Roteiro Paris: 3 exposições para visitar já

A expressão grandiosa não poderia ter sido mais clara na visão de Anthony Vaccarello para Saint Laurent, e uma exposição no Musée Saint Laurent Paris nos leva de volta ao local onde começou esse fascínio radical pelos tecidos. Supervisionadas pela diretora do museu, Elsa Janssen, e com curadoria de Anne Dressen como consultora artística, as cinco seções consolidam como o costureiro usou a transparência para sugerir nudez enquanto explorava a luz, o movimento e a forma.

Os designs marcantes incluem o vestido de festa transparente com ziguezagues de lantejoulas estrategicamente posicionados e uma blusa transparente usada com uma jaqueta estilo smoking e bermudas (ambos da coleção de alta-costura da primavera de 1968), juntamente com criações posteriores onde recortes de tule e renda revelam partes do corpo. Enquanto um tema destaca a fluidez da transparência, outro ilustra como ela pode ser estruturada. Ao longo de todo o percurso, as salas são encenadas de forma encantadora e justapostas a referências artísticas; uma delas apresenta vestidos em tons suaves e vívidos, suspensos sem peso, enquanto o famoso vídeo da dançarina Loïe Fuller, retratada no curta dos irmãos Lumière, captura as possibilidades desenfreadas do tecido esvoaçante. Fotografias de Man Ray e obras de arte de Francis Picabia enriquecem esta premissa oportuna - ou atemporal - que revela como Saint Laurent encontrou infinitas maneiras de repensar o elegante e o erótico, desafiando as mulheres a vivenciar isso como uma espécie de empoderamento

Reconhecida principalmente por um rosto e figura impecáveis que estamparam as capas da Vogue, Harper’s Bazaar e Time, Lisa Fonssagrives-Penn ostentou uma gama de talentos ao longo da vida, desde os primeiros anos de sua carreira como dançarina e fotógrafa até a criação de esculturas e lançamento de uma marca de moda. Tom Penn, filho de Lisa Fonssagrives-Penn e Irving Penn, confiou ao museu uma seleção substancial de fotos antigas de sua família ao longo de duas décadas.

Várias fotos tiradas por seu primeiro marido, Fernand Fonssagrives, mostram-na tanto em estúdio quanto ativa, exalando um élan atlético. “Ela também era fotógrafa e esteve muito envolvida nas sessões fotográficas com Fernand”, disse a cocuradora Frédérique Dolivet. “Ela considerava a fotografia como uma dança estática e [quando posava] interagia com seus fotógrafos.”

Na exposição, há imagens requintadas de Horst. P. Horst e Louise Dahl-Wolfe, além da excelente série de Erwin Blumenfeld dentro da Torre Eiffel e uma extravagante colagem de Schiaparelli. Depois, há as fotos de Irving Penn que evocam uma proximidade palpável, o que talvez explique por que seu filho optou por mantê-las em sua coleção.

Em cartaz até 25 de agosto.

Em 2022, Lou Stoppard, jornalista de moda, autora e curadora radicada em Londres, iniciou uma residência no MEP na qual criou encontros entre a coleção de fotografias da instituição e participações fragmentadas no diário Exteriors da venerada escritora francesa Annie Ernaux. Por sorte, Ernaux ganhou o Prêmio Nobel de Literatura quando o projeto já estava em andamento. Esta ligação convincente entre fotografia e escrita apresenta páginas do livro (publicado em 1993 como Journal du Dehors) ao lado de uma miríade de obras que não são limitadas por tempo ou lugar, com Gary Winogrand, Daido Moriyama, Bernard Pierre Wolff, Marie-Paule Nègre e William Klein entre a mistura. Enquanto Ernaux frequentemente escreve sobre seu trajeto entre Paris e o subúrbio de Cergy, Stoppard agrupou imagens que retratam pessoas pegando o metrô (a imagem alongada de Hiro da estação Shinjuku, Tóquio, 1962) ou descendo em uma estação (La Femme, de Dolorès Marat aux Gants, 1967). Mas as suas justaposições também funcionam como um prisma que refrata uma miríade de cenas sociais que Ernaux foi capaz de descrever com observação matizada.

“Annie tem uma relação realmente complexa, interessante e frutífera com a fotografia”, diz Stoppard, que se comunicava regularmente com a escritora de 83 anos e teve sua bênção em cada etapa. “Ela escreve este livro como se estivesse tirando fotografias; e em outros livros, as fotos são como instruções. Ela também escreve sobre suas próprias memórias como se fossem fotografias. Acho que é uma parte “subanalisada” dela.” Será que Ernaux tinha um favorito? Stoppard destacou uma foto de Janine Niépce de uma mãe e um bebê no que parece ser um conjunto habitacional fora de Paris. Enquanto a criança olha para a mãe, a mãe olha para a paisagem sombria de edifícios semelhantes. “Acho que para ela [isso sugeriu] emancipação pessoal, de ser mãe para alguém que pode estar presente e observar o mundo abertamente”, diz Stoppard. Os visitantes não precisam ter lido Exteriors para perceber como a memória, a identidade e a vida urbana permanecem eternamente ressonantes - mas aqueles que não leram provavelmente serão compelidos a ler o livro ao emergirem deste espetáculo comovente e imperdível.

As exposições do MEP estão em cartaz até 26 de maio de 2024.

Esta matéria foi originalmente publicada na Vogue US.