Arte

Por Beta Germano (@betagermano)

"Antirracista Voraz Antifascista Feroz"; "Alôca Vitaminada Abafando Finíssima"; "Amizades Vaidosas Arruinam Férias"; "Aquendou Vacilou Abalou Fugiu" - são muitas as frases que podem descrever AVAF, sigla para Assume Vivid Astro Focus, coletivo fundado pelo carioca Eli Sudbrack em 2001, e que agora ganha uma retrospectiva no Sesc Paulista, em cartaz até o dia 30 de julho que recapitula sua produção nos últimos 20 anos.

A ideia central, conta Sudbrack, é sempre deixar tudo aberto para interpretações, colaborações, transformações e reconfigurações. A premissa vale tanto para as obras que ganham, em cada exposição, novas mixagens, superfícies e roupagens; quanto para a própria composição do grupo que varia de acordo com o projeto.

O próprio nome flexível e mutante, que pode ser a abreviação de diferentes frases em diferentes línguas, instigando imaginação e criação de todos, abraça a fluidez do coletivo. Não à toa, o título da exposição, "alterações vividas absolutamente fantasiosas", sugere uma possível abreviação para AVAF e uma das obras novas é justamente uma animação feita a partir de um catálogo de possíveis frases para o AVAF.

Transmutação flácida

A exposição é, na verdade, uma retrospectiva dos "papéis de parede" ( que pode ser qualquer tipo de revestimento para piso, parede, janela ou fachada) criados pelo coletivo em diferentes museus ou espaços públicos, mas aqui eles aparecem fragmentados, transmutados e reconfigurados. Os vídeos, vale lembrar, sempre foram feitos como continuação dos papéis de parede, como se fosse transparente e animado. E, por isso, são projetados ocupando por inteiro as paredes.

detalhe de papel de parede do AVAF — Foto: Divulgação
detalhe de papel de parede do AVAF — Foto: Divulgação

Em 2008, o AVAF fez uma instalação no Largo di Torre Argentina, um sítio arqueológico no centro de Roma. Eles foram comissionado para abrir esse sítio ecológico pela primeira vez ao público que tinha sido descoberto nos anos 1920, quando Mussolini resolveu fazer renovação dessa área e acabou encontrando quatro templos Romanos. A área foi cercada e fechada. E acabou crescendo, ali, uma população de 400 gatos. Para não assustar os bichanos, o coletivo distribuiu ao público mascaras de gato para o público usar!

As imagens dessas máscaras foram remixadas, recortadas e ampliadas para serem transformadas numa padronagem que virou um dos mais importantes papéis de parede da mostra, pois é a partir de fragmentos dele que nascem todas as pinturas e tapeçarias do AVAF. "Esse trabalho fala um pouco sobre a própria metáfora do AVAF, dessa constante transformação, dessa constante remixagem de nós mesmos. Somos todos mutantes."

Corpos mutantes e o universo queer

Outra obra inédita é o video-clipe criado para a música "Don't be afraid", da Honey Dijon. Dijon é hoje um dos maiores nomes da house music americana (que já trabalhou com a Beyoncé) e símbolo de empoderamento das mulheres trans e negras. "As mulheres trans sempre fizeram parte do universo AVAF como colaboradoras, ícones, musas. As possibilidades de empoderamento", comenta Sudbrack.

Trabalhando no mundo inteiro e com amigos de diferentes áreas e origens, o AVAF apresenta sempre um cruzamento político entre questões de gênero e códigos culturais, se apropriando várias referências do mundo queer e do universo disco - vale lembrar que foi no começo dos anos 1970 que caiu a lei que proibia casais homossexuais de dançarem juntos na pista.

"Em 2005 fizemos uma exposição no MOCA, em Los Angeles, que nasceu de uma celebração da conquista dos direitos queer, durante os anos 1970, dentro da disco - um espaço muito ocupado também por populações reprimidas, de cor ou latinas. Trouxemos, aqui, alguns elementos dessa mostra", lembra o artista apontando para um neon em que uma série de triângulos que aparecem piscando em uma das paredes da exposição imersiva. "O triângulo virou um símbolo para nós porque era com triângulos de cabeça para baixo que os nazistas rotularam os gays e pessoas queer", explica. A mesma exposição tinha um papel de parede em preto e branco, também presente no Sesc, que representava "bichas depiladas forçosamente", como descreve o artista. "Bush estava no poder e era uma época de muita repressão ainda, por isso havia uma paranóia em torno da ideia da depilação".

Não faltam, aqui, símbolos e personagens que propõem discussões sobre sexualidade e gênero. Mavi Veloso; Natasha Princess (herdeira do bate cabelo de Marcia Pantera); Slava Mogutin (primeiro refugiado Russo que foi morar nos EUA para fugir da homofobia) são mencionados ao longo da mostra para e até Tom Cruise aparece na festa, só que numa charmosa versão drag.

Internet e cultura de massa

O ator americano não é a única figura que representa a cultura de massa: um desenho multi-colorido, com um quê psicodélico, de Yoko Ono, Rita Lee e Sylvester cobre vidro que separa o espaço expositivo da varanda: trata-se de um adesivo agigantado retoma a arte feita pelo coletivo para uma pista de patinação, no Central Park, em Nova York. "Essa pista foi montada nos anos 1980 por uma comunidade maravilhosa de skatistas de diferentes raças e idades. E a gente queria prestar uma homenagem aos skatistas cobrindo a pista com elementos do imaginário pop da época", explica o artista. Yoko também aparece numa video-instalação composta por uma remixagem da música Walking On Thin Ice - gravada no dia do assassinato de John Lennon.

AVAF no Sesc Paulista — Foto: Divulgação
AVAF no Sesc Paulista — Foto: Divulgação

As referências não nasceram à toa. O AVAF, afinal, falava sobre apropriação; democratização da informação; e, overdose de imagens muito antes da proliferação da internet. O artista conta que, para criar as obras, visitava a biblioteca pública de Nova York fazer pesquisa num banco de imagens físico: pastas cheias de recortes de revistas e livros eram divididas por temas abrangentes como "mulher" ou "mesa" - o mundo já era editado e algoritimizado. "Nesse primeiro momento utópico da internet estávamos acreditando que essa tecnologia seria um difusor de informação e de empoderamento. E foi, mas isso foi deturpado ao longo das décadas. Mas o começo foi marcado por uma crença que a internet realmente era uma uma plataforma comunitária e que você podia dividir as informações muitas e diferentes pessoas", lembra.

Arte como posicionamento político

Alguns trabalhos também trazem comentários sobre momentos políticos delicados. O papel de parede feito em 3D foi idealizado em 2007 - no último ano do governo Bush, antes do Obama ser eleito. "Era um momento de terror total, uma administração super homofóbica, de direita e que isntigava a guerra. E começamos a reparar que várias das palavras relacionadas ao governo Bush eram de quatro letras: Bush; Rice (Condoleezza Rice); Dick (Dick Cheney); Tony (Tony Blair) ; 0911; Iran; Iraq; Evil. Começamos, então, a jogar com essas palavras misturando com palavras também de quatro letras, mas de cunho sexual", explica.

O desenho faz referência à instalação LOVE, criada nos anos 1960 pelo Robert Indiana, que foi interpretada pelo General Idea nos anos 1980 - para falar sobre a pandemia do HIV, ele trocou a palavra LOVE por AIDS. Quando o Obama se elegeu, a extrema direita americana, muito religiosa, achava que ele era o anti-cristo. Respondendo ao contexto, o AVAF criou as Obama ladies - mulheres trans super sexualizadas, deusas, ícones poderosas que seriam os cavaleiros do apocalipse do Obama.

detalhe da retrospectiva do AVAF, vista do andar de cima — Foto: Divulgação
detalhe da retrospectiva do AVAF, vista do andar de cima — Foto: Divulgação

Outro papel de parede que revela um posicionamento político crítico e coerente, chamado Caçamba Brasil, apresenta a bandeira nacional desconstruída e com duas cores novas: o rosa e o preto. Ele nasceu em 2016, quando o AVAF foi convidado para participar de uma exposição no Kunsthal KAdE, na Holanda. "Era o ano do impeachment da Dilma e construímos um labirinto com essa bandeira na prisão, atrás dessas grades. E no centro tinha um trabalho sonoro da Lenora de Barros composto por barulhos de caçamba", explica.

A exposição do Sesc não é cronológica, as imagens e referências vão e vem contando uma história poderosa de mais de 20 anos de trabalho. Para "remixar" o passado e falar do presente e futuro, o AVAF idealizou, ao lado do arquiteto Thiago Rodrigues, um novo labirinto. "Aqui também tem uma ideia de transmutação: você entrar no para se perder e depois se reencontrar transformado.”

Sesc Paulista: Avenida Paulista, 119 - Bela Vista, São Paulo; @sescavpaulista. Até 30.07.

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