Beleza
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Por Isabela Serafim


Essa sou eu, com o corte da vez (Foto: Acervo pessoal) — Foto: Glamour
Essa sou eu, com o corte da vez (Foto: Acervo pessoal) — Foto: Glamour

Se tem uma coisa que eu aprendi nesses 24 anos de vida, é que um cabelo nunca é só um cabelo. Preste atenção: os fios dizem muito sobre uma pessoa. Tem quem gosta de pintar, fazer penteados diferentes ou deixá-los sempre bagunçados e naturais. Eu não tinha parado para refletir sobre a função representativa dos fios até um momento da minha vida em que precisei entender quem eu era de verdade.

Bom, começando do começo, eu cresci em uma cidade pequena chamada Tietê, que tem 40 mil habitantes e fica no interior de São Paulo. Quem já viveu em lugares assim sabe que os padrões impostos -- principalmente às mulheres -- são bem mais intensos. Quando eu tinha 12, 13 anos, quem não tinha o cabelo liso não era bonita. Para piorar, estava na fase da puberdade, em que as madeixas não eram muito definidas. Somando isso à falta de profissionais capacitados (ou mesmo incentivadores) em cachos em salões da região, não aguentei e me rendi à química.

Eu só sabia que queria me sentir bonita. Queria ir na baladinha e não sair de lá parecendo um leão indomado (detalhe: hoje eu amo o visual leão indomado). Eu fiz e todo mundo elogiou. Aí só fui vivendo a vida e agredindo meus fios arduamente de três em três meses. Entrei na faculdade e resolvi ficar ruiva. Mais química. Frequentei salões que "fritaram" meu cabelo e deixaram as pontas estragadas de verdade. Cortei bastante... continuei levando o alisado.

Taís Araújo, musa e empoderadora de cachos <3 (Foto: Instagram/Reprodução) — Foto: Glamour
Taís Araújo, musa e empoderadora de cachos <3 (Foto: Instagram/Reprodução) — Foto: Glamour

Mas chegou um momento em que eu comecei a mudar. Passei por um processo de autoconhecimento grande envolvendo muita coisa: quem eu era, quem eu queria ser, o que eu acreditava de verdade. Fazer faculdade de humanas foi uma coisa maravilhosa mesmo. Me encontrei no feminismo, na liberdade pessoal, no contato com pessoas diferentes, na meditação e nas coisas importantes da vida. E eu só queria romper com todos os padrões da sociedade em que tinha me amarrado até então.

Na época, Júlia, minha amiga e colega de redação, começou a me incentivar a parar de fazer progressiva. Eu estava começando a cansar da escravidão do salão e mais ainda querendo saber quem eu era de verdade, quem escondi durante anos. Eu nem sabia como era o meu cabelo. Via as cacheadas lindas da faculdade e achava o máximo. Li muito sobre empoderamento e aceitação. Entrevistei Taís Araújo para uma matéria de capa da revista em que trabalhava e fiquei impactada com sua opinião sobre os fios. Pronto. Não dava mais pra seguir daquele jeito.

Eu tive muito medo de me achar feia, de não gostar do resultado, de jogar minha autoestima no chão. Mas eu tinha que tentar. Vamos lá para um ano de transição. No começo, fazia escova (aquela raiz cheeeia de volume e sofrimento). Depois, fui fazendo baby liss nas pontas. Confesso que nada ficava bom. Meu cabelo foi bizarro durante todo esse tempo. Não tem o que fazer. Prendia bastante, tentava dar um jeito. Mas Taís tinha me dito que valia tanto a pena que você até esquece da transição depois. E é verdade.

Vocês sabiam que o cabelo natural de Chiara Ferragni é cacheado? (Foto: The Blond Salad/Reprodução) — Foto: Glamour
Vocês sabiam que o cabelo natural de Chiara Ferragni é cacheado? (Foto: The Blond Salad/Reprodução) — Foto: Glamour

Eu conheci uma cabeleireira bem especial, Talita Osiro, através da minha amiga Natália, outra incentivadora master dos cachos (cacheada também. Inclusive, somos obcecadas nesse assunto até hoje). Marquei um horário porque já estava na hora de dar um corte divisor de águas e assumir o cacheado. Talita e eu conversamos por horas sobre empoderamento, feminismo, processos internos de aceitação e libertação. E a real é que a minha história com os cachos tem muito a ver com as mulheres INCRÍVEIS que eu conheci na vida. Pela primeira vez me olhei no espelho e quase não me reconheci. A real é que eu estava me conhecendo ali.

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Foi muito mágico, de verdade. A cabeleireira também me ensinou a cuidar do cabelo cacheado, o que muda tudo. Gente, não existe cabelo feio. Todo cabelo é lindo. Às vezes você só precisa ajustar umas coisas. Os meses seguintes foram de muita descoberta. Eu me apropriei daquele cabelo e estava muito feliz com isso. A maioria das pessoas elogiou -- que delícia conviver com gente que compartilha os mesmos princípios que os seus, né? Dava pra ver que aquilo foi uma libertação pra mim.

Algumas me criticaram, mandaram indireta, falaram que eu não era mais uma pessoa "chique". Foi bem bizarro, mas eu já estava bem segura de mim. Já tinha saído do casulo. Porém, é complicado pensar que se você for uma dessas pessoas e fizer um comentário como esse para alguém que está na transição e está triste com os dias difíceis do cabelo, pode deixar a pessoa bem magoada e balançada. Vamos lá: a gente nasce com um cabelo com uma textura, algo que não pode ser mudado sem química. Para quê criticar uma característica natural da pessoa? Tirando que também há uma questão de gosto.

A cantora Lorde é uma super-referência cacheada para mim (Foto: Instagram/Reprodução) — Foto: Glamour
A cantora Lorde é uma super-referência cacheada para mim (Foto: Instagram/Reprodução) — Foto: Glamour

Depois disso, já cortei o cabelo duas vezes, conheci profissionais muito bacanas que entendem e sabem fazer cachos ficarem ainda mais lindos. Ainda bem! Com os meus cachos eu me descobri, aprendi a me amar, a enxergar belezas diferentes e a me conectar com a minha verdadeira natureza. Acho que me tornei uma pessoa mais sensível também. Hoje entendo que a beleza vem de dentro e tem muito a ver com todos os sentimentos que citei anteriormente. Ah, também tem o alívio de poder entrar no mar e não me preocupar, não precisar mais usar secador, chapinha... E a economia de dinheiro.

Esses dias, minha amiga Renata, que tem pontas levemente onduladas, disse que alisou o cabelo e achou que eu ia ficar brava. Eu disse a ela a mesma coisa que digo a você, caso não concorde com nada do que eu disse ou se ache feia de cabelo natural. A gente deve SEMPRE fazer o que tem vontade. Quer deixar os fios como são? Maravilha. Ama seu cabelo liso e prefere progressiva? Bom também. A conclusão de toda essa história é que podemos fazer o que quisermos e não o que a sociedade acha legal. Se alisar as madeixas é o que te faz feliz, vai nessa, mas tente se libertar dos padrões. Mesmo assim,Talita me disse algo que nunca saiu da minha cabeça. "A natureza é perfeita e faz nosso cabelo com a textura que mais combina com a gente, que harmoniza com os nossos traços." Pensa nisso!

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