A maior tendência das semanas de moda nesta temporada? A representatividade das mulheres maduras

A semana de moda francesa, a mais famosa e antiga do mundo, teve musas 50+ também fora das passarelas. As antigas IT girls agora são IT women. Charlotte Gainsbourgh, Carla Bruni, Linda Evangelista, Monica Belluci, Kate Moss, Eva Herzigová, Charlotte Rampling foram algumas das convidadas especiais da plateia do desfile da Saint Laurent.

O squad 50+ foi assunto de uma matéria de beleza no site da Vogue britânica. O tema central: as franjas perfeitas e os irretocáveis cortes de cabelo usado por elas. Anos atrás, matérias do tipo literalmente proibiam franjas para mulheres mais velhas, assim como saias curtas, cabelos longos, saltos altos, blá-blá-blá. Passado. Ufa!

E nem só de Paris é feita a atual tendência 50+. Na semana de moda de Londres, a marca portuguesa Marques Almeida apresentou uma coleção inspirada no tempo, coerentemente vestida por modelos de diferentes idades, incluindo as 60+. A passarela ficou linda e diversa como a vida real é — mas o mercado de moda e beleza insiste/insistia (a escolha do tempo verbal é por sua conta, cara leitora e caro leitor) em não ver.

Em Nova York, a minha vista cansada e 50+ só quis ver o desfile da marca Batsheva, que eu conheci sabe por quê? Porque levou mulheres da minha idade para a passarela e fez com que eu me sentisse representada. Consumo moda e já visitei a loja online…

Gostei muito das roupas criadas pela estilista Batsheva Hay, de 42 anos. À imprensa, ela disse que tem a “percepção de que o amadurecimento é visto como um incômodo pela indústria da moda". A afirmação denota a “fineza” da profissional até na escolha das palavras. Substitua “como um incômodo” por “com ojeriza” e seja bem-vinda ao mundo que eu e outras mulheres maduras ainda vivemos.

Afinal, passarela apresenta tendência, aquilo que pode virar moda, ou seja, “cair no gosto”. Por mais que as mulheres 50+ estejam ganhando respeito e espaço, ainda falta chão para mudar a forma como a sociedade encara o envelhecer…

É louvável que as mulheres maduras estejam ganhando representatividade cada vez maior na moda. Lembro bem do trajeto, afinal, ele é recente: tudo começou com as campanhas fotográficas, imagens estáticas e muito controladas, criadas por marcas. Em seguida, vieram as capas de revista. Agora, as passarelas, menos controláveis que os sets de filmagem e fotografia e sem as afamadas pós-produções. Viva!

Contudo, quero mais. E quero porque merecemos. Atualmente, chegar aos 50 significa continuar produzindo, ter saúde e ser ativa. Tem perrengue pra caramba. No entanto, a medicina evolui para nos auxiliar nessa fase da vida. Tratamentos para menopausa, por exemplo, vêm apresentando ótimas soluções para controlar os efeitos da queda dos hormônios, nossos maiores vilões – junto com o preconceito apoiado nos padrões, veja só, criados com a ajuda também das indústrias da moda e da beleza.

Falando nisso, é preciso cuidado até mesmo com o novo padrão de beleza madura, que ainda está em pleno processo de criação. E quem está lendo esta coluna sabe do que estou falando. O universo 50+ não é composto apenas por mulheres brancas, magérrimas, grisalhas, com cabelos fartos. Há as mulheres que pintam o cabelo, as negras, as asiáticas, as indígenas, com corpos diversos.

A flexibilidade é um dos trunfos da geração 50+, seja física ou intelectual, vide o movimento life long learning. Temos rugas, procedimentos estéticos, pelos em lugares indesejados e a sabedoria de reconhecer a força de nossos novos aliados. No lugar da "rabujentice", a nova velhice prefere, com exceções, a gratidão.

Os mercados de moda e da beleza têm incontestável influência no comportamento e no zeitgeist, logo são de extrema importância para a diversidade e a inclusão. As pessoas mais velhas são cada vez mais numerosas nas pirâmides populacionais mundiais, são economicamente ativas e têm poder de influência (crescem exponencialmente nas listas das mais poderosas do mundo).

Sou uma mulher 50+ que pesquisa e lê sobre os novos 50 anos, sobre a longevidade e a qualidade de vida, e fico aliviada que a moda, na atual temporada, tenha entendido o que tantos tentam ignorar e que é tão natural: o envelhecimento. Torço para que “a moda pegue”, usando aqui uma expressão tão ou mais velha que eu. Viva!