Negócios

Por Jules de Faria

As mulheres são as grandes criadoras da vida. Elas desenvolvem pessoas dentro de si mesmas e, em uma grande medida até mesmo injusta, cabe a elas a “criação” das crianças até se tornarem adultos.

Ao longo de toda a história, a sociedade agiu como se a capacidade de criar das mulheres terminasse aí. Até hoje essa imagem está bastante presente na nossa cultura, marginalizando o impacto criativo das mulheres em múltiplas esferas da existência humana.

Pare um segundo a leitura e tente pensar em mentes brilhantes, sejam por inventar novos produtos, curar doenças, revolucionar as artes ou criar movimentos sociais. Quantas vezes uma mulher surge como primeira opção em sua mente? A dominância masculina nos registros históricos, na educação e em posições de reconhecimento é inegável. E curiosamente esse viés persiste mesmo em campos tradicionalmente associados ao mundo feminino, como a moda e a culinária. Mulheres são as costureiras e as cozinheiras. Já os homens, os designers e os chefs.

Tomemos, por exemplo, a história de Rosalind Franklin, cuja pesquisa foi fundamental para a descoberta da estrutura do DNA. No entanto, seu reconhecimento foi ofuscado pelos homens que compartilharam a descoberta, James Watson e Francis Crick.

Quer um caso mais recente? Euphoria, premiada série da HBO estrelada por Zendaya, entrou para a história do audiovisual com sua fabulosa estética Gen Z. Algumas semanas atrás, a fotógrafa Petra Collins compartilhou em entrevista que o diretor e criador da série Sam Levinson a chamou para dirigir o programa justamente pela sua perspectiva artística representativa dessa geração. Sua visão deu contorno total ao projeto, mas Petra acabou não sendo nem contratada, nem creditada, gerando louros somente à Levinson.

Não há qualquer prova científica de que homens sejam mais criativos do que mulheres por questões biológicas. Ou seja, os desafios enfrentados pelas mentes femininas ainda estão em um contexto de construção social. E entendê-los profundamente é importante para virarmos este jogo.

Gatekeeping: quem avalia são os homens

Uma pesquisa publicada pelo Journal of Applied Psychology em 2022 analisou a performance criativa entre gêneros. Ele sugere que, por anos, homens foram mais bem-avaliados como criativos do que as mulheres, mesmo quando seus trabalhos são idênticos.

Um exemplo está no setor de críticos de cinema, que são homens em sua maioria, o que tem levado a classificações tendenciosas. Filmes dirigidos por mulheres, com protagonistas femininas complexas ou com temáticas importantes ao universo da mulher acabam sendo recebidos de maneira mais dura. A diva Meryl Streep já desaprovou publicamente o processo do Rotten Tomatoes, a mais conhecida plataforma de avaliações do audiovisual, por essa exata razão.

O fardo do cuidado

Você já ouviu falar sobre a economia do cuidado? É o conjunto de atividades não-remuneradas que envolvem cuidar de outros membros da família ou da comunidade, bem como gerir e manter a casa em ordem. Apesar de frequentemente invisibilizada, ela é uma das mais cruciais para a manutenção e prosperidade de uma sociedade. E uma disparidade gritante existe quando olhamos para quem realiza a maioria dessas atividades. As mulheres, historicamente, têm sido as principais responsáveis por essas tarefas, dedicando uma média de 10 horas a mais por semana a essas atividades do que os homens. Isso não apenas reflete uma desigualdade de gênero arraigada em nossa cultura, mas também indica a sobrecarga que elas enfrentam, comprometendo o tempo que poderiam dedicar a outras atividades.

Essa sobrecarga não apenas limita o tempo que as mulheres têm para investir em sua carreira, educação ou autocuidado, mas também pode ser um inibidor potente da criatividade. O processo criativo requer espaço mental, tempo e, em muitos casos, a capacidade de correr riscos e explorar. Com a mente frequentemente ocupada por responsabilidades múltiplas e a pressão constante para garantir que as necessidades de todos sejam atendidas, pode ser extremamente desafiador para as mulheres encontrarem um momento de um respiro para sonhar.

A armadilha do perfeccionismo

Desde cedo, muitas mulheres são condicionadas a buscar a perfeição em vários aspectos de suas vidas, seja na aparência, comportamento ou desempenho acadêmico e profissional. A pressão constante para ser a "melhor" em tudo, juntamente com a tendência de serem julgadas de forma mais crítica, alimenta essa necessidade de atingir padrões muitas vezes inatingíveis.

A jornalista e escritora Mary Ann Sieghart publicou um livro sobre a tal “diferença de autoridade”, que fala sobre a contínua subestimação das mulheres e a desigualdade percebida em posições de liderança. Se as mulheres são frequentemente interrompidas, subestimadas ou vistas com ceticismo, elas podem se sentir compelidas a adotar uma postura de perfeccionismo como mecanismo de defesa, o que, paradoxalmente, pode impedi-las de alcançar seu potencial criativo pleno. O desafio não está apenas em reconhecer e combater o perfeccionismo individual, mas também em reformular as percepções e expectativas da sociedade em relação às mulheres.

Sonhar juntas é a solução

Um problema estrutural não tem solução simplista. Ainda mais em um período de pós-pandemia, em que os desafios para as mulheres se maximizaram e muito do poder do imaginar foi substituído pela necessidade de sobreviver e cuidar. Mas precisamos caminhar rumo à reforma do sonho feminino.

Camila Holpert, publicitária com formação em compaixão pela Universidade de Stanford e fundadora do Studio Ideias, empresa de pesquisa dedicada à compreensão de vínculos, fez uma pesquisa com 205 pessoas sobre sonho – com foco naqueles não realizados. Constatou que mulheres reportam mais dor e tristeza do que homens quando não têm a chance de vê-los se tornar realidade. “A hipótese é que eles são mais convidados a esse lugar de realização”, diz. “Quantas oportunidades as mulheres têm?”.

A pesquisadora traz, claro, um olhar de compaixão para a história: “nem todo sonho vai acontecer e tudo bem. O movimento importante é o de poder sonhar.” E como podemos manter esse superpoder vivo?

“O primeiro passo é identificarmos e tomar cuidado com o que sonharam para a gente”, diz Camila. Ou seja, observarmos as expectativas externas e sociais que querem que cumpramos, enquanto mulheres. E o segundo e essencial é estimularmos a capacidade de imaginar e, mais do que isso, compartilhar e falar sobre aquilo que estamos imaginando. “Para que mais pessoas se engajem e isso se torne uma missão coletiva.” Ninguém precisa caminhar por conta própria porque se sente dona de uma visão de futuro. “Devemos colaborar umas com as outras”, afirma Camila. Só conhecendo os sonhos umas das outras é que podemos protegê-los.

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