Mulherzinhas foi um livro que marcou a minha adolescência. Escrito por Louisa May Alcott, em 1868, ele é daqueles que você devora, se identifica com a protagonista, Jo March, e sonha com a liberdade feminina. Não seria de se estranhar, portanto, que o cinema se apropriaria (positivamente) dessa atmosfera. Depois de sete adaptações para as telas da obra literária, Greta Gerwig (mesma diretora de Lady Bird, lembra?) traz para 2020 um verdadeiro presente para nós mulheres reacendermos aquela importante chama da união feminina. Apesar de ser um filme de época, Adoráveis Mulheres é mais atual do que nunca - tanto que saí do cinema mais inspirada impossível.
Se você não está familiarizada com a história, eu te ajudo: Jo March (Saoirse Ronan) é uma jovem criativa, que almeja ser escritora. Ela e suas três irmãs, Meg, Amy e Beth, vivem em uma casa no interior dos Estados Unidos com a mãe e uma ajudante da família. As meninas usam o tempo livre para criarem peças de teatro em casa, escreverem contos, viverem as fantasias mais lindas que a infância e adolescência nos permitem, ao passo que os Estados Unidos enfrenta a Guerra Civil de Boston - onde o pai delas foi servir. A abundância da arte nesse cotidiano reflete algo que vai muito além da condição financeira da família: a liberdade da mulher de criar, de viver, de imaginar o que ela quiser. Isso sem contar a relação das quatro que nos faz querer ligar para as amigas logo depois do filme acabar.
Mas o que há de tão especial nesta nova versão de Adoráveis Mulheres? Bom, além da qualidade técnica - a última é de 1994, com Winona Rider -, Greta Gerwig optou por uma narrativa que casa perfeitamente com esse momento da mulher contemporânea. "Eu me joguei a com tudo o que tinha", disse Gerwig em entrevista. "A minha ideia era tratar as mulheres como artistas e sobre a nossa relação com o dinheiro. Está tudo aí no texto de Louisa May, mas é um aspecto da história que nunca foi aprofundado antes. Foi algo que me pareceu muito próximo da nossa realidade. Por isso, considero este o filme mais autobiográfico do que qualquer coisa que eu tenha feito.”
E, para mim, assim como para Gerwig, o filme pegou justamente no ponto da liberdade (minha palavra para 2020). Jo March é a filha moleca, aspirante a romancista, revolucionária, que luta contra os padrões impostos para as mulheres, decidida do que quer e livre para criar suas próprias histórias. Quer personagem mais incrível e complexa que essa? "Há um espírito rebelde contido em Jo e uma esperança de uma vida além do que o seu gênero dita", comenta a diretora. "Ela é uma garota com nome de garoto que quer escrever, é ambiciosa, está zangada e tem muitas coisas diferentes com as quais nos identificamos.”
O roteiro é impecável, a direção idem - o figurino, então, suspiros... O que, consequentemente, traz as atrizes e atores para o centro de uma narrativa apaixonante (mesmo!). O elenco só tem nomes de peso e evidencia os novos talentos de Hollywood, como Saoirse Ronan, Timothée Chalamet, Florence Pugh e Emma Watson. E ainda ganha fôlego com as sempre deusas Laura Dern e Meryl Streep. Greta ainda nos presenteia com o francês Louis Garrel no papel do amigo-mentor de Jo March. “A história parece mais relevante do que nunca neste momento, porque explora mulheres jovens encontrando confiança para tomarem os seus próprios caminhos”, defende Saoirse Ronan, que dá vida à protagonista. “Também é uma história que muda dependendo de onde você está na vida. Você pode ser uma Amy por alguns anos, então de repente você é uma Jo, então uma Meg, então você é uma Marmee e talvez de volta a uma Beth. Você pode se encontrar em cada uma delas.”
A beleza de Adoráveis Mulheres está justamente aí: não somos feitas para estarmos dentro de caixinhas, nossas personalidades não podem (e nem devem) ser padronizadas, nossos sentimentos são sim complexos e importantes de serem entendidos. Enfim, é um filme para ficarmos inspiradas e entendermos a liberdade feminina de existir. Vale todos os minutos, garanto!