Folha de S. Paulo


Coaliz�o contra ditadura de Pinochet, Concerta��o se fragmenta no Chile

O Chile que vai �s urnas neste domingo (19) eleger um novo presidente, 23 senadores e 155 deputados acaba de fechar um ciclo e vive uma dispers�o pol�tico-partid�ria in�dita desde a redemocratiza��o, em 1990, quando o general Augusto Pinochet deixou o poder ap�s 17 anos.

"Dos 14 partidos que t�nhamos at� 2016, fomos para 28, e a maior parte dos novos tem um esp�rito antiglobaliza��o, protecionista, tanto � esquerda como � direita", disse � Folha o cientista pol�tico Guillermo Holzmann, da Universidade de Valpara�so.

Ivan Alvarado - 15.nov.2017/Reuters
A presidente Michelle Bachelet e o candidato governista Alejandro Guillier visitam hospital em Santiago
A presidente Michelle Bachelet e o candidato governista Alejandro Guillier visitam hospital em Santiago

Analistas ouvidos pela Folha concordam que essa fragmenta��o resulta da dilui��o da hist�rica alian�a de partidos de centro, centro-esquerda e esquerda na primeira frente contra a ditadura pinochetista, a Concerta��o.

Fundada antes do plebiscito pelo fim da ditadura (ent�o com o nome "Concerta��o de Partidos pelo 'N�o'"), governou o Chile por 20 anos ap�s o fim do regime.

Depois, passou a chamar-se Nova Maioria, incorporando mais partidos. � por essa alian�a que a atual presidente, Michelle Bachelet, governa hoje em seu segundo mandato (n�o consecutivo).

"O fim da ditadura foi um momento hist�rico e rom�ntico de alian�a de for�as por um objetivo comum, p�r fim � ditadura. Isso foi �til em seu momento", diz Hollzman.

"Nos �ltimos tempos, a Nova Maioria foi desiludindo seus eleitores por n�o conseguir derrubar o legado pinochetista, devido �s acusa��es de corrup��o e pela mudan�a de conjuntura hist�rica, que favoreceu o desmembramento dos partidos."

J� para Patricio Navia, soci�logo e professor da Universidade de Nova York, desde que a ditadura chegou ao fim, o bloco de centro-esquerda se beneficia da polariza��o com Pinochet (1915-2006).

"Primeiro, com ele vivo. Depois, com ele morto, ao se posicionar contra sua heran�a, seu modelo econ�mico, sua Constitui��o. Mas, agora, essa coaliz�o, que avan�ou ao devolver a democracia ao Chile, lida com o desgaste e um fracasso, que � n�o ter podido substituir a Carta de Pinochet", explica.

De fato, uma das bandeiras eleitorais de Bachelet para este mandato, que termina em mar�o, era convocar uma assembleia constituinte e redigir um novo texto.

Mas, com as dificuldades na rela��o com o Congresso, no qual Bachelet n�o tem maioria, isso n�o foi poss�vel.

"Das mudan�as que prometeu, que eram muito radicais, Bachelet conseguiu algumas, mas sem mudar a Carta por completo", avalia Fernando Garc�a Naddaf, da Universidade Diego Portales.

Editoria de Arte/Folhapress

Entre as reformas alcan�adas, est�o a legaliza��o do aborto em casos de estupro, inviabilidade do feto e risco de morte da m�e (antes a interrup��o for�ada da gravidez era proibida em todos os casos), o aumento da popula��o universit�ria com direito � gratuidade do ensino (embora sem atingir os 100% prometido), o casamento gay e parte das reformas tribut�ria e trabalhista que prop�s.

Para o ex-presidente socialista Ricardo Lagos (2000-2006), a dissolu��o da Nova Maioria "� muito negativa". "Tor�o para que o pr�ximo domingo seja uma esp�cie de prim�ria, e que depois disso volte a haver uma converg�ncia entre as for�as de centro-esquerda e esquerda", diz.

Na avalia��o de Hollzman, uma das dificuldades com a fragmenta��o � que, independentemente de quem for eleito presidente, ele n�o ter� maioria no Congresso.

"Os consensos que existiam porque havia polariza��o s�o mais dif�ceis de formar, e isso se acentuar� com a prolifera��o de partidos. Quem ganhar ter� de ser h�bil para avan�ar suas propostas."


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