Blog - Naiara com Elas

Por Naiara Bertão

Repórter do Valor Investe

Valor Investe — São Paulo


Olá, pessoal!

No artigo passado falei sobre os benefícios de termos um plano de carreira, algum guia de onde queremos chegar, o que queremos conquistar e o que precisamos para chegar lá. Vimos que o autoconhecimento (lá vem ele de novo) é a base para entender nossos valores, o que queremos, onde podemos ceder, no que somos boas, e por aí vai. Isso tudo é uma base, uma prévia, para fazermos um plano de carreira.

Agora, trago as dicas práticas para montar esse plano. Dividi em dois artigos, um (este) com as dicas para você começar a desenhar o plano e outro (o próximo) para você colocá-lo em prática. Bora lá?!

1.Faça uma autorreflexão potente

Não é à toa que qualquer coach, terapeuta, processo de autoconhecimento vai exigir que você pare e pense, sozinha, intimamente, o que você quer. “O que eu venho fazendo até aqui? O que gosto e não gosto? O que não entreguei? O que eu quero? Muita gente que não se conhece chega em um ponto da carreira que fica perdida; sabe que quer mais, mas não sabe mais o quê e do quê”, pontua Camila Junqueira, headhunter e especialista em recrutamento executivo na consultoria Flow.

Coach, análise, terapia... como é uma escolha de cada um, mas o importante, na opinião da especialista, é fazer a autoavaliação do que quer e como chegar lá, quais as ferramentas que tem.

Por que isso é importante? Um plano de carreira é pessoal, é individual e intransferível. Parece convite de evento, mas é verdade: o maior erro que as pessoas cometem é copiar de outros a ideia da carreira ideal.

“Invista, em primeiro lugar, em olhar para si. Pare de ficar se comparando demasiadamente com outras pessoas. Olhe para dentro, tenha clareza de sua essência, e do que faz realmente sentido a você. Quais são os seus termos de sucesso para não ficar nessa comparação demasiada. E até não ficar se autossabotando”, diz Juliana Sayum, especialista em gestão de carreira e marca pessoal.

Um exemplo de erro clássico: quando você olha para o lado e acredita que outras pessoas estão ganhando mais que você, sendo mais valorizadas, e você estagnou. Isso, obviamente, te deixa insatisfeita e te faz pensar em mudar de carreira. Juliana traz uma pergunta para fazermos a nós mesmas neste momento: “Você sabe qual a renda mínima que precisa ter para se sentir tranquila?”.

Além disso, há outros pontos que são importantes a gente combinar com a gente mesma para tomarmos as melhores decisões: Que tipo de organização eu quero trabalhar? Em qual segmento? Que tipo de pessoas e ambiente me fazem me desenvolver mais, e não me sentir limitada e podada? Que qualidade de vida quero ter? Quanto tempo é importante para direcionar a mim e para minha família, por exemplo?

2.Coloque os pingos nos “is”

No sonho cabe tudo, não é mesmo? Quem não quer ter flexibilidade de horários, poder escolher se vai ou não ao escritório, ter poucas reuniões, ter uma equipe eficiente, mais tempo para a família e vida pessoal, tirar férias longas para viajar sem que o telefone toque e, obviamente, ser bem remunerada? A realidade, sinto informar-lhes, é outra.

Precisamos também, dentro do nosso plano de carreira, pensar na viabilidade das coisas. Quais os valores/condições que você não abre mão? E quais as que, se precisar ceder, tudo bem? Porque as empresas não trabalham para gente (ainda), a gente trabalha para as empresas (e isso vale também para quem empreende).

Há algumas décadas, as pessoas entravam em uma empresa e passavam a vida toda nela, esperando pela aposentadoria. Só depois é que começavam a pensar em algo para ter mais prazer e satisfação (plano de ir morar no campo ou na praia, por exemplo). A carreira era mais linear, estática e previsível.

Agora a lógica é outra. Tanto para as empresas quanto para as pessoas. Com a tecnologia e a rapidez de mudanças, as empresas precisam acompanhar as movimentações e são as pessoas que fazem essa roda girar. Na outra ponta, as pessoas buscam mais satisfação no que fazem e saber que seu trabalho é útil é parte disso. Não é mais só sobre pagar as contas. E se o trabalho não anda correspondendo ao que procura, troca – temos mais opções e dinamismo hoje.

“Existe uma mudança de comportamento muito forte de que as pessoas passaram a ver que o trabalho pode sim ser uma fonte de prazer. Tanto é que a própria pandemia trouxe muito essa reflexão, este questionamento, alinhado a um propósito e significado por trás deste trabalho. Até porque se pararmos para pensar, passamos a maior parte de nossa vida adulta trabalhando. Então, essa troca precisa realmente ser uma conta que se fecha. Não mais ficar no negativo”, me explicou Juliana.

Mas, com o mercado cada vez mais competitivo e com clientes e consumidores exigentes, há uma pressão também por entrega e por pessoas que façam a diferença. Ou seja, para montar um plano de carreira hoje, é preciso pensar que diferenciais você tem, como os usa, quais resultados que entrega, no que é boa, e no que quer ser melhor ainda. Mas também é preciso entender que a empresa vai exigir algumas coisas – metas/métricas, horas a mais de trabalho em determinados períodos, necessidade de reuniões e ir ao escritório etc.

Tentar conciliar o que você quer com o que o mercado exige é importante para não se frustrar caso o plano não saia 100% como o esperado. Dito isso, vamos à outra pergunta crucial: qual o seu valor no mercado?

3.Saiba o seu valor

Um erro muito comum – especialmente entre mulheres – é não se valorizar a altura. A gente estuda tanto, batalha, aprende com os erros, se critica o tempo inteiro para melhorar sempre e isso raramente entra na conta de quanto vale o nosso tempo de trabalho.

Estimar o próprio valor envolve saber suas habilidades e seus potenciais. Qual o valor e diferenciação que você pode oferecer?

“Não é sobre ser diferente; mas sobre ter diferenciação, e compreender qual o alto valor que você pode entregar no que se compromete a fazer. Você sabe? Uma pergunta que pode te ajudar é: ao longo de sua história profissional, o que te trouxe mais orgulho? O que você fez que te levaram a ter feedbacks altamente positivos sobre você? Revisite momentos da sua história. Isso te ajuda a enxergar seus pontos fortes”, indica Juliana.

Um alerta aqui: Nós, mulheres, tendemos a olhar muito para o que falta somente (copo meio vazio) e não para o que temos (copo meio cheio). Elevamos a régua cada vez mais para cima e nos autopressionamos muito para ser as melhores e dar conta de tudo. Sinto decepcionar: mas isso não apenas é impossível, como traz mais frustração do que satisfação (experiência própria!).

É importante entender onde somos boas e como usamos isso para alcançar resultados.

Perguntas que podem ajudar a entender seu papel: “O meu trabalho endereça qual dor? Qual problema eu resolvo? Quem eu ajudo realmente? O que você representa no seu mercado?

“Compreender o lugar que ocupa tem a ver com entender o porquê você faz o que faz. As suas reais motivações. E isso te ajuda a desenhar melhor a sua rota”, explica Juliana.

4.Não se limite

Se antes seguir uma única carreira, ser especialista-master em algo era a única coisa que importava para você ter um diferencial, agora, em um mundo tão dinâmico, é importante não se limitar. Na prática: não se enquadrar somente em um cargo, em uma hierarquia, ou em uma profissão. Ter clareza sobre as áreas e campos que você pode atuar com suas habilidades e talentos.

Eu, por exemplo, sou jornalista econômica e tudo que venho aprendendo e desenvolvendo na minha carreira me dá habilidades para trabalhar com comunicação corporativa, com diversidade e inclusão em empresas, com relatórios de sustentabilidade ou na área de Relações com Investidores, em comunicação interna ou institucional, consultorias de negócios, mídias sociais, e por aí vai....

“Esse exercício ajuda a expandir seu alcance de valor e te dá mais clareza de perspectivas e alcance profissional”, pontua a Ju. “Os caminhos não precisam ser retos, você pode olhar para o lado e ver outras possibilidades de carreira e até mudança total de área”, acrescenta à discussão Camila, da Flow.

5.Cuidado com o hobby-trabalho

Não é porque você gosta de ler livros que vai montar uma biblioteca. E nem porque gosta de futebol que vai trabalhar em um clube. Não é porque gostamos muito de fazer algo, que aquele é nosso propósito na vida e é ele que vai nos trazer sustento e satisfação pessoal.

“Cuidado em direcionar os movimentos na carreira se ancorando somente numa paixão/hobby. Não que não seja importante entender isso, mas você precisa aprofundar mais este direcionamento, não fincando o pé somente nessa paixão”, pontua Juliana.

A reflexão é a seguinte: quais outros pilares vão ao encontro a quem é você na sua essência, como um todo? Essência está ligada a uma somatória de experiências, de conhecimentos, de talentos, de habilidades, de valores e propósito. Tudo isso são elementos que vão te dar mais segurança para tomar suas decisões ao longo desta caminhada.

6.Coloque prazos

Desenhe uma plano, onde quer estar a médio/longo prazo. Lembra da pergunta clássica de onde você se vê daqui a 5 anos? Visualize você, com este alto valor, com o papel que você representa e pense em como está contribuindo para a empresa, as pessoas e a sociedade? Como você quer ser vista? Se projete neste lugar, neste patamar que quer estar. Descreva em detalhes tudo isso em um papel – ferramenta infalível para te ajudar a organizar melhor o pensamento.

7.Saiba que maternidade não é o fim da carreira

Por fim e definitivamente não menos importante: maternidade. Infelizmente, são as mulheres que precisam lidar com as questões profissionais quando pensam em ter filhos e não os homens. Mas temos lidado de uma forma muito binária: ou largamos tudo para cuidar do/s filho/s ou voltamos com tudo e entramos naquela falácia de que somos super-heroínas.

Cada vez mais as mulheres percebem que há meio termo, que há empresas que estão preocupadas em trazer conforto e flexibilidade para não perder funcionárias valiosas e outras que até contratam mulheres grávidas. Há opções.

Camila diz que esse é um divisor de águas importante na carreira das mulheres, que dita mudanças na fase de vida.

Mulheres antes de ter filho, tem uma preocupação maior com o trabalho e carreira. E quando começam a pensar a respeito, buscam lugares que tenham maior segurança para o parto, empresas que as apoiam. “Ouço muitas mulheres contarem que se perguntam se querem mesmo ter filhos porque associam automaticamente a maternidade a mudanças e mudanças na carreira. Ninguém pergunta para os homens se ele quer ter filho e está disposto a mudar o rumo da carreira. As mulheres se autopunem muito; isso tem que mudar”, conta Camila.

Para ela, a maternidade vai, claro, exigir uma fase de adaptação do ambiente, da mulher e do equilíbrio entre trabalho e vida pessoal. Mas é uma fase e não o fim da carreira. Ela mesmo conta que, quando decidiu ter filhos (tem duas meninas), deixou a vida de headhunter que exige jornadas de 15 horas por dia, muitas vezes, e foi trabalhar com recursos humanos em uma empresa. Quando a mais velha completou 3 anos, ela voltou ao trabalho de headhunter, sentindo-se mais preparada psicologicamente.

Por isso também que, após ter filhos, muitas resolvem empreender, porque acreditam que vai ser mais fácil conciliar horários, obrigações e vontades.

Quando as mulheres têm filhos já mais crescidos, é natural quererem dar um gás na carreira de novo. Conseguem ter segurança e mais independência de que vai ficar tudo bem com eles.

Gostou? É hora de pôr no papel. Leve o tempo necessário, pois é uma jornada de autoconhecimento. Dúvidas? Mande para mim: naiara.bertao@valor.com.br com o assunto “Blog Naiara com Elas – Plano de Carreira”.

Na próxima coluna trarei mais dicas, dessa vez de como colocar esse plano em prática.

Plano de Carreira - Parte 2: Mão na massa — Foto: GettyImages
Plano de Carreira - Parte 2: Mão na massa — Foto: GettyImages
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