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Por Geiza Martins


Qual mulher não sonha em ver alguns números a menos na balança? (Foto: Thinkstock) — Foto: Glamour
Qual mulher não sonha em ver alguns números a menos na balança? (Foto: Thinkstock) — Foto: Glamour

Pare e pense: quantas vezes você viu pessoas gordas representadas de forma positiva? Provavelmente, poucas vezes ou nenhuma. É muito mais comum vê-la como motivo de pena, graça ou um misto dos dois. E essa abordagem tem um nome: gordofobia.

“Precisamos nos ver em algum lugar, nos ver como mães, empresárias, médicas, modelos, pessoas com vida normal e não aquele estereótipo de gordo que se mostra nos raros momentos em que nos colocam nas telinhas”, afirma Milly Costa, integrante do Coletivo Gordas Livres.

Por estereótipo, Milly traduz o comportamento que mulheres gordas sempre são retratadas: medrosas, tímidas, comedoras compulsivas, com problema de autoestima. “Ou as palhaças que fazem piada de tudo e acham normal serem ridicularizadas”, comenta.

E o que é gordofobia?
Segundo coletivo, é o medo irracional de se tornar gordo e vem da lipofobia, que é uma aversão patológica à gordura. O agressor repele aquilo que tem medo de se tornar e é aí que nasce a gordofobia. Entre os atos cometido por quem é gordofóbico estão a opressão, a inferiorização, a repulsa e o sentimento de raiva.

É devido à gordofobia que as pessoas simplesmente concluem que uma pessoa fora dos padrões corporais está doente exclusivamente por causa do seu peso. Segundo Pedro Assed, endocrinologista e pesquisador do Grupo de Obesidade e Transtornos Alimentares, “é possível, sim, ter excesso de peso e metabolicamente ser um indivíduo saudável”.

Como pesquisador, Pedro já ouviu queixas sobre gordofobia. “A busca pela forma física perfeita e de padrões corporais extremamente rígidos pela sociedade atinge em cheio portadores de obesidade, subjugando-os à categoria de fracassados ou de indivíduos de moral duvidosa”, diz.

Feito para magros
Para Juliana Lopes dos Anjos, administradora da página Mulher Gorda (@mulhergorda) no Facebook, a luta contra a gordofobia vai além do combate ao padrão de beleza magro. “A principal questão é o acesso. O mundo é feito para pessoas magras, no sentido mais objetivo possível”, diz. Juliana fala literalmente sobre portas, bancos e roletas no transporte público, cadeiras em salas de espera e restaurantes, elevadores, etc.

“As tarefas mais simples, como ir trabalhar, ao mercado ou ao médico, podem se tornar constrangimentos sem fim, desde o momento que você não passa na catraca do ônibus até ficar horas sentada no chão da sala de aula porque as cadeiras são pequenas demais”, ressalta.

Onde mora o preconceito
Um dos principais pontos que alimentam a gordofobia é o entendimento de que o gordo é alguém que tem preguiça de emagrecer. “Com frequência, nos deparamos com frases como ‘o fulano não emagrece porque é sem vergonha, come demais’. São essas formas de pensar que estigmatizam e submetem as pessoas a diversas formas de preconceito em nossa sociedade”, comenta Pedro Assed.

Já Juliana acredita que a indústria do emagrecimento alimenta as questões de autoestima para vender produtos e métodos milagrosos de perda de peso, como dietas, programas de exercício, pílulas, cirurgias -- todos voltados, na maior parte do tempo, para mulheres.

A promessa de emagrecimento fácil acaba criando o pensamento taxativo “não emagrece quem não quer”. “O maior problema disso tudo é que se ignora os diversos fatores que fazem uma pessoa ser gorda. Tipo físico, genética e alterações de tireoide podem influenciar e nem toda pessoa emagrece ao "’fechar a boca’", defende.

Aceite seu corpo...
... E o primeiro passo para isso é entendê-lo. Busque mulheres que passam pela mesma questão que você. “Conversem entre si sobre o que vocês passam, percebam o que vocês têm em comum e o que têm de diferente. E não se sintam mal por não se sentirem confortáveis pra usar uma roupa. Respeite seu próprio tempo e se livre de pessoas tóxicas, que te diminuem por ser quem você é”, comenta Juliana.

Também procure fazer o exercício de se olhar no espelho sem medo -- para, assim, eliminar a culpa e descobrir um novo jeito de ser no mundo. É o que aconselha Milly Costa, que ainda conta histórias de sucesso em seu trabalho com o Gorda Livre, como de mulheres que já passaram mais de 20 anos trancadas em casa e que se reintegram à sociedade, se aceitando o suficiente para ter uma vida, trabalhar, namorar e estudar mesmo com o preconceito.

Procurar grupos como este, aliás, é outro caminho para combater ideias gordofóbicas em si mesma. Juliana, do Mulher Gorda, incentiva o empoderamento sobre o próprio corpo com ensaios fotográficos, vídeos e imagens. “Há algum tempo, criamos o projeto "Não tem cabimento", em que recebíamos depoimentos de pessoas sobre suas vivências em relação à gordofobia e publicávamos anonimamente na página para gerar conhecimento, conscientização e empatia em relação às diversas formas como a gordofobia influencia a vida de pessoas gordas”.

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