Em 1987, a Assembléia Mundial de Saúde, em conjunto com a Organização das Nações Unidas (ONU), escolheu o dia 1° de dezembro como o Dia Mundial de Combate à AIDS. Desde então, a data — que se prolonga por todo o mês de dezembro — é voltada para a conscientização sobre a síndrome da imunodeficiência, destacando a importância da prevenção e do combate ao preconceito contra os portadores do vírus da imunodeficiência humana (HIV). Apesar dos avanços significativos no tratamento, o estigma em torno do diagnóstico ainda é um dos maiores obstáculos para o enfrentamento da doença. Pensando nisso, conversamos com uma especialista para esclarecer as principais dúvidas e desmistificar informações infundadas sobre o tema.
Quais são os principais mitos relacionados à doença?
"Os maiores mitos estão relacionados à forma de transmissão do vírus. Muitas pessoas ainda não sabem que uma pessoa que vive com vírus HIV, faz o tratamento adequado e mantém a carga viral indetectável há mais de 6 meses não transmite o vírus, mesmo em uma relação sexual sem preservativos", explica Dra. Keilla Freitas, médica infectologista da Clínica Regenerati e do Hospital Sírio Libanês. "Ainda é comum ouvir que o vírus HIV pode ser transmitido pelo beijo, aperto de mãos ou até picadas de mosquito, mas nada disso é verdade. Também é importante dizer que ter o vírus HIV não significa que a pessoa tenha AIDS. A AIDS é a doença causada pela infecção do vírus, que se manifesta quando a pessoa não se trata, atacando o sistema imunológico", esclarece ela.
Quais são os estágios da doença?
O estágio um é a infecção aguda pelo vírus HIV, quando a carga viral está mais alta. Se a pessoa não receber tratamento, passa para o segundo estágio, quando o vírus passa a se multiplicar com menor velocidade, mas continua destruindo as células imunológicas. O estágio três, conhecido como AIDS, é o mais avançado. Nessa fase, o sistema imunológico já está mais debilitado, e se torna mais vulnerável a outras infecções. Com os tratamentos atuais, já é possível que o portador de vírus HIV não chegue a esse estágio mais grave.
Quais são os principais sintomas?
"Os sintomas não são específicos. É comum, inclusive, que uma pessoa esteja com o vírus há algum tempo e não apresente nenhum sintoma. No segundo estágio, ele pode passar despercebido até exames de check-up normais", alerta Keilla Freitas. Por isso, é importante realizar os testes adequados, que detectam os anticorpos contra o HIV em cerca de 30 minutos — eles são realizados gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O SUS, aliás, é referência mundial no enfrentamento ao HIV e à AIDS, e disponibiliza acesso gratuito a todos os medicamentos necessários para o tratamento, além de exames e acompanhamento médico.
Quais as formas de tratamento hoje?
"O tratamento mais recomendado hoje são os medicamentos antirretrovirais, que podem variar de acordo com o protocolo de cada país. Geralmente, o esquema de tratamento é composto por três medicamentos, tomados uma ou duas vezes ao dia. Aqui no Brasil, já existe o chamado tratamento duplo, que combina apenas dois medicamentos, a lamivudina e o dolutegravir. A ação dos antirretrovirais ajuda a impedir a multiplicação do vírus, evitando que ele se espalhe pelos linfócitos T CD4+ [células essenciais para a defesa imunológica do corpo]. Assim, a carga viral vai ficando indetectável, ou seja, abaixo dos níveis detectados no exame", relata a médica.
O que é a PEP?
A Profilaxia Pós-Exposição ao HIV (PEP) é uma medida de prevenção emergencial para pessoas não-portadoras do vírus que se expuseram a uma situação de risco à infecção pelo HIV — como a relação sexual sem preservativos, casos de violência sexual e acidentes ocupacionais. "O protocolo deve ser iniciado o mais rápido possível depois dessa exposição, no máximo em até 72 horas. Ele é feito por meio de medicamentos antirretrovirais, que devem ser tomados uma vez ao dia durante 28 dias. É muito importante que a pessoa tenha certeza de que não tem o vírus, pois, nesse caso, já deve começar o tratamento, e não a profilaxia", diz a infectologista. A PEP também pode ser acessada gratuitamente pelo SUS.
Quais hábitos recomendados a uma pessoa com HIV?
"Para manter a imunidade equilibrada, o principal é seguir o tratamento contínuo e diário com os antirretrovirais prescritos pelo médico infectologista, fazendo acompanhamento periódico com exames. Um estilo de vida equilibrado também é recomendado, com uma dieta rica em proteínas e mais baixa em carboidratos simples, atividades aeróbicas e musculação, boa qualidade do sono e baixas cargas de stress", indica Keilla. "Quando o tratamento adequado começa quando a imunidade ainda está boa, a pessoa portadora do vírus tem uma expectativa de vida equivalente à da população em geral", conclui.