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Por Nathalia Fuzaro


Mariela Vasconcelos desbrava o Everest sozinha (Foto: Arquivo Pessoal) — Foto: Glamour
Mariela Vasconcelos desbrava o Everest sozinha (Foto: Arquivo Pessoal) — Foto: Glamour

Nômade desde 2015, a bióloga e empreendedora Mariela Vasconcelos (@marielaviaja) já rodou o mundo. Saiu do interior de Minas Gerais e estudou em Londres, foi instrutora de mergulho na Tailândia, desbravou todos os cantos do Havaí. Até que, em 2018, decidiu que encararia o Everest. E sozinha, pois “não tinha dinheiro para pagar um grupo com guia, daqueles que organizam tudo”. Aqui, ela relata detalhes dessa aventura emocionante.

“Com certeza foi o maior dos desafios que vivi. Resolvi fazer os trekkings em torno do acampamento base do Everest completamente sozinha, só eu e minha mochila. Queria sentir na pele a sensação de chegar perto do teto do mundo. Sentir o frio no rosto e agradecer pela vida que decidi levar. Planejei e executei tudo! Para me preparar, baixei uns 10 livros no Kindle, devorei blogs e fui estudando. Calculei a rota, baixei alguns mapas e também comprei outros. Chegando em Kathmandu, capital do Nepal, fui atrás dos equipamentos e roupas necessários. Preparei o mochilão, que eu mesma carregaria montanhas acima; escolhi um bom seguro viagem e um plano de celular com alcance nas montanhas, que funcionasse para ligações de emergência. Perdi a conta de quantas vezes escutei ou li a frase: “Não vá sozinha”. E lidar com essa advertência foi a maior dificuldade que encontrei! Mas se isso me dava algum medo, também fazia com que eu me sentisse mais corajosa.

Mariela Vasconcelos desbrava o Everest sozinha (Foto: Arquivo Pessoal) — Foto: Glamour
Mariela Vasconcelos desbrava o Everest sozinha (Foto: Arquivo Pessoal) — Foto: Glamour

Óbvio que foi uma experiência tão incrível quanto difícil, né? Andei demais, enfrentei a altitude e o seu efeito no corpo. As trilhas, cheias de subidas, exigem mais que preparo físico, mas uma cabeça focada e preparada para o desafio também. É preciso força mental e coragem para comandar o corpo e respeitar os limites com segurança. Uma vez lá, fiquei encantada com as belas paisagens, com o silêncio, com a conexão da natureza exterior e a minha interior. A mochila de 10 quilos passou a ser só um detalhe durante todos aqueles dias andando, e tudo era motivo para superar. Senti frio, mesmo muito agasalhada. Chorei de emoção e cansaço várias vezes.

Pontes, rios, montanhas... Passei pelos lugares mais lindos que vi na vida. Ao final de todo dia, era de uma beleza enorme dormir cercada pelos picos mais altos e magníficos do mundo. Visualizei cada momento antes de chegar, mas quando alcançava os vilarejos, era ainda mais surpreendente. Desistir não estava no roteiro. Sempre tive a certeza de que conseguiria.

Mariela Vasconcelos desbrava o Everest sozinha (Foto: Arquivo Pessoal) — Foto: Glamour
Mariela Vasconcelos desbrava o Everest sozinha (Foto: Arquivo Pessoal) — Foto: Glamour


Eu fui a única mulher sozinha que vi enquanto estive nos Himalaias. Todas que cruzavam os meus caminhos tinham guia ou porter, uma pessoa que carrega o mochilão do viajante. Eu não. Eu era minha própria guia, porter, chefe de excursão, diretora de trajeto, coordenadora de decisões. Minha própria incentivadora, conselheira, fotógrafa, escritora, editora de conteúdo. O poder feminino ainda está longe do Everest. Poucas mulheres se aventurando, poucas guias, e muitas menos carregando a própria mochila.

Todos que cruzavam o meu caminho e puxavam uma prosa me perguntavam: “Está sozinha? Onde está o seu guia?” E eu respondia: “It’s just me”. E arregalavam os olhos de espanto. Depois sorriam e soltavam: “Você é forte e corajosa, mesmo sem perceber.” E sim, não tinha me dado conta disso, eu só estava sendo eu mesma. Fiquei feliz por poder mostrar a tantos que nós, mulheres, somos capazes de tudo.

Mariela Vasconcelos desbrava o Everest sozinha (Foto: Arquivo Pessoal) — Foto: Glamour
Mariela Vasconcelos desbrava o Everest sozinha (Foto: Arquivo Pessoal) — Foto: Glamour

De volta a Kathmandu, fiquei muito feliz quando conheci algumas mulheres que escalaram o Everest. Dei parabéns, reforcei a coragem delas e pedi que não perdessem a força e determinação. Me senti mais alegre ainda quando vi duas garotinhas de 6 anos com as mães em um grupo grande. Reforcei: “Meninas, vocês são corajosas e maravilhosas”. Não podemos parar. Que a gente vá mais e mais longe. Precisamos espalhar esse Poder Feminino. Viajo sozinha por muito tempo. O medo existe, não vou dizer que não. Eu o enfrento. E essa deve ser a atitude.

Mariela Vasconcelos desbrava o Everest sozinha (Foto: Arquivo Pessoal) — Foto: Glamour
Mariela Vasconcelos desbrava o Everest sozinha (Foto: Arquivo Pessoal) — Foto: Glamour

A cabeça parece que dói quando me recordo daqueles dias, e posso sentir o corpo destruído, sem banho. Com certeza a fonte da juventude não está nas montanhas mais altas. A altitude cansa e derruba. Não importa se você é forte, vai ser derrubado pelo cansaço. Vai cair. Mas também vai cair, como eu, de amores por aquelas montanhas. Vai acordar todo dia às 6 ou 7 horas da manhã. Ou quem sabe acordará muitas vezes durante à noite, porque dormir a mais de 3, 4, 5 mil metros não é tão simples assim. Às 8 horas já estará caminhando no frio. Os olhos vão se apaixonar a cada vista, sem acreditar na beleza da paisagem bem na sua frente. Andar 4, 7, 9 horas por dia passa a ser rotina. Assim como subir montanhas sem fôlego, quase chorando (ou chorando), contando até 30 e parando para recuperar a respiração. Adrenalina. Diariamente vai subir os vales mais íngremes que existem e vai pensar em desistir. Mas sem olhar pra trás, afim de chegar logo nas vilas, a mais de 4 mil metros, pegar um quarto e descansar comendo Dahl Baht, prato típico e servido à vontade. Se valeu a pena? Cada passo, dor, metro de altitude conquistado e suspiro dado!”

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