Moda

Por LUXAS ASSUNÇÃO


Looks da coleção O Outro Lado, inspirada em sua mãe e desfilada em julho na Casa de Criadores — Foto: Gustavo Ipolito
Looks da coleção O Outro Lado, inspirada em sua mãe e desfilada em julho na Casa de Criadores — Foto: Gustavo Ipolito

No Baile da Vogue deste ano, um mesmo estilista vestiu 16 celebridades, de Camila Pitanga a Giovanna Ewbank, de maneira espontânea, semações de marketing envolvidas. Os vestidos fluidos com transparências, flores em 3D e inserções de látex e brilhos (parte da coleção O Jardim de Iracema) se encaixavam perfeitamente ao tema “Sonho de uma noite de verão”. No dia seguinte, muitos podem ter se perguntado quem era Rober Dognani e por que ele fora a escolha de grandes nomes do entretenimento brasileiro para a noite.

Looks da coleção O Outro Lado, inspirada em sua mãe e desfilada em julho na Casa de Criadores — Foto: Gustavo Ipolito
Looks da coleção O Outro Lado, inspirada em sua mãe e desfilada em julho na Casa de Criadores — Foto: Gustavo Ipolito

O estilista de 48 anos desfila desde 2003 na Casa de Criadores, é cofundador da Das Haus (multimarcas de moda na Galeria Ouro Fino, em São Paulo, onde é possível encontrar sua etiqueta e de outros nomes brasileiros), criou peças e desfiles para clipes e produções audiovisuais (incluindo a segunda temporada de Verdades Secretas) e surfou na crista da onda do beachwear brasileiro nos anos 2010, ao participar de coleções para grifes como Adriana Degreas e Cia. Marítima. São 20 anos de uma marca autoral resiliente e uma presença marcante na moda nacional, ainda que discreta, tudo isso sem abrir mão de seu modo de produção slow, apenas com peças únicas ou sob demanda.

Looks da coleção O Outro Lado, inspirada em sua mãe e desfilada em julho na Casa de Criadores — Foto: Gustavo Ipolito
Looks da coleção O Outro Lado, inspirada em sua mãe e desfilada em julho na Casa de Criadores — Foto: Gustavo Ipolito

Rober desenhou seu primeiro croqui aos 4 anos. Sua mãe era cabeleireira e atendia noivas em casa aos sábados. Um jovem Roberval observava essas mulheres e com um lápis e papel imaginava seus vestidos nupciais – desenhos estes que ele guarda até hoje, em um recheado caderno de memórias. “Lembro de, na década de 1980, comprar mensalmente todas as edições da Vogue Brasil na banca perto de casa.”

Looks da coleção O Outro Lado, inspirada em sua mãe e desfilada em julho na Casa de Criadores — Foto: Gustavo Ipolito
Looks da coleção O Outro Lado, inspirada em sua mãe e desfilada em julho na Casa de Criadores — Foto: Gustavo Ipolito

Nascido em Fartura, São Paulo, Roberval (antes de se tornar Rober Dognani) fundou uma academia de dança aos 17 anos. Ele não estudou formalmente a arte, mas sempre se interessou pelo universo e sonhava em se tornar coreógrafo. Essa performatividade e teatralidade se tornariam espinhas dorsais de seu trabalho, que tem grandes influências do figurinismo. Outro ponto central de suas inspirações é a religião. “A grandeza, a dramaticidade e a opulência da Igreja sempre me fascinaram. Eu criava a mitra [chapéu usado pelos papas] com papelão e saía beijando o chão quando criança”, diverte-se.

O estilista Rober Dognani — Foto: Ale Ruaro
O estilista Rober Dognani — Foto: Ale Ruaro

Mais ou menos como se desenrolou com a dança, de maneira autodidata, se criou na moda. Não havia uma educação formal na área disponível em Fartura, e o preço de uma mudança para São Paulo era muito alto (na época, o curso era restrito às universidades privadas). Desde criança, a mãe de Rober lhe ensinava os básicos da costura, onde iam os vincos e as pregas, mas seu forte sempre foi o desenho. Começou criando vestidos de noivas e de festa para a mãe e amigas: de tempos em tempos, visitava São Paulo, onde comprava tecidos para desenvolver tais peças e as roupas das apresentações de dança de sua academia. Aos 21 anos, decidiu viver o sonho da moda na capital paulista. Juntou dinheiro vendendo doces de festa e se mudou com seu primo para uma república na cidade. Assim mesmo: sem lenço e sem documento – e sem emprego planejado. Durante 14 anos, trabalhou em uma loja de tecidos nobres na Rua Augusta. Ali, teve, pela primeira vez, contato com matérias-primas usadas por grandes grifes e conheceu estilistas como Clodovil, Lino Villaventura e Walter Rodrigues.

Em 2003, Rober se inscreveu para um concurso da Casa de Criadores e foi convidado para estrear na semana de moda. Ele ainda não tinha uma coleção, ou sequer uma marca. A tecelagem na qual trabalhava na época doou os tecidos e Rober voltou para o interior, onde criou os looks em poucas semanas. Sua mãe costurou todas as peças. Desde então, participa das duas edições anuais da Casa de Criadores. “Sou apaixonado por desfiles, se a roupa não vender, tudo bem! Já houve convites para o São Paulo Fashion Week, já tive esse sonho, mas tenho muita gratidão à Casa. Eu gosto da energia e do ambiente do evento.”

Durante todos esses anos, Rober trabalhou com Helenita, uma costureira que, mesmo sem querer, o ajudou a definir boa parte dos códigos da marca. Foi sua única parceira, até que sofreu um acidente – do qual felizmente se recuperou.

Foi pela necessidade de criar peças sem precisar costurá-las durante esse período, que Rober começou a trabalhar com o látex, que viria a se tornar uma de suas mais importantes assinaturas. O estilista diverte-se com a denominação “moda festa”. “Acho que se você for a um casamento com minhas peças, vão estranhar!”

Durante nossa entrevista, fica claro que Rober Dognani é um romântico. No melhor sentido da palavra. Um verdadeiro apaixonado por moda. O que o move verdadeiramente é a paixão por criar: todas as peças são únicas, não há produção em larga escala e ele não tem vontade de fazer nada mais comercial. Os vestidos que vende para suas clientes (por, em média, R$ 3.000) são as próprias peças desfiladas, além de, frequentemente, aceitar encomendas, cujos preços variam de R$ 15 mil a R$ 20 mil. “Também faço muito desenvolvimento para artistas, figurinos e roupas para shows, clipes e projetos audiovisuais. Assim, consigo garantir a manutenção da minha marca e continuo criando moda da forma que acredito e que me dá prazer.”

Fato é que começar com R$ 200 e se manter durante 20 anos na moda brasileira não é tarefa fácil: “Marcas começaram e acabaram. Tudo mudou: a forma de criar coleções, de apresentar desfiles. É difícil fazer moda no Brasil. Consegui com muita dificuldade, às vezes a conta fecha no vermelho mesmo. Mas, quando se ama o que faz, é recompensador”. Ao longo dos últimos meses, Rober tem colhido mais louros: suas duas últimas coleções, O Jardim de Iracema e O Outro Lado, ambas inspiradas em sua mãe, que faleceu em abril deste ano, foram aclamadas, viralizaram no TikTok e foram parar nos armários das famosas. “Sinto que esse reconhecimento vem em ondas. É algo que vai e vem, é difícil de manter. Mas estou há 20 anos tendo pequenas ondas!”, conclui, bem-humorado. Rober não costuma fazer muitos planos para o futuro, mas seu próximo desfile já está ganhando forma (“é sobre sexo, proibidão, vai causar!”), novos projetos estão no horizonte (no momento, cria figurinos para o festival The Town) e ele sonha em se apresentar em Paris, umdia.“Daqui 20 anos, olharemos para a moda como hoje olhamos para os anos 2000. A tecnologia e a inteligência artificial devem mudar a maneira como criamos, e não sabemos muito ainda sobre o que está por vir

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