Sua Idade

Por Giuliana Cury (@giucury)


Luana Piovani fala sobre menopausa, como é envelhecer na indústria do entretenimento, maturidade e maternidade — Foto: @luapio
Luana Piovani fala sobre menopausa, como é envelhecer na indústria do entretenimento, maturidade e maternidade — Foto: @luapio

Faltavam dez minutos para o início da entrevista com Luana Piovani e eu já estava na frente do computador com a câmera do Zoom aberta, microfone testado, conexão ok. Morando em Portugal há três anos, a atriz topou conversar com a Vogue em plena maratona de gravações da novela portuguesa Sangue Oculto, em que faz sua primeira vilã. Enquanto esperava a entrada da Luana, lembrei de outros momentos em que estive com ela, um deles em especial: a capa de uma revista em 1993 onde ela, aos 17 anos, aparecia segurando uma camisinha — foto essa que deu início a uma campanha para a conscientização da importância do sexo seguro entre jovens. Uma revolução para a época, quando falar de sexualidade na adolescência ainda era tabu. E falar sobre sexualidade feminina, então… Você pode imaginar.

Na hora fiz o paralelo com o momento atual da atriz, que, mais uma vez, agora aos 46 anos, pega outro tema ainda estigmatizado e coloca luz sobre ele: Luana não apenas revelou estar na menopausa como fez um ensaio sensual para marcar o período e convidar mulheres a compartilharem suas experiências e sentimentos. Pontualmente no horário combinado, Luana aparece no vídeo. Lá estavam as sardinhas que eu me lembrava. O olhar vivo, e meio desconfiado, também continuavam presentes, assim como o ar pragmático e confiante (muitas vezes confundido com arrogância) que ela já tinha lá no começo da carreira de modelo. “Sempre fui assim, determinada e muito ciente do meu valor. Se algo não me faz bem, não tenho porque aceitar. O novo nunca me assustou”, disse a atriz em nossa conversa.

É essa confiança e entendimento do que quer construir para si mesma e para o mundo ao seu redor que pautam as decisões de Luana, de sair do Brasil e viver em Portugal para que seus filhos pudessem ter uma vida mais segura (a violência no país foi uma das principais razões que motivaram a mudança da família) ao término do casamento com o surfista Pedro Scooby. “Eu entendi uma coisa desde muito nova: eu tenho, no máximo, cerca de 100 anos aqui nesta passagem. Então, quero fazer desse período o melhor possível, porque sou eu quem estou vivendo. Sendo assim, para que eu vou deixar alguém interferir na minha alegria ou prazer de viver?”

Confira o bate-papo completo com a atriz!

Vogue: Luana, você está fazendo uma protagonista em uma novela portuguesa, sua primeira vilã. Em um momento que boa parte das mulheres optaria por focar apenas nesse lado, você usou sua rede social para contar que, aos 46 anos, está na menopausa – e ainda fez um ensaio fotográfico sensual abordando o tema. Por que resolveu compartilhar essa fase da sua vida?

Luana Piovani: Eu acho que isso é um traço da minha personalidade há muitos anos. Sempre fui, além de atriz, uma comunicadora. Alguém que escolhe se expor, expor o que pensa, registrar as opiniões. Paralelamente a isso, resolvi falar sobre a menopausa porque estou passando por ela. E, porque, na hora que descobri, mais uma vez pensei: ‘Preciso usar minha voz para trazer um assunto que ainda é tabu para a conversa, e usar minha força e naturalidade para ajudar a desmistificar o tema’.

Luana Piovani fala sobre menopausa, como é envelhecer na indústria do entretenimento, maturidade e maternidade — Foto: Instagram
Luana Piovani fala sobre menopausa, como é envelhecer na indústria do entretenimento, maturidade e maternidade — Foto: Instagram

Você tem percebido esse movimento de normalização da menopausa?

LP: Esse tema tem sido muito falado, sim. Até porque as mulheres estão vivendo esse momento de 'trocar' 20 anos da vida, os 50 são hoje os 30. Mas enxergo que, atualmente, vários assuntos, além da menopausa, estão entrando em discussão: violência doméstica, ausência de pais na criação dos filhos… Hoje, a gente entendeu que as redes sociais geram muita potência. Só que, com isso, tem muita gente falando também, coisas demais, gerando um excesso de informações confusas.

De onde veio a ideia de fazer o ensaio?

LP: Sempre que vou ao Brasil aproveito para fazer um trabalho fotográfico com uma turma de profissionais incríveis e que são meus amigos. Olhando as referências que guardo, encontrei um ensaio belíssimo da Nicole Kidman em que ela está meio molhada. Mostrei para o Renan [Christofoletti, fotógrafo] e disse: 'É isso! A gente faz algo assim e eu falo desse calor que eu estou sentindo. Vamos fazer foto de calor para eu falar da menopausa'. Foi uma maneira de introduzir o assunto do meu jeito, com a naturalidade que costumo abordar as coisas. Porque eu estou na menopausa, sim, mas quando me olho no espelho, ainda estou muito feliz com o que vejo. Sou muito satisfeita com a conta que eu faço. No ensaio, a beleza foi assinada por Rafael Senna e o styling por Paulo Zelenka.

Sobre a menopausa, como está sendo esse momento? Quais os maiores desafios dessa fase para você?

LP: Os calores são os sintomas que mais tenho vivido, e é uma loucura. Mas desde que comecei a me medicar, a fazer a reposição hormonal, eles melhoraram 80%. Mas, para mim, o mais difícil de lidar no começo foi com o meu próprio preconceito. Normalmente, eu namoro pessoas mais jovens do que eu. Aí, quando os primeiros sinais começaram a aparecer, há uns anos, com a pré-menopausa, eu me vi naquele momento… Cara, como vou falar de menopausa com uma pessoa que começou a vida sexual praticamente ontem, entende? Então, eu tinha receio. Mas agora estou com um homem mais maduro, com quem tenho uma relação muito mais íntima e cúmplice [Luana assumiu o namoro com o empresário Lucas Bitencourt, de 31 anos, em janeiro de 2021]. No início, fiquei meio sem saber como abordar o assunto. Mas como vi que a gente estava tendo um outro tipo de relacionamento, conversei sobre a menopausa. Eu falei: 'Lucas, a gente precisa normalizar isso'. E ele nem olhou. Aí eu entendi que era uma coisa minha, da minha cabeça, para ele era algo normal.

E com relação aos outros sintomas da menopausa, como a libido, por exemplo. Como está te impactando?

LP: Sobre a libido, acho que tem um ponto que acaba me favorecendo: eu namoro, e isso faz com que eu não tenha uma rotina. Então, eu sempre tenho a falta, e a falta é muito amiga do desejo. Estou sempre me arrumando para ir me encontrar com ele, estou sempre com saudades quando vamos nos ver. A gente se programa, tem um ritual, uma pré-organização, e isso me ajuda muito com a libido.

Quanto à insônia, eu costumo acordar muitas vezes, porque tenho meus filhos e fico sempre atenta. Mas, ao mesmo tempo, me sinto descansada porque durmo cedo com eles. E quando estou com meu namorado, durmo muito bem. Com relação ao humor, ainda não notei diferença. Eu sou brava, mas, ao mesmo tempo, sou superalegre e otimista. Ainda não sinto oscilação de humor. Mas, de qualquer maneira, eu já estou fazendo a reposição.

Você sempre trabalhou com a sua imagem. Como você encara o envelhecimento?

LP: Sou completamente consciente do meu envelhecimento, até porque sou virginiana, sou do detalhe – e trabalho desde nova com a minha imagem. Então, eu sei de cada ruga, de cada flacidez na minha coxa, cada celulite no meu bumbum. Mas eu fiz análise por muitas anos e aprendi a pensar. Além disso, viver bem, nada mais é do que você aprender a raciocinar direito, e eu sei fazer conta. Hoje, apesar da flacidez do meu pescoço, e a consciência dela me doer interiormente, eu penso: 'Que bom que estou com idade para meu pescoço estar flácido, porque eu tenho uma vida maravilhosa, quero fazer ainda muitas viagens com meu namorado, quero viver muitas coisas com os meus filhos… Então, preciso ter mais tempo de vida. E para ter mais tempo de vida, tenho que envelhecer. Sigo fazendo essa conta comigo. Vou aprendendo a agradecer cada ruga.

Quando eu era mais nova, eu tinha muito mais tônus e colágeno, mas tinha muitas inseguranças. Hoje sou uma mulher mais segura, porém, com mais flacidez e menos colágeno, e eu acho que uma coisa equilibra a outra. Ainda estou muito feliz com o que vejo no espelho. Sou uma pessoa totalmente otimista, sempre olho a metade do copo cheio e tenho uma vida muito feliz.

Luana Piovani fala sobre menopausa, como é envelhecer na indústria do entretenimento, maturidade e maternidade — Foto: Reprodução
Luana Piovani fala sobre menopausa, como é envelhecer na indústria do entretenimento, maturidade e maternidade — Foto: Reprodução

E, para você, como é envelhecer na indústria do entretenimento?

LP: Essa indústria continua sendo injusta com as mulheres. Porque, veja só: eu sigo bonita, mas hoje já faço a protagonista mãe e a minha filha na novela tem 32 anos. Eu tenho 46. Essa conta está errada. Na novela, vivo uma mulher de 55 anos. E o que isso significa? Que seguem sendo injustos, porque pegam uma mulher de 46 para fazer uma mulher de 55. Então, a mulher de 55 vai olhar para mim e pensar: 'Poxa, mas eu não estou tão bem como ela'. Não está certo. Por isso falo que terapia é muito importante, porque temos que entender a indústria do entretenimento, que tem desde a garota de 25 anos que já fez todos os tipos de intervenções estéticas possíveis e imagináveis até a crueldade com quem opta por não fazer nada e é linchado pelo julgamento da internet. É preciso ter muita maturidade para não se deixar abalar. Quando me sinto mais vulnerável, falo: 'Pô, mas eu estou na idade em que achava a Madonna mais bonita, quando ela estava com seus 45, 46 anos. Então está ótimo'. Por outro lado, acho que, quando eu estiver com 70 anos, vou querer estar com uma cara mais para vó. Uma vó gata, com brincos, usando roupas coloridas, de Pucci. Você pode continuar sendo gata e sensual, tipo a Sophia Loren, com um decote, um olhar insinuante, mas de uma mulher mais velha, não tentando reproduzir uma sensualidade de garota.

Falando em beleza, quais são os seus principais cuidados hoje?

LP: Vou ao dermatologista uma vez por ano e dou uma recauchutada: faço botox e preenchimento. Também uso filtro solar todos os dias, o resto é o básico: tiro a maquiagem, tonifico e hidrato a pele. Mas não passo creme para os olhos, sérum…. Não tenho esse ritual todo de produtos.

Muita gente ainda tem dificuldade para lidar com críticas, expectativas, imposição de padrões. Como é para você?

LP: Eu entendi uma coisa desde muito nova: eu tenho, no máximo, cerca de 100 anos aqui nessa passagem. Então, quero fazer desse período o melhor possível, porque sou eu quem estou vivendo. Sendo assim, para que eu vou deixar alguém interferir na minha alegria ou prazer de viver? Por maior que seja a carga que alguém deixou com você, joga fora. Faz a tua escolha de vida. Seja qual for seu drama – porque todo mundo tem o seu –, é você quem escolhe o que vai fazer com a sua história. Por maior que seja a bomba que a vida colocou na sua mão, você sempre tem duas opções: decidir que não quer isso e começar a fazer uma plantação do que deseja colher ou segurar a pedra que te deram e ir para o fundo da água com ela. Eu sempre entendi isso, que é preciso pegar a sua vida para você. Fazer as escolhas certas. Por isso que cabe a nós tentar ajudar quem não tem esse mínimo que eu chamo de dignidade. Porque se você tem o pão, o abrigo, o estudo e o amor, cara, você tem condições de pegar as rédeas da sua vida e fazer dela o que você quer viver.

Você falou sobre a importância de ter maturidade. O que você acha que ela te trouxe?

LP: Você aprende a desacelerar. Primeiro, não acha mais que vai mudar o mundo. O que é maravilhoso, porque tira um peso enorme das costas. Depois, porque você simplifica as coisas. Começa a ter uma visão mais ampla e a entender o que realmente importa. Você até reclama, mas dá dois minutos e lembra da guerra da Ucrânia, então acorda. Você aprende a fazer bem melhor a conta do que verdadeiramente vale a pena ou não.

E a maternidade? O que mudou em você quando se tornou mãe?

LP: Eu fiquei muito mais segura e confiante, agora eu sei que sou imbatível. Primeiro, porque eu gerei três vidas. Segundo, porque, por eles, sei que eu mato e eu morro. E aí, amor, você se descobre um Pokémon de última geração. Os filhos também te ajudam imensamente a fazer melhor a conta das prioridades da vida, tipo assim: 'É alguma coisa relacionada à saúde dos meus filhos? Não, então dane-se. Pode abrir uma cerveja pra gente conversar, porque tá tudo certo'. Meus filhos são minha prioridade.

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