Bolsas e índices

Por Yasmim Tavares, Valor Investe — Rio


Não está nada fácil apostar no mercado de ações do Brasil. Cercado de incertezas, o Ibovespa amargou perdas neste início do ano, contrariando todas as apostas altistas dos agentes financeiros. Por trás do desempenho decepcionante, dúvidas sobre o rumo dos juros americanos e incertezas envolvendo duas das três companhias com maior peso no índice (Petrobras e Vale). E depois de um primeiro trimestre para ser esquecido, alguns devem estar se perguntando… em quais setores investir na bolsa?

Talvez, os investidores mais conservadores pensem que esse não seja o momento ideal. Isso quem vai saber é a própria pessoa ao ponderar o tamanho do apetite para se expor aos riscos. No entanto, há de se considerar que existem alguns caminhos mais defensivos a serem percorridos dentro do Ibovespa. E, conforme dizem os operadores, a melhor estratégia para obter lucros é, justamente, comprar na baixa e vender na alta.

Por ora, entre os especialistas ouvidos para a reportagem, são unânimes as apostas em setores mais resilientes, como os de energia e saneamento e o bancário. Além desses mais tradicionais, sobra espaço para buscar empresas que estão entregando bons resultados operacionais ou que estão reduzindo o nível de endividamento com a baixa da Selic.

  • Bancos

Entre as ações do setor bancário, as preferidas são as do Itaú (ITUB4) e as units do BTG Pactual (BPAC11), diante dos resultados de balanços fortes e da perspectiva de expansão das carteiras frente a um ciclo favorável de crescimento de crédito.

“O Itaú e o BTG surfaram bem o último ciclo, diferente de Bradesco e Santander, que erraram a mão ao emprestar dinheiro em um momento difícil, de juros elevados, e com qualidade ruim”, destaca Viccenzo Paternostro, gestor de renda variável da Gap Asset.

Para Filipe Villegas, estrategista de ações da Genial Investimentos, vale a pena ter Itaú no portfólio por ser o principal participante do segmento privado no mercado. “Não vejo espaço para uma valorização expressiva dos papéis, mas ficar de fora é mais arriscado do que ficar dentro”, afirma.

Na visão do especialista da Genial, as grandes oportunidades estão nas ações de bancos menores, como o BTG Pactual, em meio à expectativa de melhora no mercado financeiro a partir do segundo semestre.

  • Elétricas e saneamento

Os papéis dos segmentos de elétricas e saneamento também estão no radar dos especialistas. Esses setores são conhecidos por serem mais defensivos, com receita contratada e pagamento de proventos recorrentes (dividendos e juros sobre o capital próprio). “Neste caso, é mais uma questão de trabalhar com o custo do que depender de ciclos, por isso o mercado gosta bastante”, diz Matheus Amaral, analista de bolsa do Inter Research.

O especialista cita Engie (EGIE3) e Cemig (CMIG4) como dois casos positivos da parte de elétricas, mas destaca que também têm outras empresas resilientes dentro do segmento e que costumam pagar bons dividendos.

Paternostro gosta das ações da Equatorial (EQTL3) e da Energisa (ENGI3) devido ao alto volume de energia produzido por essas duas empresas, o que tende a gerar um crescimento de lucro expressivo, e às concessões em regiões estratégicas do Brasil.

“A Energisa tem concessão no Mato Grosso do Sul e a Equatorial tem concessão no Pará, em Goiás e em alguns estados do Nordeste. São regiões que estão crescendo por causa do agronegócio e do aumento populacional. Além disso, a parte micro das duas empresas também está boa, então estamos falando de ativos defensivos, regulados e com dinâmica operacional positiva”, avalia.

Pelo lado de saneamento, a Sabesp (SBSP3) segue nos holofotes em meio ao anúncio de reajuste tarifário e às expectativas em torno do processo de privatização da companhia, previsto para acontecer no meio do ano, quando o governo de São Paulo deve vender cerca de 30% da sua participação total na empresa, atualmente de 50,3%, via oferta de ações.

  • Supermercados e indústria

Algumas companhias dos setores de supermercados, educação e indústria fazem parte das apostas em ações de empresas que estão conseguindo reduzir suas dívidas ou que apresentaram resultados positivos nos últimos meses.

No segmento de indústria, Amaral destaca os papéis da Embraer (EMBR3) e da Weg (WEGE3). A fabricante de aeronaves reportou, no quarto trimestre do ano passado, um lucro de R$ 973,7 milhões, maior que os R$ 120 milhões registrados em igual período de 2022. Não só isso, no último mês, o Morgan Stanley apontou a companhia como sua principal escolha no setor aeroespacial.

No caso da fabricante de equipamentos Weg, os resultados referentes ao último trimestre de 2023 vieram robustos, com um aumento de quase 50% no lucro líquido da empresa na comparação com os números de 2022.

Entre as ações de supermercados, Villegas, da Genial, admite que gosta de praticamente todos, o que muda é a agressividade da tese de cada empresa. Por exemplo, o Grupo Pão de Açúcar (PCAR3) está passando por um processo de reestruturação (turnaround), enquanto o Assaí (ASAI3) tem uma posição mais alavancada. Por conta dos riscos embutidos em ambas as operações, Villegas mantém preferência pelos papéis do Carrefour (CRFB3).

Opiniões se divergem em relação às “queridinhas”

No cenário doméstico, problemas corporativos envolvendo duas das três maiores companhias do Ibovespa afugentam os investidores que buscam exposição em “pesos-pesados”. A Vale (VALE3), detentora da maior fatia do índice, além de ser prejudicada pela queda do minério de ferro no exterior, sofreu recentemente com as ameaças de uma possível interferência política no comando da mineradora.

Situação parecida ocorre com a Petrobras (PETR4; PETR3), responsável pela segunda maior fatia do Ibovespa. Após o anúncio de que não pagaria dividendos extraordinários aos seus investidores, a companhia agora tenta costurar com o governo uma alternativa para distribuir ao menos metade. Depois, notícias de que o presidente Lula indicaria Aloizio Mercadante, do BNDES, para ser o novo comandante da estatal, reviveu um sentimento amargo e antigo no mercado de que a governança da estatal está sempre por um fio

Mas, apesar dos riscos políticos embutidos nos papéis da Petrobras, existe o universo de commodities, no qual o petróleo tem assumido certo protagonismo ao se aproximar do patamar de US$ 90 por barril. E é pensando em uma alocação mais tática e oportunística que Bruno Lima, analista de ações do BTG Pactual, mantém preferência pelas ações da estatal.

“Como o modelo de negócio da Petrobras é majoritariamente pautado na produção, a empresa acaba sendo beneficiada por um Brent [petróleo] mais alto. A nossa visão de manter os papéis da estatal é que o preço do barril a US$ 85 ou US$ 90 pode levar a uma geração de dividendo ordinária de 15%, ou seja, sem considerar os dividendos extraordinários”, detalha Lima.

“Nós estamos olhando para as condições atuais de pagamento da estatal aos acionistas, ainda que qualquer ruído político provoque volatilidade no mercado”, diz o analista.

Villegas, estrategista da Genial, por sua vez, preferiu não incluir as ações da estatal na carteira recomendada de abril. “Infelizmente não tenho como ousar colocar Petrobras por conta de todo efeito especulativo”, admite. Ele aconselha a exposição em papéis da companhia somente para aqueles investidores que acompanham o mercado diariamente. Se esse não for o caso, a preferência é pelas juniores do setor, como Prio (PRIO3) e 3R (RRRP3).

Por outro lado, o estrategista da Genial diz gostar da Vale e vê potencial para a mineradora distribuir dividendos acima da média do mercado. “O ciclo micro da empresa e os próximos resultados tendem a apresentar uma dinâmica melhor. Apesar de ficar à mercê do minério, a minha percepção é de que muito dessa situação mais grave na China já foi atribuída nos preços dos papéis”, avalia.

Entre uma e outra, Paternostro, gestor da Gap, também prefere ter exposição à Vale por dois motivos: sofreu forte queda por causa do recuo do minério de ferro e, por isso, é negociada a um preço atrativo atualmente. As ações da mineradora acumulam perdas de 16% só em 2024.

Apesar de admitir que os papéis estão baratos, Amaral, do Inter, vai na contramão dos demais especialistas e se mostra mais conservador em relação à mineradora. “A gente ainda prefere esperar para apostar na Vale porque o minério segue acumulando muitas perdas no ano”, diz.

Ajuste de expectativa e de portfólio

Com um início de ano frustrante, o mercado de ações agora carrega o desafio do custo de oportunidade, que se encontra bastante difícil frente a um cenário global repleto de instabilidade. A começar pela trajetória de juros nos Estados Unidos.

Em janeiro deste ano, o mercado, ainda bastante otimista, apostava em cortes nas taxas dos EUA já na reunião de março, perspectiva que precisou ser reajustada após dados fortes de inflação e do mercado de trabalho.

Agora, até as apostas para junho caíram por terra. E há quem acredite que os juros americanos podem, ao contrário do que especula o mercado, subir ainda mais.

Villegas, da Genial, conta que estava com uma postura mais agressiva nos primeiros meses do ano, apostando em ações voltadas à economia doméstica por causa da expectativa de queda de juros nos EUA. Com a persistência da inflação na maior economia do mundo, porém, precisou recalcular a rota.

“Os sinais de que os juros americanos vão ficar altos por mais tempo já estão mais claros, então eu preferi montar uma estratégia de carteira mais conservadora, com empresas com receitas dolarizadas e com exposição ao setor elétrico e bancário”, diz.

Ele destaca que, pensando no investidor com perfil moderado, não faz sentido hoje ter a maior parcela em renda variável porque a renda fixa ainda oferece bons retornos. Mas, ao mesmo tempo, como o mercado de ações está bastante descontado, também não faz sentido ficar de fora. “É preciso pensar em uma carteira diversificada, mas com uma parcela maior ainda alocada em renda fixa”.

 — Foto: Getty Images
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