Desde a estreia de Pantanal, remake de um dos grandes sucessos da TV Manchete, o público passou a se interessar por assuntos que antes estavam distante de sua realidade. O Google começou a receber dúvidas sobre onça-pintada, cobras e, claro, piranhas, peixes que ajudaram a dar fim em Levi (Leandro Lima) e outros vilões na trama. Mas, afinal, qual a dieta das predadoras do rio pantaneiro? Elas realmente são perigosas como dizem? Chegou a hora de descobrir!
Como explica o biólogo Felipe Mari, as piranhas podem ser consideradas extremamente ferozes. Uma carcaça humana, por exemplo, pode ser destruída em questão de minutos. A fama negativa se espalhou depois da visita de um antigo presidente norte-americano, Theodore Roosevelt, em 1912.
“Seu primeiro contato com piranhas aconteceu durante uma expedição científica no Brasil. Ele ficou apavorado com a facilidade dos peixes de destrinchar e devorar carnes, mutilar pessoas, etc. Em seu livro, as nomeou de ‘peixe mais feroz do mundo’, o que contribuiu para fortalecer o estigma”, conta o profissional.
Elas são, de fato, perigosas, entretanto, nem todas as espécies possuem apenas alimentação carnívora, como muitos pensam. “Existem cerca de 60 espécies de peixes considerados piranhas. Dentre estes grupos, encontramos desde os mais herbívoros até os mais carnívoros, depende bastante da região", esclarece Gabriel Henrique, biólogo e mestre em Biologia de Água Doce pelo Inpa/Manaus.
"Na Amazônia, por exemplo, o ciclo hidrológico é muito peculiar e, em alguns casos, o cardápio alimentar acompanha a sazonalidade. Na época da seca, existem mais peixes e presas disponíveis, já no período de cheia, há maior variedade de frutos e sementes”, completa Gabriel.
Entre os peixes ósseos, ou seja, aqueles que possuem esqueleto constituído basicamente por ossos, as piranhas levam o título de mordida mais forte e, por isso, oferecem risco aos desavisados que cruzam seu caminho.
“A fileira de dentes em formato triangulares bem desenvolvidos, assim como a musculatura da boca, são as principais características para identificá-las. A dentição do grupo é usada para cortar e arrancar pedaços, o que auxilia na caça. Graças ao sentido apurado, elas são capazes de perceber estímulos físicos e químicos presentes na água, odor da presa, de carcaças de peixe ou até mesmo de sangue para guiar o caminho até o alimento”, explica Gabriel.
A caça, geralmente feita em grupo, assusta e raramente permite que a vítima consiga escapar. Entre os pratos favoritos das piranhas estão aves e mamíferos feridos, peixes da região onde vivem, carcaças abandonadas e até mesmo cobras filhotes.
“Uma simples gota de sangue é o suficiente para começar o ataque. Elas vão mordiscando, arrancando a pele até dizimar a presa - seja um humano ou um animal da região. Algumas caçam, outras preferem realizar emboscadas ou perseguição ativa. Para se ter uma ideia, um cardume é capaz de devorar um animal grande, como uma vaca, em questões de segundos ou minutos, dependendo do tamanho do grupo. A quantidade pode variar de 100 até 1 mil peixes. Agora, se for um ataque solo, é possível se livrar apenas com alguns ferimentos. Não seria tão perigoso quanto um ataque de tubarão”, garante Felipe.
É claro, ninguém pretende cruzar com um cardume de piranhas enquanto toma um banho de rio. Porém a presença da espécie na água é de extrema importância para a saúde do meio ambiente. Por se alimentarem da carne presente nas carcaças, elas ficam responsáveis pela limpeza dos rios e não permitem que restos podres de carne permaneçam no local.