Saúde
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Por Isabela Serafim


. (Foto: .) — Foto: Glamour
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Todo mundo conhece alguém que é exemplo de comer irritantemente bem. Alguém que riscou da sua vida açúcar, glúten, lactose, sal... Arroz? Não se lembra da última vez que comeu. Discorrer sobre a dieta low-carb é um dos seus passatempos favoritos! E o orgulho de suas escolhas alimentares é tamanho que não consegue fazer uma refeição sem postá-la no Insta. Eis aí um exemplo nítido do primeiro transtorno da geração saúde na era digital: a ortorexia, distúrbio alimentar em que a pessoa fica obcecada por comer apenas alimentos saudáveis e que pode ser algo tão grave quanto a bulimia e a anorexia.

O GATILHO
O endocrinologista Renato Zilli, do Hospital Sírio Libanês, explica que a doença surgiu no Brasil há mais ou menos cinco anos com o crescimento das redes sociais, principalmente do Instagram. “As pessoas passaram a seguir, idealizar e copiar o estilo de vida das ‘musas fit’ e levaram o termo geração saúde a um nível extremo”, conta. A fixação pelo bumbum na nuca, vãos entre as coxas (o famoso thigh gap), risca vertical no meio do abdômen (o ab crack) e outras loucuras viralizadas online, trouxeram à tona profissionais despreparados e irresponsáveis, que para mostrar “serviço” – o seu corpo sarado a qualquer custo como vitrine para eles – se baseiam em pseudociência, afirmações fundadas em argumentos que não foram comprovados ou são equivocados, como o terrorismo em volta do carboidrato. “Esse grupo precisa fazer parte de 40% a 60% da alimentação porque é o combustível do nosso corpo. A preocupação excessiva com a quantidade e a qualidade dos alimentos e a exclusão de muitos grupos deles têm graves consequências, como a falta de vitaminas no corpo”, alerta o endocrinologista paulistano Filippo Pedrinola.

De tão novo, o transtorno ainda não tem registro no DSM-5, Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, a “bíblia” da psiquiatria. Maria Cristina Ferrari, psiquiatra do Hospital das Clínicas, em SP, acredita que o distúrbio causa um sofrimento psíquico e físico. E olha só a contradição: “a paciente fica obcecada em ser saudável e acaba tirando muitos nutrientes da alimentação. Então, se torna exatamente o contrário do que desejou”, explica Maria.

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Depois de um longo histórico de bulimia e compulsão alimentar, a jornalista e influencer paulistana, Mirian Bottan, de 30 anos, se tornou ortoréxica aos 28, enquanto ainda estava se tratando dos transtornos antigos. “Assim que perdi o medo da comida, passei a me interessar por nutrientes. Fiquei obcecada por uma dieta saudável. Queria ganhar massa magra e foquei nisso”, conta ela, que ainda se lembra dos elogios por ter tanta força de vontade ao só comer “limpo”.

SINAL VERMELHO
Especialistas contam que a ortorexia tem diversos sintomas comportamentais. “Há meninas que começam a pesar todos os alimentos. Algumas viram veganas, depois tiram o glúten e o açúcar e passam a comer basicamente folhas e legumes”, diz Filippo. A mudança na vida social, que passa a ser mínima, também pode ser um indício. “Primeiro deixam de beber e comer socialmente. O próximo passo é recusar convites, para não caírem em tentação”, afirma Renato.

"As pessoas passaram a seguir e a idealizar as ‘musas fit’ e levaram o termo geração saúde ao extremo" -

Mirian chegou a ter crises no seu relacionamento por culpa da ortorexia. “Eu detestava sair com meu namorado para comer porque não confiava em como os pratos eram preparados, não sabia que tipo de ingredientes eram de fato usados. Entrar numa pizzaria ou ir a um barzinho era um suplício! Então, não ia, o que virou um problemão na nossa vida a dois.”
De tanta preocupação com a alimentação, a estudante paulistana Nicole Gaspari, de 18 anos, chegou ao cúmulo de levar o próprio óleo aos restaurantes para que a sua comida fosse feita separadamente. “Não conseguia parar de pensar nisso. Ficava horas olhando o cardápio antes de finalmente fazer o pedido. Mesmo levando meu óleo, ainda me sentia culpada. A imaginação ia longe pensando no que os cozinheiros podiam ter colocado na minha comida. Torturante!”, lembra.

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ME IDENTIFIQUEI: FAÇO O QUÊ?
De acordo com a psiquiatra Maria Cristina Ferrari, ainda não há um cronograma ou métodos comprovados para o tratamento do distúrbio. “A ortorexia precisa ser conscientizada. Ela está em fase de estudos, então precisamos analisar caso a caso”, afirma. “Alguns deles pedem acompanhamento nutricional atrelado a remédios psiquiátricos. Mas, em todos, a psicoterapia é fundamental e por tempo indeterminado. Quem já teve qualquer distúrbio alimentar precisa ficar sempre alerta.”

"Não conseguia parar de pensar na alimentação. Mesmo levando meu ÓLEO ao restaurante, ainda me sentia culpada" -

Nicole começou a fazer terapia há alguns meses. “Não aguentava mais passar todo o tempo pensando na alimentação”, conta. O tratamento da estudante é recente, mas ela já sentiu a melhora. “Passei a entender que está tudo bem se, às vezes, eu comer uma fatia de bolo.”
Depois de se recuperar da ortorexia, Mirian passou a usar seu @ no Instagram (veja box na página anterior), antes um diário fitness, como um canal de autoestima. “Me perguntam se eu não preferia aquele corpo. Respondo que prefiro a vida que tenho hoje, mais leve, sem neuras. A obsessão pela comida ‘limpa’ ficou para trás e me orgulho em dizer que há um ano não piso na balança.”

Elas inspiram no insta...

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Mirian Bottan passou 16 anos com transtornos alimentares. Depois de compulsão, bulimia e ortorexia, ela incentiva o amor ao corpo de um jeito consciente e bem-humorado.

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Depois de sofrer com a ortorexia, a americana Jordan Younger, que era vegana, teve problemas de saúde e precisou voltar a comer peixe. De “The Blonde Vegan” virou “The Balanced Blonde” no Insta para falar da nova vida.

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Rainha mor do body positivity na internet, a inglesa Megan Crabbe já teve alguns distúrbios alimentares e mudou o seu conceito sobre o corpo feminino. No perfil, só fotos e mensagens inspiradoras.

Será que é ele?

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Será que o que você jura ser saudável é mesmo? É o questionamento do médico americano Steven R. Gundry em seu livro The Plant Paradox (O Paradoxo da Planta, em tradução livre), onde alerta para alimentos com proteínas tóxicas, os “lectins”, que causam reações inflamatórias no corpo, levando ao ganho de peso e a graves condições de saúde. E quais são alguns desses alimentos? Castanha-de-caju, tomate, chia, feijão e pão integral. O livro custa R$ 71 na Amazon e não tem previsão de tradução para o português.

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