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Por Nô Mello


Na sala de sua casa, em Nova York, sentada em banco de Hervé van der Straeten, Marina Larroudé usa vestido Isabel Marant e flats Alaïa (Foto: Pedro Arieta) — Foto: Vogue

Toda fashionista que se preze está acostumada a incluir a Barneys no roteiro obrigatório de suas visitas a Nova York - com quatro endereços na cidade (e mais de 20 filiais ao redor dos Estados Unidos), a loja fundada em 1923 é conhecida pelo mix afiado de grifes americanas e internacionais.

Mas quem passou por lá do início do ano para cá deve ter reparado que a seleção ganhou mais estampas e cores vibrantes, e também novas marcas que prometem ser talk of the town (caso da asiática Llora e da americana Jeffrey Levinson) - além disso, a presença da Barneys nas redes sociais se tornou muito mais ativa.

O "motivo": Marina Larroudé, paulista de 37 anos, nascida em Araçatuba e radicada em Nova York há quase 15, que em janeiro passado assumiu o disputado posto de diretora de moda do departamento feminino. "Era um dream job para mim", conta, empolgada.

Clutch Anya Hindmarch, brincos Rebecca de Ravenel e flat Barneys New York (Foto: Pedro Arieta) — Foto: Vogue

Entre as tarefas de Marina, estão a descoberta de novos talentos (e garantir que boa parte deles venda com exclusividade na loja), a criação do conteúdo digital e o acompanhamento do desenvolvimento dos produtos da grife própria da Barneys, que conta com coleções completas de roupas, sapatos e bolsas.

O dream job, porém, não veio por acaso: o percurso de Marina na moda é longo e consistente, tendo como ponto de partida um estágio de dois anos como produtora de moda desta Vogue, enquanto cursava relações públicas na FAAP, em São Paulo, cidade que adotou aos 15 anos.

Recém-formada, ela fez as malas e se mudou para Paris, onde viveu por seis meses antes de desembarcar em Nova York, em 2003, onde o namorado (hoje marido) Ricardo Larroudé havia conseguido um emprego no mercado financeiro. "Em Nova York, você tem tudo nas suas mãos. Vim para cá totalmente focada em trabalhar com moda."

Macacão Osman e espelho do arquiteto e designer italiano Gio Ponti (Foto: Pedro Arieta) — Foto: Vogue

Na cidade, ao encontrar um convite da Dior endereçado a Candy Pratts Price no lobby do prédio em que morava, em Midtown, Marina descobriu que a diretora criativa do Style.com (extinto site de moda conhecido por abrigar as mais relevantes fotos e críticas de desfiles, posteriormente convertido em e-commerce e que acaba de ser integrado ao Farfetch) era uma de suas vizinhas.

A brasileira não hesitou: mandou flores se apresentando para Candy, que simpatizou com sua determinação. Semanas depois, Marina foi chamada para um trabalho freelancer como stylist. "Em 2005, o Style.com ainda era uma start-up para a Condé Nast, praticamente não existiam outros sites de moda", relembra.

O job temporário virou emprego permanente - foram nove anos no portal, no qual chegou ao posto de diretora de mercado, até ser convidada a integrar o time da Teen Vogue como diretora de moda, em 2014. "Na época, muita gente estranhou: como assim, alguém sair do digital para o impresso, e não vice-versa? Mas eu queria experimentar o mercado editorial dos Estados Unidos e, como toda editora de moda que ama revista, queria trabalhar com Anna Wintour."

Quimono Alice Archer e jeans Current Elliott (Foto: Pedro Arieta) — Foto: Vogue

O convite da Barneys veio no fim do ano passado, na mesma época em que Marina e Ricardo encontraram a casa dos sonhos, a townhouse no Upper East Side na qual vivem hoje com os filhos, Gloria, de 8 anos, e George, de 3.

"Meu último dia no antigo apartamento, onde morei por oito anos, foi também meu último dia de trabalho na Teen Vogue. Ou seja, vida completamente nova. Estou adorando a casa, as crianças brincam no jardim, e eu e Ricardo costumamos curtir o pôr do sol tomando um drinque."

A 15 minutos a pé da Barneys, o endereço vem ganhando décor em sintonia com a personalidade de Marina. "Queria uma coisa bem brasileira, colorida, um lugar que a gente pudesse usar de verdade. Uma casa que fosse sofisticada e, ao mesmo tempo, casual - exatamente como eu me vejo."

Escultura de pantera da Matisse Casa e clutch (no formato da letra M) Mary Katrantzou. (Foto: Pedro Arieta) — Foto: Vogue

Cor também é uma das palavras-chave de seu closet, no qual peças mais femininas predominam. "Tenho pouquíssimas roupas pretas no armário, me sinto melhor de saia e acho vestido a coisa mais prática do mundo. Não sou do tipo que sai montada: vivo uma vida real, às vezes vou trabalhar andando, não quero uma roupa que fique me apertando."

Entre os estilistas e designers favoritos, estão Joseph Altuzarra e Paul Andrew (o talentoso designer de sapatos que agora também assina as criações da Ferragamo, além da marca que leva seu nome). "Conheço ambos desde que começaram, temos uma relação próxima, Paul foi o primeiro a me mandar flores quando comecei a trabalhar na Barneys. E fico feliz de ver o sucesso dos brasileiros presentes na loja - como Alexandre Birman, Fernando Jorge e Ana Khouri -, que acompanho desde a primeira coleção.”

Slides Chanel (Foto: Pedro Arieta) — Foto: Vogue

Acostumada a enfrentar a maratona completa das semanas de moda a cada temporada (que começa em Nova York e se encerra, praticamente um mês depois, em Paris), nas quais também virou figura querida do street style, Marina conta com a ajuda da sogra nas ocasiões. "Ela vem de São Paulo especialmente para ficar com as crianças, que amam a companhia da avó. Mas às vezes volto para Nova York entre Milão e Paris para passar três noites em casa, às vezes 'pulo' Milão. É difícil ficar tanto tempo longe, mas é a realidade do meu trabalho."

Jaqueta Lisa Perry (Foto: Pedro Arieta) — Foto: Vogue

Em Nova York, está sempre em busca do equilíbrio entre vida profissional e pessoal. "Acordo diariamente às 5h30 para poder malhar e dar atenção à minha família antes de chegar ao trabalho e tento estar de volta em casa por volta das 18h30. Só vou a eventos quando eles são extremamente necessários e, depois que coloco meus filhos para dormir, volto para o e-mail. A vida da mulher de hoje é assim: entre um compromisso profissional e outro, você entra no táxi fechando os detalhes do acampamento de verão do filho."

E é com a mesma atitude pé no chão que Marina leva a carreira. "Tem uma parte glamorosa? Tem. Você vai ver o desfile da Chanel? Vai. Mas é um trabalho duro, com altos e baixos que você tem de enfrentar diariamente", reflete. "Para durar nessa indústria, não existe milagre, você tem que trabalhar e ser persistente."

Em frente a quadro de Vik Muniz, Marina usa vestido Warm e sandálias Manolo Blahnik. (Foto: Pedro Arieta) — Foto: Vogue

Bolsa Saint Laurent e foto de Guy Bourdin (Foto: Pedro Arieta) — Foto: Vogue

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