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Você se lembra do que fazia aos 15 anos? Com essa idade, Samila Ferreira, moradora do Parque Santa Maria, na região Ancuri da capital Cearense, faz pesquisa sobre violência e discriminação de crianças e ainda apresenta os resultados em congresso da União Europeia. Sim, é isso mesmo que você leu: a estudante do primeiro ano do ensino médio da escola estadual Mário Alencar, em Fortaleza, discursou no European Development Days (EDD), que aconteceu nos dias 18 e 19 deste mês em Bruxelas, na Bélgica, sobre "desempacotar a violência baseada na discriminação contra crianças marginalizadas" – pesquisa encabeçada por ela e outros nove adolescentes da comunidade onde vivem.

Samila Ferreira: com 15 anos, ela foi à Bélgica apresentar pesquisa sobre violência e discriminação de crianças (Foto: Reprodução/Visão Mundial) — Foto: Glamour
Samila Ferreira: com 15 anos, ela foi à Bélgica apresentar pesquisa sobre violência e discriminação de crianças (Foto: Reprodução/Visão Mundial) — Foto: Glamour

Filha de empregada doméstica, Samila participa do Jovens Investigadores, projeto desenvolvido pela ONG Visão Mundial, cujo propósito é ensinar jovens e crianças, por meio de rodas de discussão e eventos culturais, a monitorarem e desenvolverem políticas públicas para o seu bairro e cidade.

O projeto de Samila teve início em abril. Ela e outros nove jovens da comunidade entrevistaram 100 crianças e adolescentes, questionando-os sobre discriminação. “Elaboramos um questionário e perguntamos se a criança já havia sofrido ou presenciado algum tipo de discriminação; se essa discriminação originava violência; se ela já tinha feito ajudado alguém que sofreu discriminação...”, conta Samila em entrevista à GLAMOUR. “Bem, o que a gente descobriu que nem as crianças estão imunes ao preconceito. A maior discriminação que sofrem e presenciam é o racismo, seguida da desigualdade de gênero e renda. Além da exclusão geral de crianças e adolescentes, que não têm voz ativa em seus grupos familiares e sociais”, complementa.

Samila Ferreira e Clarice Ziller, da ONG Visão Mundial, falam em Bruxelas (Foto: Reprodução) — Foto: Glamour
Samila Ferreira e Clarice Ziller, da ONG Visão Mundial, falam em Bruxelas (Foto: Reprodução) — Foto: Glamour

“Eu já fui vítima de discriminação de desigualdade de gênero. Gosto muito de jogar futebol, mas os meninos da minha comunidade sempre me dizem que eu não deveria jogar. Também já reproduziram comentários maldosos sobre as minhas roupas”, afirma. “Como eu reajo? Não ataco o agressor. O que faço é conversar com os meninos e crianças ao meu redor, para conscientizá-los e não fazerem o mesmo com outras meninas”, diz.

A jovem levou os dados coletados à Bruxelas em uma apresentação com o tema "desempacotar a violência baseada na discriminação contra crianças marginalizadas" e foi elogiada. Segundo a ONG Visão Mundial, ela ainda ganhou “comprometimento da comunidade europeia para garantir mais espaço de fala às meninas” – principalmente as que estão em situação de maior vulnerabilidade.

Samila e Anna Maria Corazza Bildt, membro do Parlamento Europeu. Anna Maria estava na mesa que Samila discursou em Bruxelas (Foto: Divulgação) — Foto: Glamour
Samila e Anna Maria Corazza Bildt, membro do Parlamento Europeu. Anna Maria estava na mesa que Samila discursou em Bruxelas (Foto: Divulgação) — Foto: Glamour

Samila foi a Bruxelas acompanhada da assessora da ONG, Clarice Ziller: “Faço papel de tutora, tradutora, acompanhante e até mãe”, disse à GLAMOUR. Agora, a adolescente quer compartilhar a experiência com os colegas da comunidade e da escola. “Quero dividir todo o conhecimento absorvido lá com eles e continuar o projeto, pensando em políticas públicas locais para acabar com as discriminações identificadas.”

Essa é a segunda vez que a Visão Mundial levou um brasileiro ao EDD. A ONG tem atuação global e está presente em 100 países, trabalhando na proteção de crianças e adolescentes. No Brasil, Samila se reúne com membros da organização uma vez ao mês, além de participar de um giga encontro nacional, com participantes do projeto de outras cidades. Cerca de 70 mil crianças já foram contempladas pela Visão Mundial no País, que atua por aqui há 44 anos.

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