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Por Redação Glamour


Ayahuasca (Foto: Thinkstock) — Foto: Glamour
Ayahuasca (Foto: Thinkstock) — Foto: Glamour

Admito que estava em uma fase bem perdida. Nunca tinha me dado muito bem com o meu pai, vivia ansiosa e me sentia sem rumo. Não sabia para onde queria ir, me questionava sobre quem eu era. Acho que estava começando a conhecer alguns extremos da liberdade da vida. Difícil mesmo de explicar porque nós, seres humanos, somos complexos, né? Enfim. Foi neste contexto, sem saber bem o que queria encontrar, que decidi experimentar a ayahuasca pela primeira vez.

Antes de prosseguir, vamos colocar os pingos nos is. Conhecida pelos rituais relacionados ao Santo Daime e por seus usuários famosos (Lindsay Lohan, Paul Simon, Maitê Proença, Ney Matogrosso), a ayahuasca não é uma droga. Trata-se de um chá enteógeno (alterador de consciência) produzido a partir da combinação do cipó-mariri e de uma planta chamada chacrona. Ele é tomado em diversos cultos, religiões e rodas de meditação (além do Daime, União do Vegetal, Xamanismo...). A ingestão da ayahuasca pode ter muitos objetivos, mas o principal, e talvez o maior deles, é a evolução espiritual. Um tanto quanto subjetivo, certo?

Fato é que essa subjetividade toda ecoava em minha cabeça desde a faculdade de jornalismo, quando um amigo, o Érico, me contou da experiência dele. Dois anos depois, conheci um xamã que ministrava trabalhos com a bebida, o que os índios chamam de medicina da floresta. Eu e uns amigos combinamos de fazer uma cerimônia nossa, com mais ou menos 10 pessoas. Geralmente, os trabalhos com o chá reúnem muita gente (80, 100 pessoas) e acontecem nos arredores de São Paulo. Queríamos algo pequeno porque saberíamos que não seria fácil. Mas principalmente porque não sabíamos o que poderia acontecer.

(Foto: Thinkstock) — Foto: Glamour
(Foto: Thinkstock) — Foto: Glamour

Tomei. Logo de cara tive uma consciência muito doida sobre todos os meus defeitos e problemas. Uma conversa profunda com o subconsciente. Não “viajei”, quer dizer, não tive mirações. Por alterar a consciência, a bebida mostra o que você precisa ver naquele momento. Impossível saber se vai ser bom ou ruim, se vai ser dolorido, emocionante... E tudo varia de pessoa para pessoa. Minha experiência nunca vai ser igual à sua ou igual à anterior.

Diferentemente do que ocorre com drogas alucinógenas, por exemplo, durante a cerimônia você sabe exatamente o que está fazendo. Essa lucidez é assustadora. A pior e a melhor coisa do mundo ao mesmo tempo. “Passar mal para o mal passar”, “Deixa o mal sair para o bem entrar” viram mantras. Você pode vomitar, suar, se sentir mal, ter tonturas ou simplesmente entrar em um estado de meditação que só os monges budistas atingem depois de 60 anos de preparação.

(Foto: Thinkstock) — Foto: Glamour
(Foto: Thinkstock) — Foto: Glamour

Alguns meses depois, achei que era o momento de tomar de novo. Desta vez, participei de um ritual pequeno em um sítio. Foi intenso. Mais que isso, difícil. Vi coisas que podem ser interpretadas por quem acredita no espiritismo como lembranças de vidas passadas. Entendi o quanto eu mesma estava presa a padrões e processos que não faziam mais sentido para a minha evolução. Passei muito mal durante uma noite inteira. No outro dia de manhã, o xamã disse que iríamos tomar mais um cálice e “contemplar a natureza”. Eu não queria de jeito nenhum. Era domingo, queria ir para a casa.

Mas eu precisava confiar naquilo tudo e fui. Tinha uma samambaia no meio de uma clareira e essa foi uma das coisas mais lindas que já vi na vida. Muita viagem? Mas foi assim! Ele disse que um portal havia sido aberto naquele local. Daniela, minha amiga, procurou uma foto dias depois do que poderia se aproximar daquela cena. Vou coloca-la aqui embaixo para vocês terem uma noção do que eu vi ali. Em seguida, senti a explosão de amor da medicina. Não tem como sair ileso depois de sentir aquilo. Você ama tudo de um jeito tão puro e intenso. Eu lembro de um pensamento muito fixo naquela hora que era “quero morar nesse momento, não quero sair daqui”.

Vi uma cena parecida com essa na floresta onde tomei o chá (Foto: Reprodução) — Foto: Glamour
Vi uma cena parecida com essa na floresta onde tomei o chá (Foto: Reprodução) — Foto: Glamour

Aquilo foi um divisor de águas na minha vida. Troquei de emprego, de amizades, comecei um processo de mudança e entendimento interno que ainda não acabou. Todas as cerimônias que fiz foram no xamanismo, então eram aliadas ao rapé (mistura de ervas e folhas de tabaco que tem função de abrir a glândula pineal) e sananga. Os dois elementos são tão “difíceis” quanto a ayahuasca. O rapé é aspirado no nariz e a sananga, pingada nos olhos. Os índios usavam essa espécie de colírio (nada nunca vai arder tanto na vida, pode apostar) para abrir o terceiro olho na hora da caça.

Há poucos meses, fui de novo buscar algo que no fundo eu sabia o que era, mas não conseguia admitir. Precisava deixar a medicina me mostrar essa questão mal resolvida de anos, que ainda era tão resistente. Fizemos o mesmo esquema, dessa vez sem o xamã e com algumas amigas que tinham se aprofundado no xamanismo. Foi o trabalho mais curto de todos – quatro horas. Eu achei que vivi um mês ali dentro, de tanta coisa que me apareceu. Ainda estou digerindo essa última cerimônia, então é cedo para falar tudo o que passou na minha cabeça. Dessa vez, a lição de casa promete ser longa. Uma hora volto para contar. Quem sabe até lá você também não tem uma experiência para dividir comigo?

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