Educação financeira

Por Naiara Bertão, Valor Investe — São Paulo

Já dizia o austríaco Peter Drucker, considerado o ‘pai’ da administração moderna: “Existe o risco que você não pode jamais correr, e existe o risco que você não pode deixar de correr”. Você pode até não conhecer o sujeito, mas não dá para negar que ele tinha um bocado de razão quando falou isso. Viver é um risco por si só e, quando se fala em investir seu rico e suado dinheirinho, é preciso ficar atento ao que está em jogo antes de aplicar.

É claro que há investimentos mais arriscados, como ações, e outros menos, como títulos do Tesouro Direto. Mas todos eles têm alguma chance de dar dor de cabeça. Por quê? Porque existe mais de um tipo de risco e quase ninguém explica isso. Mas a gente te ajuda.

Tipos de risco que todo investidor corre

São cinco os principais tipos de risco: de mercado, de liquidez, de crédito, operacional e legal.

  • Risco de Crédito

Sabe quando você empresta o dinheiro para o seu primo e ele some do mapa e te dá o calote? Pois então, este é o risco de crédito. Está ligado à capacidade de pagamento da instituição na qual você investiu ou vai investir. Você já deve ter ouvido falar de algum banco, corretora ou outra instituição financeira que faliu, não?

Nestes casos, quem tiver investimentos na poupança ou em títulos de renda fixa como CDB, LCI e LCA, por exemplo, está a salvo. Isso porque esses ativos estão sob a benção do Fundo Garantidor de Crédito, o famoso FGC. Lógico, há limites: R$ 250 mil por CPF por instituição financeira.

Outras aplicações, como o Tesouro ou fundos de investimento não têm essa proteção. No caso do Tesouro, o risco de crédito é considerado baixo porque quem emite é o próprio Tesouro Nacional para financiar o governo e a chance de o todo-poderoso dar calote é bem baixa.

Já os fundos de investimento e as debêntures, um tipo de título de dívida emitido por empresas, o risco é maior. Os fundos têm um agravante: às vezes compram papéis de vários emissores (na maior parte das vezes de empresas) para diversificar o investimento. Por isso, acompanhe de perto onde o gestor do fundo está colocando seu dinheiro. Para avaliar se a debênture é muito arriscada, uma dica é ver a nota de crédito (conhecida como rating), que as grandes companhias geralmente possuem, e que é dada por uma agência independente de classificação de risco.

  • Risco de Mercado

Imagine que você mora em um bairro que vai ganhar uma estação de metrô ou um parque. A chance de essa notícia começar a mudar os preços cobrados pelos imóveis da região no entorno é alta. Agora, imagine que a prefeitura resolva desapropriar uma área próxima à sua casa para construir uma estação de energia elétrica ou aterro sanitário. O risco disso fazer sua casa se desvalorizar é maior, não? O risco de mercado funciona desta forma.

É o risco de notícias ou outros fatores externos influenciarem preços e taxas que estão diretamente relacionados a seu investimento. Uma notícia pode influenciar - para o bem ou para o mal - o valor de uma empresa (preço da ação ou até valor de mercado), de um índice (IPCA, Selic, CDI, etc.) ou uma moeda (real, dólar, euro, libra).

Com o sobe e desce dos ativos, pode ser, por exemplo, que você invista em um fundo de ações e os papéis que estão dentro dessa carteira caiam. Em última instância, você pode sair com menos do que investiu. Esse conceito, apesar de básico, muitas vezes é ignorado pelo investidor. Investimento não significa que você sempre ganhará algo, muito ou pouco. Você pode perder dinheiro, especialmente em produtos com maiores chances de sobe e desce.

Todos os tipos de investimento têm algum grau de risco de mercado. O risco aqui é ganhar menos do que poderia ter recebido ou até perder dinheiro.

Diferentemente do risco de crédito, que você consegue medir, analisando a vida da empresa que está emitindo o papel, por exemplo, o de mercado é bem mais imprevisível, pois depende de fatores políticos e econômicos que muitas vezes nos pegam de calças curtas. Se o presidente da República fala algo que o mercado desaprova, as ações das empresas costumam cair e o dólar subir. E você investidor não tem muito como prever isso e nem como se proteger.

  • Risco de Liquidez

Você já tentou vender um imóvel? Se sim, possivelmente sentiu na pele a dificuldade de fechar o contrato e receber o dinheiro. Pode levar anos até que consiga vender, não é mesmo?

Agora, outra pergunta: você já tentou transferir dinheiro da poupança para sua conta corrente para cobrir algum rombo ou já prevendo algum gasto? Na mesma hora já cai, não? Esses são dois exemplos extremos do risco de liquidez. É uma Ferrari versus um Gol (Volkswagen). Quantas Ferraris uma concessionária vende por dia? E quantos Gols? Qual é mais fácil de revender?

A poupança é um investimento muito mais líquido do que imóvel porque é bem mais fácil aplicar e resgatar. Alguns ativos têm diferentes riscos de liquidez até entre eles mesmos. Exemplo: ações. As ações de empresas que estão associadas ao principal índice da bolsa de valores, o Ibovespa, têm muito mais liquidez do que quem não está no índice porque tem mais gente no mercado querendo comprar ou vender.

Na maior parte dos fundos, o gestor te garante a "liquidez" necessária para você sair do fundo. Esse risco existe uma probabilidade maior de acontecer em fundos que compram ativos com menor liquidez, como as debêntures ou papéis de longuíssimo prazo. Aí ocorre um efeito em cascata: o gestor não encontra comprador para os papéis que há no fundo, consequentemente, não consegue te dar o dinheiro para você sair do fundo. No entanto, esse risco é mais raro de acontecer.

Outra coisa a se observar é o vencimento. Têm investimentos que não permitem que você resgate antes do vencimento. Outros até topam, mas vão te descontar impostos e taxas que podem minar seu rendimento.

Quanto mais tempo você ficar “preso” no investimento, maior risco de liquidez pode ter.

  • Risco Operacional

Infelizmente, nenhuma empresa está ilesa de fraudes ou erros não intencionais. Com gestoras e administradoras de recursos é a mesma coisa. A gestora do seu fundo pode quebrar, pode estar envolvida em algum escândalo financeiro, o sistema pode não funcionar ou até mesmo a administradora da carteira pode estar fazendo a guarda (conhecida como custódia) errada dos ativos. Tem até aqueles casos de gente que digita um zero a mais na hora de comprar ou vender um papel, não é? Estes problemas estão dentro do chamado risco operacional.

Por esses e por outros motivos, antes de investir, é importante fazer uma pesquisa não apenas do fundo aonde você pretende investir, mas também investigando sobre o gestor, o administrador e a idoneidade dessas empresas.

No Brasil, as agências reguladoras da indústria de investimento até desenvolveram uma forma de tentar proteger o investidor destes problemas. Nos fundos de investimento, por exemplo, as atividades são divididas entre o gestor, o custodiante e o administrador. Assim, ninguém tem poder único sobre tudo. O gestor é quem monta a estratégia de investimento do fundo e compra/vende ativos. O custodiante é o guardião do seu dinheiro, aquele que fica com ele enquanto você não pedir para resgatá-lo e depois te entrega quando quiser. Já o administrador é o responsável-mor pelo funcionamento do fundo, ou seja, quem controla os prestadores de serviços (gestor, custodiante e auditor) e divulga o boletim sobre rendimento e valor das cotas. Mas nem todos os ativos têm essa estrutura, então, vale investigar direito na mão de quem vai deixar seu dinheiro.

  • Risco Legal

O legal é o risco de contrato não ser honrado. É mais comum quando envolve instituições financeiras de procedência duvidosa que, depois, se mostram fraudulentas ou aqueles famosos casos de pirâmides financeiras.

O jeito de evitar esse risco é aplicar em instituições financeiras que você já conheça ou que têm credibilidade no mercado. Se mesmo assim, uma proposta de uma instituição que você não conhece parecer bem atrativa, pesquise nos sites da B3 (Corretoras certificadas), CVM (Comissão de Valores Mobiliários) ou BC (Banco Central) se aquela empresa é habilitada para captar investimento.

Um investimento pode ter um baixo risco de liquidez, ou seja, você consegue resgatar o dinheiro lá investido relativamente rápido, mas estará mais exposto aos movimentos das taxas de juros, e, por isso, ter um risco de mercado mais alto. Ou seja, escapar de um tipo de risco não significa que você irá se livrar dos outros.

Em resumo....

  • Alguns investimentos são mais arriscados, como ações, e outros menos, como títulos do Tesouro, mas todos eles têm alguma chance de dar dor de cabeça, especialmente porque não existe apenas um tipo de risco
  • Risco de crédito: Está ligado à capacidade da instituição na qual você investiu ou vai investir te pagar o devido. No caso do Tesouro Direto, o risco é do governo brasileiro não pagar, no CDB, é do banco dar o calote, e das debêntures, da própria empresa emissora ter problemas.
  • Risco de Mercado: Está ligado ao risco de oscilações nos preços e comportamentos do mercado e seus indicadores, como commodities, ações, taxa de juros e variação cambial. É um risco de volatilidade e depende muito de condições externas, como as políticas e as econômicas.
  • Risco de Liquidez: Está ligado à facilidade ou dificuldade de você converter um ativo financeiro em dinheiro sem perder o valor. Um imóvel, por exemplo, pode demorar anos até ser vendido (menos líquido), já a poupança, o resgate cai na mesma hora (mais líquido).
  • Risco Operacional: Está relacionado à possíveis falhas no processo de investimento, seja na aplicação, na custódia ou liquidação de uma operação. Pode envolver falha humana sem intenção, de algum equipamento ou até fraudes.
  • Risco Legal: É o risco do contrato não ser honrado. É mais comum quando envolve instituições financeiras de procedência duvidosa que, depois, se mostram fraudulentas ou aqueles famosos casos de pirâmides financeiras.

Por que é bom conhecer os tipos de risco?

Como o próprio Drucker diz, mesmo sabendo dos riscos, tem investidor que topa aplicar em algo mais complexo e perigoso porque tem uma chance de ganhar mais do em ativos mais seguros.

O importante, no fim, é saber onde está pisando e quanto de risco pode correr (quanto pode perder). Este é um dos mandamentos para todo bom investidor seguir. Se não, corre um risco adicional: de errar a mão e ficar mais pobre e não mais rico (#ninguémmerece). Fique atento(a)!

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