneta, já ajudei mais de 15 mil famílias a conquistarem suas casas. Isso me orgulha demais", disse.

Ele também prometeu coibir loteamentos clandestinos ligados ao crime organizado e falou em vista grossa da atual gestão.

"O que pode acontecer, e essas eu não vou tolerar, e que a atual gestão, essa sim, não está tendo mão firme por relações escusas que tem, é loteamento clandestino ligado ao crime nas periferias e na beira de mananciais", declarou.

Boulos também negou ter "passado pano" para Janones ao apresentar parecer contra a investigação do deputado no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados por suspeita de "rachadinha" no gabinete. O pré-candidato repetiu a argumentação de que apenas seguiu a jurisprudência e avaliou que o episódio não o prejudica na eleição.

"Eu não teria nenhuma razão escusa, estranha para salvar Janones. O que nós temos que ser é coerentes", disse, sustentando que fatos anteriores ao mandato atual de um deputado não devem ser analisados pelo Conselho de Ética —embora em outros casos o PSOL tenha defendido o oposto.

"Tem uma jurisprudência que diz o seguinte: o que ocorre antes da atual legislatura, do atual mandato com o parlamentar, não pode ser julgado. O que pode ser julgado é o que ocorre neste mandato, ou um fato novo relevante neste mandato. Foi por isso que se absolveu", disse, embora gravação indique que a reunião que deu origem ao caso tenha acontecido quando Janones já era deputado.

Em seu voto, Boulos deturpou uma decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) para sugerir o arquivamento do processo.

"Meu processo não foi para absolver o Janones, mas para definir um critério", defendeu-se. O deputado afirmou que "não se pode ter dois pesos e duas medidas" e que não analisou o mérito do caso. "Acredito que, independentemente de quem faça, 'rachadinha' é crime, seja do Flávio Bolsonaro ou do Janones."

O representante do PSOL também saiu em defesa de Lula no caso da condenação do presidente por propaganda eleitoral antecipada por ter pedido voto para Boulos durante ato do 1º de Maio. Boulos, também condenado a pagar multa pelo episódio, reiterou que, em sua visão, Lula apenas exerceu o direito de livre expressão e não cometeu ilícito eleitoral.

"O presidente expressou a posição dele e expressou quem é o candidato dele", disse, lembrando que recorreu da decisão judicial, algo que a defesa do petista também fez.

Perguntado se ampliaria a tarifa zero nos ônibus em meio a suspeitas de envolvimento de empresas do setor com o crime organizado, em especial o PCC, Boulos respondeu que passará a limpo os contratos de ônibus na cidade. "Tarifa zero só pode ser feita depois que a gente botar ordem na casa e acabar com a farra dos subsídios que ninguém controla, ninguém fiscaliza", disse.

Questionado sobre a participação do ex-comandante da Rota Alexandre Gasparian na construção de seu plano de governo, Boulos respondeu que o coronel da reserva "ficou pouco tempo na Rota e, quando ficou, atuou pela punição de policiais envolvidos em crimes".

O deputado afirmou que a primeira coisa que Gasparian disse a ele depois de entrar na pré-campanha foi que decidiu apoiá-lo porque defende uma segurança baseada nos direitos humanos, apesar de ter chefiado o batalhão de elite da PM paulista, conhecido por sua letalidade e truculência.

"Ele atuou para investigar e punir esses policiais, que é o papel de um comandante [...]. Foi tirado do cargo, talvez, inclusive, porque tenha atuado para punir os policiais. Não vou fazer ilações nesse sentido, mas...".

Boulos usou o tema para atacar Nunes, por ter aceitado como candidato a vice o coronel Ricardo Mello Araújo (PL), outro ex-Rota, indicado por Bolsonaro para a chapa. Segundo o deputado, o emedebista "vendeu a alma" para o ex-presidente ao fechar aliança com ele.

O pré-candidato do PSOL lembrou em dois momentos da entrevista uma declaração do ex-coronel em 2017 na qual defendeu tratamento diferente da PM a moradores da periferia e de áreas nobres. E, repetindo que é preciso diferenciar os perfis de Gasparian e de Mello Araújo, indicou que a presença do ex-Rota na vice prejudicará o adversário nas regiões periféricas.

Fabíola Cidral conduziu a entrevista, com participação das jornalistas Raquel Landim, do UOL, e Carolina Linhares, repórter da Folha.

Guilherme Boulos é formado em filosofia e é mestre em psiquiatria pela USP. Líder do MTST, foi candidato a presidente em 2018. Chegou ao segundo turno da eleição para a Prefeitura de São Paulo em 2020, derrotado por Bruno Covas (PSDB). Foi o deputado federal mais votado de São Paulo em 2022, com 1 milhão de votos.

Guilherme Boulos, pré-candidato do PSOL à Prefeitura de São Paulo, na sabatina Folha/UOL

Além de Boulos, outros três postulantes foram convidados. Na quarta-feira (10), foi a vez do ex-coach Pablo Marçal (PRTB). Na segunda-feira (15), às 10h, o prefeito Nunes será entrevistado, e na terça-feira (16), às 10h, participará José Luiz Datena (PSDB).

A série de sabatinas começou por Belo Horizonte, em junho. Nas últimas semanas, os pré-candidatos de Salvador, Porto Alegre e Recife foram entrevistados. Ainda haverá outras com concorrentes de mais 13 cidades.

Além disso, Folha e UOL promoverão debate com os principais candidatos à Prefeitura de São Paulo. O encontro no primeiro turno será em 30 de setembro, às 10h. Caso haja segundo turno, haverá outro em 21 de outubro, também às 10h.

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