Moda

Por Camila Lima

Nazaré, Portugal, 20h, meados de setembro. Mesmo com o mundo inteiro “sextando” lá fora, em uma noite quente no fim do verão europeu, a surfista Maya Gabeira aparece pontualmente para o nosso encontro via WhatsApp. Ela me conta que seu dia ainda está longe de acabar. Sobre sua mesa, há um material de muitas páginas enviado por sua editora. Precisa mergulhar nele, assim que terminarmos a entrevista, para preparar o que será o seu terceiro livro, voltado ao público jovem. Nele, narrará um pouco sobre sua longa empreitada até tornar-se uma big rider, nome dado aos surfistas experts em ondas gigantes.

Será uma espécie de retrospectiva, de uma carioca que começou a surfar no Arpoador, aos 14 anos, e se tornou profissional aos 17, quando foi morar no Havaí. E que colocou seu nome e sobrenome no Guinness Book. Mérito de uma onda de mais de 20 metros de altura, surfada em 2018 e superada em 2020, quando Maya desceu outra ainda maior, de 22,4 metros, o equivalente a um prédio de sete andares. Recorde até hoje insuperado em sua categoria.

Maya Gabeira usa joias da coleção Infinito Singular HStern — Foto: Vogue Brasil/ Marina Zabenzi
Maya Gabeira usa joias da coleção Infinito Singular HStern — Foto: Vogue Brasil/ Marina Zabenzi

Penso que o dia da atleta também está sendo longo, lembrando do post de ontem que vi em seu Instagram. Ela estava em Milão, na Fundação Prada. Maya me explica que foi uma viagem bate e volta para um encontro com Lorenzo Bertelli, diretor executivo da marca italiana. A brasileira é uma das vozes do Sea Beyond, programa educacional promovido pelo Grupo Prada e pela Comissão Oceanográfica Intergovernamental da Unesco, que visa aumentar a conscientização sobre a sustentabilidade e a preservação dos oceanos. Antes da nossa ligação, a surfista me diz que teve também uma longa reunião com um produtor canadense para começar um projeto enorme que levará seu nome. “Se Bombril fosse sustentável, eu seria a sua melhor garota-propaganda. Sou mil e uma utilidades. Faço de tudo, não paro um segundo”, diverte-se.

Filha do ex-deputado federal e fundador do Partido Verde, Fernando Gabeira, Maya nunca teve a política entre seus planos, mas o caminho para se tornar uma voz poderosa em prol dos oceanos foi praticamente inevitável. Uma extensão de uma carreira consolidada, de grande influência entre o público jovem. “Jamais tive qualquer pretensão política, mas cresci em uma família muito politizada e intelectualizada. Entendi desde cedo o que eram causas e também como fomentar mudanças”, diz.

Maya Gabeira — Foto: Vogue Brasil/ Marina Zabenzi
Maya Gabeira — Foto: Vogue Brasil/ Marina Zabenzi

Foi assim que se tornou membro do conselho da ONG Oceana, iniciando seu lado ativista de maneira formal. “A questão do plástico e de como sua invasão no litoral mexia com o mundo marinho e com o dia a dia de comunidades que viviam dele era chocante”, lembra. Da parceria e de projetos de reciclagem feitos com a ONG, veio em 2022 outro convite especial: Maya se tornou embaixadora da boa vontade da Unesco, com foco na preservação dos oceanos.

Independente da hora em que tenha ido dormir ou de quantas funções diferentes tenha realizado no dia anterior, o surfe, para ela, é algo sagrado. Maya o define como “o dono de sua vida”. Os treinamentos para evoluir no esporte acontecem diariamente – e religiosamente – em dois períodos. Quando não há onda, a atividade física é cedo na areia, com treinos de explosão, semelhantes aos dos jogadores de futebol. À tarde, outra etapa de treinamento, que pode ser na piscina ou no mar, praticando apneia.

Maya Gabeira — Foto: Vogue Brasil/ Marina Zabenzi
Maya Gabeira — Foto: Vogue Brasil/ Marina Zabenzi

É preciso pulmões de aço para quem pratica uma modalidade como a sua. Maya consegue ficar quatro minutos debaixo da água. Para muitos especialistas no assunto, foi graças a essa técnica que a surfista saiu praticamente ilesa, apenas com o tornozelo quebrado, do grave acidente de 2013, no mesmo mar de Nazaré, que quase lhe tirou a vida. “Demorei muito para superar o trauma. É como voltar a dirigir um carro depois de sofrer um acidente muito sério”, diz.

Maya lembra dos tempos difíceis depois do acidente, quando veio a enxurrada de críticas a respeito do seu trabalho e muitos questionamentos quanto às suas habilidades. “A verdade é que entrei num território que deveria ser conquistado apenas pelos homens. O surfe é um ambiente muito machista. A moda surfwear feminina, por exemplo, vende no mundo muito mais do que a masculina, mas, no entanto, a maioria das grifes é comandada por homens. Os meninos também seguem como maioria na prática do esporte. É ainda raro encontrar meninas ao meu lado, treinando no mar”, diz.

Maya Gabeira — Foto: Vogue Brasil/ Marina Zabenzi
Maya Gabeira — Foto: Vogue Brasil/ Marina Zabenzi

Com quase 20 anos de carreira em um esporte de alto impacto, Maya se sente bem aos 36. “Como surfista, há coisas que realmente melhoram com o tempo. Para se sentir confortável diante de ondas gigantes, é imprescindível ter experiência, anos de prática. Você aprende a ler a onda, a interpretá-la e, principalmente, o momento certo de tomar qualquer decisão. Infelizmente, fisicamente, não é bem assim, há sempre um desgaste enorme.”

De tanto ter o sal arremessado em seu rosto, os olhos de Maya criaram peles que podem atingir a pupila e, em breve, levá-la a uma cirurgia. Ao longo dos anos, passou também por três operações na coluna. Parte de 2023 foi longe da praia, tratando uma hérnia de disco com muita fisioterapia. “Tenho a coluna bastante comprometida. E, provavelmente, uma garra bem maior do que a maioria das pessoas por enfrentar todas essas dores e seguir firme no meu propósito”, explica.

Maya Gabeira — Foto: Vogue Brasil/ Marina Zabenzi
Maya Gabeira — Foto: Vogue Brasil/ Marina Zabenzi

A ansiedade é outra de suas maiores inimigas. “Comecei a sofrer desse mal muito cedo. Tinha tonturas, enjoos, vomitava sem parar. Fui internada muitas vezes e, no hospital, o tratamento era sempre o mesmo: me apagavam e eu acordava melhor. Até que, em 2017, não foi assim. Despertei ainda pior.”

Veio o diagnóstico, aos 30 anos, de que sofria de um transtorno de ansiedade severo. Desde então, ela se trata com medicamentos e acompanhamento de seu psiquiatra. Sente-se muito mais à vontade diante de um mar revolto, praticamente seu habitat natural, do que em ambientes com muita informação e cheios de gente, como, por exemplo, os aeroportos. “Meu equilíbrio eu encontro no mar. Todo dia, bem cedinho, pego uma das peras do meu jardim, entro no carro e vou surfar. Depois, estou pronta para o que der e vier.”

Maya Gabeira — Foto: Vogue Brasil/ Marina Zabenzi
Maya Gabeira — Foto: Vogue Brasil/ Marina Zabenzi
Maya Gabeira — Foto: Vogue Brasil/ Marina Zabenzi
Maya Gabeira — Foto: Vogue Brasil/ Marina Zabenzi
Maya Gabeira — Foto: Vogue Brasil/ Marina Zabenzi
Maya Gabeira — Foto: Vogue Brasil/ Marina Zabenzi
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