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Por Giovana Romani


. (Foto: .) — Foto: Glamour
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Havia arco-íris por toda a parte: em saias, moletons, chapéus e, claro, no casaco de pelúcia ostentado pela modelo inglesa Cara Delevingne – sorrisinho no rosto, orgulho bombando. Orgulho. Deve ter sido essa também a sensação do estilista Christopher Bailey ao fim do desfile de sua última coleção para a Burberry, em fevereiro passado.

A apresentação celebrou a trajetória do jovem homossexual, filho de trabalhadores ingleses, que entrou na grife há 17 anos e assumiu sua direção criativa há nove com o desejo de democratizá-la. O desfile teve esse sabor de missão cumprida. “Foi uma despedida que deixou uma mensagem e um caminho muito mais aberto para o sucessor de Bailey, Riccardo Tisci”, afirma Jorge Grimberg, jornalista de moda e autor do livro Vida Criativa. “A diversidade não é uma tendência, mas um reflexo positivo da evolução da humanidade.” Verdade. Pensar que uma marca, fundada na conservadora Londres de 1856 (pois é!), leva agora à passarela o gay pride escancarado comprova que, finalmente, as questões de sexualidade e de gênero vêm ganhando visibilidade fora de nichos.

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“Culpa” de quem? De nós, millennials (sempre, né?). “Essa geração não tem dado muitas escolhas: ou a marca se adapta e se posiciona ou vai perder clientes”, explica Iza Dezon, diretora do birô de tendências PeclersParis. Segundo ela, o consumidor antigo, que compra por comprar, pelo luxo, está em extinção. “Vivemos a era da emoção. Queremos nos conectar com empresas que entendem a pluralidade das pessoas, que veem a orientação sexual não como uma questão, focando em identidade de gênero e na forma como cada um escolhe contar sua história”, diz.

Acima, cena de um vídeo emocionante da Diesel com o tema “Make Love Not Walls” (vale o play no YouTube). Ao lado, Teddy Quinlivan para Louis Vuitton. Ela só revelou ser trans quando já tinha uma carreira de sucesso — Foto: Glamour
Acima, cena de um vídeo emocionante da Diesel com o tema “Make Love Not Walls” (vale o play no YouTube). Ao lado, Teddy Quinlivan para Louis Vuitton. Ela só revelou ser trans quando já tinha uma carreira de sucesso — Foto: Glamour


Luz na passarela
Na moda, isso se traduz também com a presença crescente de modelos trans, homens e mulheres, em desfiles internacionais – o número subiu de 12 para 45 na temporada do verão 2018 em relação à anterior. O nome que mais bombou foi o da americana Teddy Quinlivan, de 23 anos. Descoberta por Nicolas Ghesquière na Louis Vuitton em 2015, ela já havia feito dezenas de campanhas e desfiles na vida quando, em novembro passado, resolveu revelar sua identidade trans em uma entrevista à CNN. “Decidi falar por causa do clima político no mundo agora, especialmente nos Estados Unidos”, disse. “Fizemos um incrível progresso sob o governo Obama, e desde que o novo presidente tomou posse, houve uma regressão. Senti um grande senso de urgência.” Depois, ela continuou mais uma entre tantas nas passarelas de Louis Vuitton, Dior, Saint Laurent, Gucci… Assim, sem alardes.

Agitar bandeiras ou se posicionar de maneira menos passional? Como se trata de um processo, de um terreno que ainda estamos tateando, não há regra. Quer dizer, só uma: coerência. “É preciso ‘falar sobre’, ainda que o discurso não esteja 100% ajustado”, acredita Samantha Almeida, que revolucionou o posicionamento da Avon nos últimos dois anos e, recentemente, assumiu a diretoria de novos talentos da Vevo no Brasil. “Estamos vivendo um momento de transição. O entendimento do que é diversidade caminha para se tornar algo menos caricato, que não se resolve garantindo ‘cotas’ em campanhas para fora, mas discutindo como se constrói times inovadores para dentro.”

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Backstage colorido: a modelo e ativista, Adwoa Aboah com a top Edie Campbell na despedida de Bailey da Burberry  — Foto: Glamour
Backstage colorido: a modelo e ativista, Adwoa Aboah com a top Edie Campbell na despedida de Bailey da Burberry — Foto: Glamour

De dentro para fora
O que isso significa na prática? Que não adianta abraçar causas publicamente se a própria empresa não tem uma política inclusiva e um quadro heterogêneo de funcionários. “Hoje todos têm acesso a tudo e fica fácil desmascarar comportamentos demagógicos”, diz Iza Dezon. “É preciso cuidar do que querem abraçar. E nem precisa ser tão reivindicativo... Basta ter um olhar mais amoroso e delicado sobre o outro.” Talvez como o de Cara Delevingne, fashion rebel, bissexual assumida e desafiadora dos padrões, na passarela da Burberry.

Atriz, modelo, escritora e engajada, a trans Hari Nef (à direita) estrela campanha da Gucci ao lado de Petra Collins  — Foto: Glamour
Atriz, modelo, escritora e engajada, a trans Hari Nef (à direita) estrela campanha da Gucci ao lado de Petra Collins — Foto: Glamour

Essa Coca é Fanta

“É Fanta, e daí?” Eis a mensagem da latinha que Pabllo Vittar segura na foto ao lado – ela se juntou à Coca-Cola para falar sobre preconceito e bullying relacionados à orientação sexual no recém-lançado clipe da música “Indestrutível”. Ainda na indústria alimentícia, a PepsiCo. tem sua versão arco-íris do Doritos, o Rainbow, que foi distribuído no Brasil durante a última Parada LGBTQ+ e é vendido online nos EUA. Já a marca canadense de sorvetes Ben & Jerry’s, em comemoração à decisão da Suprema Corte americana de legalizar o casamento gay em todos os estados do país, renomeou, em 2015, um dos seus sabores mais populares: o Chocolate Chip Cookie Dough virou I Dough, I Dough (um brincadeira com I do – eu aceito, na tradução).

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