Moda

Por Nathan Heller


“Quando eu comecei na marca, me sentei coma equipe e perguntei: o que é a Bottega?”, diz Matthieu Blazy. A partir da esq., Mamuor e Nyaueth vestem regatas de algodão canelado, calças de lã e bijoux folheadas a ouro, com olho-de-tigre e esmalte. Todos os looks são da coleção de estreia de Blazy na Bottega Veneta — Foto: Rafael Pavarotti
“Quando eu comecei na marca, me sentei coma equipe e perguntei: o que é a Bottega?”, diz Matthieu Blazy. A partir da esq., Mamuor e Nyaueth vestem regatas de algodão canelado, calças de lã e bijoux folheadas a ouro, com olho-de-tigre e esmalte. Todos os looks são da coleção de estreia de Blazy na Bottega Veneta — Foto: Rafael Pavarotti

Em uma noite de quinta-feira de primavera, o lobby do Hotel Danieli, perto da Piazza San Marco, em Veneza, desperta e, com o crepúsculo batendo nas janelas, ganha vida em um impressionante vestido de noite. Mulheres caminham entre a mobília usando ternos amarelos e vestidos lindamente drapeados. Homens circulam pelo piso de pedra e tapetes antigos usando sapatos interessantes. Os hóspedes são glamorosos e inquietos. Veneza, a cidade que não muda, parece estar em um transe de energia totalmente nova.

Casaco, calça cropped e luvas, tudo de couro, e brincos de prata e esmalte — Foto: Rafael Pavarotti
Casaco, calça cropped e luvas, tudo de couro, e brincos de prata e esmalte — Foto: Rafael Pavarotti

Matthieu Blazy aparece de repente e desce feito um redemoinho a escadaria principal do hotel em direção à multidão que lá se encontra. Ele é alto, cabelo castanho-claro curtinho, e usa um terno de verão cor de bronze de modelagem solta e abotoamento duplo – blazer aberto, com as mangas arregaçadas, sobre uma camiseta preta. Os sapatos são de couro preto macio trançado, e sua postura transpira uma confiança lúcida. No fim do ano passado, aos 37 anos, Blazy foi nomeado diretor criativo da Bottega Veneta, depois de uma carreira que, para muitas pessoas, parecia um jogo de “se esconder em plena vista de todos” (como o artista Sterling Ruby, que trabalhou com Blazy, diz: “Pensei: está mais do que na hora”).

“Há uma profundidade de várias vidas no processo dele [Blazy] de decisões – algo que existe fora do espaço e do tempo”, diz Ye. Vestido de couro com franjas, brincos de prata, zircônia e esmalte. — Foto: Rafael Pavarotti
“Há uma profundidade de várias vidas no processo dele [Blazy] de decisões – algo que existe fora do espaço e do tempo”, diz Ye. Vestido de couro com franjas, brincos de prata, zircônia e esmalte. — Foto: Rafael Pavarotti

Ao sair da faculdade, Blazy foi contratado por Raf Simons, depois passou pela Maison Martin Margiela e pela Celine, onde era conhecido por ter um entendimento pragmático do mercado e pelo interesse por arte. Antes de ser promovido e assumir a direção da Bottega Veneta, Blazy era o diretor de design da marca (a posição número 2, abaixo de Daniel Lee, que partiu repentinamente no ano passado) e diz que pouca coisa em seus hábitos de trabalho mudou com a promoção. “Gosto de trabalhar em equipe. Não sou eu olhando produtos e dando opiniões”, diz. “Há algo igualitário na maneira como ele trabalha”, conta a artista Anne Collier, que criou uma fragrância ao lado de Blazy. “Ele não é egocêntrico ou hipernarcisista nem faz o estilo megadiva nem nada do tipo.” “Matthieu é, eu acho, uma das pessoas mais adoráveis que já conheci na vida”, completa Raf Simons.

Malha de lã, saia de couro com franjas, sapatos de couro gravado e brincos de prata  — Foto: Rafael Pavarotti
Malha de lã, saia de couro com franjas, sapatos de couro gravado e brincos de prata — Foto: Rafael Pavarotti

Ele também é, descubro, um homem difícil de acompanhar. Enquanto a multidão no Danieli cresce, Blazy de repente vai embora pela pequena porta lateral do hotel, onde um táxi aquático como motor roncando o aguarda. É uma noite fria, e uma chuva começa a cair sobre o porto. O táxi aporta na Punta della Dogana, um curioso espaço triangular que já foi sede da alfândega veneziana, e o estilista sobe para terra firme em direção a um prédio que serve de museu para a coleção de arte de François Pinault – cujo grupo do qual é dono, o

“Matthieu tem um espírito muito livre. Ele é muito ousado, nunca tem medo de mostrar coisas mais experimentais”, diz Raf Simons. A partir da esq., Mao veste casaco de lã de feltro e calça de lona de algodão; e Wang veste casaco e calça, tudo de lã.  — Foto: Rafael Pavarotti
“Matthieu tem um espírito muito livre. Ele é muito ousado, nunca tem medo de mostrar coisas mais experimentais”, diz Raf Simons. A partir da esq., Mao veste casaco de lã de feltro e calça de lona de algodão; e Wang veste casaco e calça, tudo de lã. — Foto: Rafael Pavarotti

Kering, adquiriu a Bottega Veneta no início dos anos 2000. É véspera da Bienal de Veneza, e a Bottega é anfitriã de um jantar para convidados importantes. Um trabalho em vídeo do artista Bruce Nauman se estende por duas das paredes brancas da galeria, e a noite tem o mood de uma cerimônia de posse: um conglomerado de luxo apresentando seu mais recente príncipe, há tempos escondido.

“Sempre quis trazer a Bottega a um lugar onde faz mais parte do aspecto cultural da sociedade”, diz Blazy. Vestido de paetês e botas de couro. — Foto: Rafael Pavarotti
“Sempre quis trazer a Bottega a um lugar onde faz mais parte do aspecto cultural da sociedade”, diz Blazy. Vestido de paetês e botas de couro. — Foto: Rafael Pavarotti

Desde que chegou, a abordagem de Blazy tem sido se direcionar para a singularidade e para a arte como um alívio do frenesi social online. Ou, em suas palavras: “Quantos influencers conseguem realmente influenciar algo que já foi influenciado 5.000 vezes antes?”. O luxo, no fim, significa qualidade duradoura. “Há uma profundidade de várias vidas em seu processo de tomada de decisão – algo que existe fora do tempo e espaço”, diz Ye (anteriormente conhecido como Kanye West), que sempre admirou o trabalho de Blazy. “Acho que é superimportante que, neste momento pós-hype do Instagram, indivíduos profundamente conectados tenham uma luz brilhando em sua plataforma... é hora de fazer um reset.

Vestido de renda com paetês, slip dress de renda, luvas de renda com paetês, botas de couro, brincos e choker folheados a ouro com zircônias e esmalte  — Foto: Rafael Pavarotti
Vestido de renda com paetês, slip dress de renda, luvas de renda com paetês, botas de couro, brincos e choker folheados a ouro com zircônias e esmalte — Foto: Rafael Pavarotti

No jantar, Blazy se levanta para dar um modesto discurso de boas-vindas; quando chega a hora da sobremesa, ele já havia desaparecido de novo. “Minha sensação favorita de todas é quando você vai a uma cidade nova, sai do hotel e começa a vagar por aí”, me conta enquanto tomamos um café na manhã seguinte, no Caffè Florian, uma casa do século 18 primorosamente antiquada. Depois do jantar, ele confessa, saiu com amigos e ficou fora até as 3h da manhã. Ao terminarmos nosso segundo café, ele me leva para atravessarmos a praça e irmos até o showroom da máquina de escrever Olivetti, uma joia da metade do século feita de vidro, concreto, madeira e aço, projetada pelo arquiteto Carlo Scarpa. É seu espaço favorito no mundo, conta, “pela modernidade, relevância e eternidade”. “A Bottega Veneta é uma empresa de bolsas”, me diz com um sorriso acolhedor, como se isso explicasse tudo, antes de desaparecer entre a multidão da Piazza San Marco. “Significa que você está sempre a caminho de algum lugar quando usa nossas peças – simples assim.”

Blazy é, ele próprio, uma criança agitada, e as improváveis justaposições que ele faz durante a vida são resultado disso. Nascido em Paris, cresceu comum pai especialista em arte e uma mãe historiadora, e passou a infância frequentando casas de leilões e absorvendo essa variação eclética. Ele descreve a si mesmo como sendo imaginativo, inquieto e indisciplinado. “Não me interessava pela escola. Tive alguns ótimos professores, mas odiava a ideia dos exercícios”, diz. “Eu era bem selvagem. Portanto fui enviado a uma instituição de padres no meio do nada na França [um colégio interno marista na região de Ardèche].” Aos 15 anos, foi para um colégio militar na Inglaterra, uma experiência não desagradável. “Quanto mais limites você tem, mais liberdade consegue encontrar nas coisas pequenas”, diz.

Mamuor e Nyaueth vestem camisa de flanela de lã e calças de flanela de lã. Nyaueth veste brincos de prata, turquesa e esmalte — Foto: Rafael Pavarotti
Mamuor e Nyaueth vestem camisa de flanela de lã e calças de flanela de lã. Nyaueth veste brincos de prata, turquesa e esmalte — Foto: Rafael Pavarotti

Aos 16, permitiram que voltasse a Paris, onde se matriculou em um colégio internacional com alunos com experiências bastante diversas. Ele adorou, e ficou amigo de uma tribo de alunos interessados em moda, sendo que vários deles continuam seus amigos. “Eu nunca não me interessei pela moda”, relembra. Um vizinho administrava uma agência de modelos, e ele assistiu à primeira safra de supermodelos dos anos 1980 passando pelo jardim que dividiam. Logo aprendeu a garimpar na cesta de reciclagem de revistas, analisando os títulos deixados para trás: i-D, The Face, Vogue. Blazy se matriculou na LaCambre, a academia de design em Bruxelas. “O sistema era quase como Bauhaus: você fazia um curso de moda, mas também aprendia sobre música, arte, semiologia, semântica. Era possível absorver muita coisa”, conta. Enquanto estudava, estagiou no departamento de moda feminina da Balenciaga, naquela época sob a direção de Nicolas Ghesquière, e participou do concurso International Talent Support, em Trieste, com juízes que incluíam Raf Simons e a crítica de moda Cathy Horyn. “Pensamos: ‘Ah, está muito claro. Ele é o vencedor!’”, conta Raf. “E então ele não venceu. Perguntei-lhe: ‘O que vai fazer? Porque adoraria que viesse trabalhar para mim’.”

“Matthieu é um espírito bastante livre, quase um hippie no modo de pensar”, continua Raf. “Às vezes, você tem pessoas ao seu redor que só fazem aquilo que foi conversado, mas ele é muito ousado, nunca tem medo de mostrar algo bastante experimental. Posso dizer o que quiser para Matthieu e ele nunca vai se ofender. Tipo: ‘Ah, não. Acho essa ideia ridícula. Por favor, de jeito nenhum!’. Ele não se importa, porque é muito livre. E, depois, traz coisas extraordinárias.”

“Alguns anos atrás, eu não estaria pronto para esse trabalho”, diz Blazy. Vestido de lã de alpaca, botas de couro e brincos folheados a ouro. — Foto: Rafael Pavarotti
“Alguns anos atrás, eu não estaria pronto para esse trabalho”, diz Blazy. Vestido de lã de alpaca, botas de couro e brincos folheados a ouro. — Foto: Rafael Pavarotti

Um dos colegas de Blazy na equipe de Raf foi Pieter Mulier, agora seu parceiro de longa data e diretor criativo da Alaïa. Mulier estava entre as pessoas que entrevistaram Blazy (“estava extremamente nervoso, tadinho”) e ficou intrigado e emocionado pela maneira como ele apresentou seu portfólio: os designers geralmente trazem imagens do seu trabalho, mas Blazy apareceu carregando toda sua coleção – ele queria que as pessoas pudessem mexer nas roupas. Blazy havia feito tudo sozinho, e Mulier ficou impressionado com suas habilidades técnicas. “Quando você olha para as coleções de Raf depois de sua chegada, elas se tornam, em termos de estampas, muito mais complicadas, muito mais complexas, e foi por causa dele”, diz Mulier. Depois de ir morar junto, o casal Mulier e Blazy começou a colecionar arte e roupas vintage – de todos os períodos, todos os tipos de peças –,muitas das quais usam como fonte de inspiração. No início do relacionamento de 16 anos, discutiam trabalho o tempo todo. Ultimamente, quase nunca. “Durante as coleções, não mostro nada a ele, e ele não me mostra nada”, diz Mulier. “De outra maneira, ficaríamos loucos.”

Durante a década de 2010, Mulier permaneceu ao lado de Raf, enquanto Blazy fez um “tour” pela indústria. Na anônima equipe da Maison Margiela, ele foi o criador das máscaras cravejadas de cristais que se tornaram um assinatura da turnê Yeezus, de Kanye West, em 2013. “De modo interessante, eu tinha vergonha de usar aquelas máscaras em público e só queria usar no palco, até que adotei a ideia de que o mundo era um palco”, conta Ye. Na Celine de Phoebe Philo, ele trabalhou não nas principais linhas, mas nas pré-coleções, o melhor lugar para experimentar a pressão comercial. Durante todo o tempo, ele e Mulier permaneceram perto de Raf Simons, cuja casa no sul da França ainda visitam durante feriados – e cujos conselhos sobre como cuidar de um pet eles procuraram depois de comprar um cachorro preto chamado John John. “Minha cachorra é melhor amiga do cachorro deles!”, Raf exclama. “Ela ensinou o menininho deles a nadar.”

Quando Blazy e Mulier assumiram o controle, respectivamente, da Bottega Veneta e da Alaïa, em 2021, os novos papéis trouxeram novas pressões à vida compartilhada do casal. “Digamos que não é a coisa mais fácil. Às vezes, não o vejo por três semanas ou por um mês”, diz Mulier. “Sempre trabalhamos juntos pelas metas um do outro, e é bastante peculiar que tenhamos entendido nossos sonhos no mesmo momento.” Eles sempre trabalharam muitas horas, mas agora a percepção do público – e do corporativo – de sucesso ou de fracasso cairá em cima de seus próprios nomes. Eles conhecem os riscos.

Em 2016, Blazy e Mulier se mudaram para Nova York para se juntarem a Raf na Calvin Klein, onde ele havia sido contratado como chief creative officer. A grife era um gigante, com inúmeras viradas de coleções; Blazy e Mulier desenhavam peça após peça e ajudaram a repaginar a flagship da Madison Avenue. Porém, em 2018, a tensão entre Simons e os líderes corporativos da marca levaram o projeto a um repentino fim, e Blazy e Mulier saíram não apenas desapontados, mas criativamente desmoralizados. Blazy tirou uma folga, sem ter certeza se continuaria no setor. “Eu realmente me questionava: Por que você gosta de fazer esse trabalho? Por que comecei nesse emprego?” Ele foi a Los Angeles visitar Sterling Ruby e sua esposa, Melanie Schiff, que estavam fazendo roupas no estúdio de Ruby, e os ajudou. “O prazer de simplesmente fazer, apenas trabalhar em roupas e silhuetas sem qualquer ideia comercial”, Blazy relembra, “realmente me colocou de volta nos trilhos.

O diretor criativo Matthieu Blazy — Foto: Rafael Pavarotti
O diretor criativo Matthieu Blazy — Foto: Rafael Pavarotti

Quando ele se tornou diretor criativo da Bottega Veneta, sabia qual era sua missão. “Quando aceitei o emprego, sentei- me com a equipe – estilistas, mas também pessoas que estavam na empresa há 20 anos – e perguntei a nós mesmos uma questão simples: o que é a Bottega?”, conta. “O que é habilidade, e onde ela fica na tradição? Como podemos trazer modernidade? Não falamos sobre forma. Não falamos sobre imagem. Foi sobre a sensação da marca.” Saiba onde você começou, pensou ele, e você pode ir a qualquer lugar.

Em Milão, Blazy acorda cedo e caminha até o escritório, parando com John John no parque de cachorros no caminho. Tenta estar em sua mesa logo depois das 8h – ele trabalha melhor pela manhã – e geralmente não sai antes das 20h. “A essa altura, meu cérebro está queimado”, diz. Certo dia, ele interrompe seu trabalho para se encontrar comigo no showroom da Bottega Veneta na sombra do Museo Nazionale della Scienza e della Tecnologia Leonardo da Vinci, onde suas mais recentes coleções estão penduradas em araras cuidadosamente editadas. “Gosto quando as roupas parecem meio que arquitetônicas – elas devem ser sexy no cabide”, diz Blazy. Em La Cambre, ele aprendeu a desenhar em um processo circular, e é assim que ele ainda trabalha: começando com uma pilha de tecidos interessantes, estudando como as peças se movem e sentem, e aprimorando até que cada roupa ganhe vida. Essa abordagem intuitiva produz resultados inesperados. Blazy é conhecido por cortar formas não convencionais que, no corpo humano, são drapeadas de formas lindas e naturais. “As roupas não são necessariamente sua primeira ideia do que pode ter um caimento perfeito”, diz Anne Collier. “Mas então elas têm, de maneira incrível.”

Enquanto passeamos pelo showroom, Blazy puxa uma bolsa da prateleira. “Você consegue ver o trabalho manual perfeito”, comenta. “Não tem emendas.” A trama estilo cesta desta bolsa específica se prende por meio de um único anel de aço em uma alça grossa de corda que deve ser pendurada sobre o ombro. Todas devem ser trançadas à mão, o que significa que nenhuma é idêntica à outra. “Isso é luxo”, afirma. Essa bolsa, Blazy me diz, foi inspirada no personagem italiano de desenhos animados Calimero, um pintinho que carrega seus pertences em uma trouxa. “É a bolsa que abriu o desfile.”

Esse desfile de estreia, que aconteceu em fevereiro, foi anunciado como um triunfo de tradicionalismo e inovação. O look de abertura: uma mulher jovem vestindo uma regata branca, uma calça jeans azul e saltos pretos e práticos, a passos largos pela passarela com uma bolsa Kalimero pendurada em seu ombro. Ou era o que pareceu. A calça era na verdade feita de couro macio, com camadas de tinta para proporcionar a aparência de uma calça jeans. Seria ironia conceitual? Ou seria apenas o que parecia: um look casual atemporal e despretensioso, cheio de sensualidade e funcionalidade, sendo o luxo conhecido apenas por aquela que o veste?

Toda a coleção brilhava com uma dualidade em comum. Por um lado, havia as peças deslumbrantes e ousadas: as calças extraordinárias em couro, movimentando-se como seda; as jaquetas com corte de camisa, os casacos em lã tingida para se parecer com o piso do aeroporto de Malpensa em Milão; as franjas nas barras das saias. Por outro lado, havia uma coleção de vestibilidade irresistível. Um casaco possui mangas dinâmicas e crescentes; outra jaqueta, por outro lado, é apresentada de maneira pura e simples. (“Sou atraído pelo fato de que ela parece completamente sem design”, Blazy diz. “É uma jaqueta muito bem-feita. E isso é o suficiente.”) As peças criam vida no ângulo de perfil. Na preparação, Blazy estudou futurismo italiano, particularmente o trabalho de Umberto Boccioni, e refletiu sobre a obra Walking Man, de Alberto Giacometti. “Queríamos que fosse convencional de frente, nada desenhado demais – mas aí quando você olha o lado, bang!”, diz. “Esse é nosso território: a silhueta.”

Enquanto me leva pelo showroom, exibindo suas mais recentes inovações – um sapato inspirado em cogumelos venenosos, suas explorações pelo amarelo e verde profundo –, ele sempre volta para as bolsas. Uma se chama JJ, porque, quando ele a colocou no chão e segurou a alça, lembrou das caminhadas com seu cachorro John John. Outra é inspirada em um capacete – não usado na cabeça, e sim pendurado na mão, em uma pose poderosa e esportiva. “É um mix entre o sofisticado e o divertido”, diz Blazy. Seu apartamento em Milão é um monumento para uma estética mais pessoal. “É uma história engraçada. Quando consegui o emprego, fui na internet para ver o que tinha no mercado e encontrei esse apartamento para alugar. Eu pensei: ‘ já estive aí’.” Ele ligou para o número no anúncio e disseram que ele poderia ver o apartamento naquele momento. “Eu entrei e fiquei : ‘eu já vim aqui, talvez uns 15 anos atrás, quando Raf estava na Jil Sander.’ Era a casa dele!” Ele comprou o apartamento sem pensar duas vezes.

O apartamento é claramente não renovado. O chão é deum mármore verde-escuro, as paredes são de painéis de madeira. Uma pequena lareira de pedra com uma tela e coifa de latão é emoldurada por tijolos aconchegantes, com cor de carvão. Entre os quartos, há portas sanfonadas de couro negro, e parte do teto é feita de treliça. “Eu vim com pouquíssimos móveis. Pensando que, sabe, talvez eu desenvolvesse o apartamento ao longo do tempo. Mas quanto mais eu penso nisso, mais eu acho que vou manter ele vazio.”

A ideia de Blazy sobre a felicidade, ele diz, é parar em um café depois do trabalho, tomar uma ou duas cervejas e pensar sobre imagens enquanto pessoas à sua volta vivem suas vidas com pressa. Ele me leva ao seu bar favorito, o Quadronno. Quando ele não está ativamente trabalhando, fica de olho em galerias e leilões, tentando enxergar o que está acontecendo no mundo da arte. “Eu sempre quis trazer a Bottega a um lugar onde faz mais parte do aspecto cultural da sociedade”, diz. Quando ele considerou sair da moda, conta que pensou em estudar para ser curador de arte. Seus entes queridos o convenceram a não fazer isso (“Alguém na minha família disse: ‘Continua no seu negócio, você é muito bom’”), mas o afeto por essa área permaneceu. Ele descreve a si mesmo como um pintor de domingo, serenamente medíocre. “Qual é o seu estilo de pintura?”, eu pergunto. “O estilo é pintor de domingo,” ele responde.

Blazy pede mais um spritz, acende outro cigarro. O que ele faz não é arte, ele diz – é ofício –, mas ainda há uma grande curva de aprendizado. “Quanto mais você se encontra, mais descobre pelo que é ou não atraído”, diz. “Alguns anos atrás, eu não estaria pronto para esse trabalho.” Ele não sente mais isso. Bottega Veneta não foi sua primeira oferta para assumir um posto de diretor criativo, mas foi a primeira à qual ele pulou comprazer e sem hesitação – a primeira que chegou quando ele sentia que finalmente chegou ao fim de seu longo e brilhante tempo como aprendiz. “Eu estava simplesmente mais confiante”, conta, deixando seus olhos passearem pela dinâmica vida da cidade à sua volta. “Estava pronto para trabalhar.”

Edição de moda: Kate Phelan

Cabelo: Eugene Souleiman

Maquiagem: Chiao Li Hsu

Unhas: Lauren Michelle Pires

Set design: Ibby Njoya

Produção: Holmes Production

Digital artwork: Dtouch London

Modelos:Mamuor Awak, Mao Xiaoxing, Nyaueth Riam, Mona Tougaard eWang Chen Ming

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