Muitas coisas me dão prazer: o primeiro gole de café, dormir sem hora para acordar, massagem, água quente caindo nas costas, beijos longos, cafuné. Passo a vida garantindo que elas aconteçam, e justamente o orgasmo, uma fonte de prazer incontestável, demorou muito para entrar nessa lista.
Eu não sabia o que era prazer até entender que ele estava ligado ao meu autoconhecimento. Isso porque, ao invés de pensar nele como algo possível, passei anos o tratando como sorte. No início, achei que sexo deveria ser como nos filmes aos quais assistia: uma performance irreal na qual a mulher era retratada como uma musa de corpo padrão, que existia apenas para fazer o outro chegar ao orgasmo.
E assim acreditei em uma ideia baseada na servidão, ignorando qualquer sinal de dor, ou do porquê aquilo não era prazeroso para mim – afinal, se o outro estava se divertindo, isso não deveria ser o bastante? Jamais. Foram tantos anos sem saber o que eu gostava, que me acostumei a não questionar o que era gostoso sentir, ouvir, receber. Aliás, receber era movimento raro, o que importava era ser fonte de outra pessoa.
O que faltava era autoestima e sentir amor por mim mesma
Isso tudo tentando ser bonita à meia luz, julgando meu corpo e sentindo pena por não ter dado a importância necessária para minha autoestima. Demorei a me gostar e deixar que me amassem sem pressa, a tomar o tempo que fosse preciso para chegar ao ápice de uma experiência.
Foi preciso muita cura e descoberta, a compreensão de que o meu tesão vai além de algo mecânico, e que preliminar para mim também passa por um parceiro que me ajude a deixar a casa arrumada e que respeite minha individualidade.
O dia em que criei coragem foi quando resolvi me autoconhecer
O caminho foi longo, e muitas vezes triste, mas se não posso mudar o passado decidi que o presente seria da forma mais prazerosa possível. Depois de anos me acostumando ao prazer pelas beiradas, finalmente o tomei em minhas mãos. Hoje, conheço e amo meu corpo, me trato com carinho e não permito que façam diferente. Então, se eu puder te dar um conselho, digo que você não normalize sentir dor.
Que entenda que o que faz seu corpo escorrer pode ser muito além do que os movimentos mecânicos das mãos de outra pessoa, de que o tesão é algo contínuo e passa também por relações saudáveis – e, principalmente, por aprender a se amar.
Hoje eu sei o que eu quero e como sinto o prazer feminino
Se coloque como prioridade, não faça concessões a ninguém e saiba que tudo bem se prazer para você passar longe da ideia normativa que nos fizeram acreditar. Deleite é algo amplo, vem em diversas formas e texturas, passa também por pele, língua, toque, pensamento, música, comida, abraço, palavra, carinho, e principalmente pelo jeito que você quiser.
E se não te disseram ao pé do ouvido o suficiente, eu digo agora: você é linda, seu corpo é perfeito, e seu prazer é inegociável.