Amor & Sexo
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Por Reportagem Por Manu Cordeiro* / Artes Por Leticia Oliveira


Só quem viveu a quarentena solteira sabe, né, minha filha? Se você está se sentindo carentona, querendo um chamego gostoso do/a crush, um papo cabeça ou qualquer tipo de troca genuína e/ou fogosa durante tantos dias enclausurada em casa, vai me entender quando eu disser que topei participar de um experimento social de dates online.

Sim, você leu corretamente. No dia 1 de maio de 2020, após alguns bons dias no conforto entediante do meu lar (respeitando a quarentena, é claro!), participei de um encontro virtual de Speed Dating. Você já ouviu falar nisso? Na sua essência, o "namoro rápido é um processo formal de encontros que tem como objetivo incentivar os solteiros a conhecer um grande número de novos parceiros em potencial em um período muito curto de tempo". Mas, é claro, que minha experiência aconteceu via internet.

Tive 8 encontros às cegas pelo Zoom em um dia na quarentena e te conto como foi essa experiência  (Foto: Leticia Nunes) — Foto: Glamour
Tive 8 encontros às cegas pelo Zoom em um dia na quarentena e te conto como foi essa experiência (Foto: Leticia Nunes) — Foto: Glamour

Durante cerca de uma hora e meia tive oito encontros com oito homens diferentes via Zoom a.k.a videoconferência. Até agora não acredito que vivi essa experiência, mas posso dizer que ela foi, além de muuuito divertida, uma viagem de autodescoberta. Indicada por um amigo, participei do projeto Love is in the Cloud, que organiza esses encontros às cegas. Spoiler: conversei também com a founder dessa maravilha, a Isabella Nardini (uma fada sensata e girl power <3) e você confere o bate-papo logo abaixo. Ah, em poucas palavras, ela resumiu o que é o projeto:

"O Love Is In The Cloud é uma experiência de uma hora e meia e não uma promessa de que você vai achar um namorado/a." - Isabella Nardini

MAS E AÍ, COMO FUNCIONA O SPEED DATING?

Tudo começou com uma mensagem pelo WhatsApp da Isa Nardini na manhã do grande dia que, em resumo, dizia: "tudo vai acontecer das 21h as 22h30. Em uma hora e meia, você vai ter 8 encontros de 5 minutos com 8 pessoas diferentes. Para cada encontro você vai perguntar & responder sobre coisas que vão na contra mão da superficialidade. Se rolar interesse mútuo em seguir conversando, no dia seguinte você recebe o contatinho da pessoa". Bom, nesse momento, meu lado aquariana adorou essa novidade.

Por volta das 18hrs comecei a me arrumar, passei uma boa make -- como há muitos dias minha cútis não via -- vesti uma brusinha nova & com mangas bufantes que comprei online (ah, fiquei com receio de parecer muito patricinha, mas preferi mostrar quem eu era, né?) e às 20h50 já estava posicionada em frente ao meu computador e beeem ansiosa. Ah, e é claro que já bebia uma tacinha de vinho para relaxar. Afinal, teria dates com pessoas que NUNCA tinha visto na minha vida.

Como Nardini explicou, o Love Is In The Cloud é pensado para ser intimista mesmo. Portanto, a regra é clara: só amigos de amigos participam. A boa notícia? Amigos podem ser MUITO diferentes entre si e dá para sair da bolha durante esses dates também. Fiquei mais aliviada ao saber dessa informação, confesso.

Assim que nos conectamos, Isabella, a "anfitriã" da noite ao lado da Roberta Tannus, head de operações do LIITC, pediu para que todos desligássemos as câmeras e os microfones. Depois, ela explicou como seria a dinâmica dos encontros: cada pessoa seria direcionada para uma sala privativa no Zoom e teria APENAS cinco minutos para conversar com alguém do sexo oposto. A cada rodada, receberíamos uma pergunta íntima e bem curiosa para fazer ao outro e responder.

Roberta era quem comandava uma playlist ao fundo, perfeita aliás, com hits icônicos, como "Love Is In The Air". Após algumas trocas de mensagens, fomos direcionados para o primeiro encontro. Seguindo orientações, eu tinha por perto um papel e uma caneta, para anotar minhas impressões sobre cada date e um objeto que me representasse (eu escolhi um livro e uma câmera Instax).

A PRIMEIRA IMPRESSÃO É A QUE FICA?

Bom, essa é a pergunta que não quer calar e que fez muito sentido nesse contexto, afinal, teria apenas 5 minutos para me conectar com aquelas 8 outras pessoas ali do outro lado da telinha. E.... O que eu mais temia: o primeiro date foi um completo desastre, rs. O menino barbudo não conseguia conectar o microfone do computador, começou a gritar alguma coisa para alguém na casa dele (será que era para a mãe), e eu com uma cara de ?, bem perdida, apenas observando.

De duas uma: ou ele me achou desinteressante/ não fazia o tipo dele ou ele só era meio perdido mesmo. Bom, bola para frente! Logo o próximo date foi óootimo, o menino era superestiloso e parecia muito afim de estar ali. Informação relevante: descobri durante esses dates que eu, na verdade, sou ÓTIMA na profissão dates, rs, como se ela existisse. Sei puxar papo (será que é porque sou jornalista?!), sou alegre e sei flertar. Bem modesta eu, né? Bom, e dates que seguiram, fiz minhas anotações no papel que envolviam palavras como: "fofinho", "perdidasso", "AMEI MUITO" em caps lock mesmo e "pode ser só meu migo de Instagram".

Ao final, todos puderem "abrir" as câmeras e analisar pela primeira vez quem era as outras meninas que estavam ali conversando com os mesmos boys que troquei ideia. A impressão que tive era que todas eram beeeeem mais interessantes que os boys. Mas isso é papo para uma outra hora, né? O que passou pela minha cabeça durante todo o rolê? "É óbvio que nenhum boy vai me curtir e eu serei a única menina que não teve nenhum match". Oi, insegurança! Pffff, ledo engano: na manhã seguinte, recebi uma mensagem da Isa para me contar que dos 8 dates, 5 tinham me curtido e gostariam de me conhecer melhor. Aiai, como a gente se autosabota... Adicionei no Instagram apenas um dos boys e nunca puxei papo com ele. Mas, mesmo assim, a experiência alegrou DEMAIS minha quaretena monótona e agora tenho histórias engraçadas para compartilhar na mesa do bar #sdds.

Bom, o resumo da minha experiência é bem simples: descobri durante o experimento três coisas importantes: 1- a gente é muito mais interessante do que imagina. 2- dates são um ótimo veículo de autoconhecimento. 3- Não tem nada mais gostoso do que esse friozinho na barriga pelo desconhecido. Obrigada, Love Is In The Cloud por me permitir sentir algo além de medo e ansiedade no meio dessa pandemia tão devastadora para todos nós.

BATE-PAPO COM A FUNDADORA DO LOVE IS THE CLOUD

Isabella Nardini, a paulista de 30 anos, compartilhou com a gente os detalhes mais curiosos dessa experiência. Até agora, já rolaram 9 encontros online às cegas. SPOILER: "Teve gente que participou que já recebeu serenata do crush, e outras que até receberam fornada de pão de queijo em casa." Aos detalhes:

Tive 8 encontros às cegas pelo Zoom na quarentena; saiba tudo sobre o Speed Dating (Foto: a) — Foto: Glamour
Tive 8 encontros às cegas pelo Zoom na quarentena; saiba tudo sobre o Speed Dating (Foto: a) — Foto: Glamour

GLAMOUR Como/ quando/ onde surgiu a ideia de fazer o projeto?
ISA: "A ideia surgiu dentro do meu quarto, entre quatro paredes, quarentenando, na primeira semana de abril desse ano. Eu sou formada em Design gráfico e de produto e durante 5 anos fui Head de Experiências de uma empresa chamada Mesa, que tem um método que resolve problemas complexos em cinco dias para grandes empresas como Netflix e Google. Meu trabalho era criar rituais, para poder destravar o potencial humano de grupos e fazer com que as pessoas trabalhassem mais e melhor nessas empresas.

Eu sempre tive em mim essa parte humana de despertar no outro uma ideia de pertencimento. Em dezembro de 2019 resolvi fazer uma viagem de três meses. Quando eu pisei no Brasil, de volta à realidade, começou a quarentena e me vi sem trabalho. Mas, como é da minha natureza ser muito 'fazedora', decidi iniciar o projeto. O estralo inicial aconteceu quando fui chamada para participar de um Workshop no Zoom e alí me colocaram em salas privadas com pessoas que não conhecia. Naquele dia senti um frio na barriga, um frescor pelo novo de não saber com quem conversaria nessas salinhas, e descobri que era através desse sentimento que iniciaria e materializaria o Love Is In The Cloud."

GLAMOUR O projeto pode virar um estudo?
ISA: "A vontade é publicar algo em forma de vídeo documental, mas ainda seeeeeem previsão alguma de quando isso vai rolar. Até porque, embora o LIITC tenha nascido como um experimento, ao passar das edições e com a resposta de todo público ele começa a pedir pra se tornar um produto. Com isso estamos inclusive parando de chamá-lo de experimento."

GLAMOUR Existe uma faixa etária média dos participantes? Todos são amigos de amigos, né? ISA: "Sim, todos são amigos de amigos, justamente para manter o ambiente seguro e para garantir uma curadoria harmoniosa e gentil. Só de saber que quem tá ali são amigos de amigos, você se "comporta melhor", como se vc estivesse na casa de um amigo seu, conhecendo essas outras pessoas. Quanto à idade e geografia, a gente tem estado bem aberta, o range de faixa etária tem inclusive aumentado, inicialmente era de 30 a 40 anos (naturalmente, sem estabelecermos), e agora está de 20 a 45 anos, por exemplo.

GLAMOUR O que mais de curioso aconteceu durante o LIITC?
ISA: "Teve um caso que me marcou muito. Uma mulher maravilhosa e interessante, amiga minha, deu sim para 4 caras dos 8 dates. E esses 4 caras que ela gostou deram um não para ela. E os que restaram, deram sim para ela e ela deu não para eles. Confuso, eu sei! Mas o resumo dessa história? Ela terminou a noite com zero matchs e compatibilidades e aquilo foi muito frustrante -- para mim e para ela, é claro. Nesse momento entendi que a vida é um eterno desencontro.

"O flerte é um mar de possibilidades. É gozar dessas possibilidades" - Isabella Nardini

Também rolou um outro momento curioso. Fizemos uma edição hétero e, ao final, organizei uma rodada "Vale Tudo", em que as pessoas poderiam cair 'mulher com mulher', 'homem com homem'. Aí, duas meninas cairam juntas. No mesmo dia, recebi um áudio delas, dizendo que ambas tiveram uma superconexão e que, inclusive, elas nunca tinham tido experiências só com mulheres. Eu achei muito legal isso. Pelo momento que a gente está vivendo, as pessoas estão mais propícias a experimentar e testar. Um cara bem hétero, que participou, uma vez me disse: 'tive a chance de falar com mulheres que não são do meu padrão estético, que eu achei superinteressante'. O Love Is In the Cloud tem como intenção provocar esse frio na barriga, um mundo novo.

É curioso também que, 100% das pessoas que participaram, das mais extrovertidas, todas me relataram que sentiram muuuito frio na barriga antes de começar. A sensação do risco, de não saber o que vem depois, acontece com todo mundo.

GLAMOUR Qual foi a maior dificudade que você encontrou ao realizar o LIITC?
ISA: "Identificar as pessoas que iríamos chamar para participar, garantir a diversidade no time, tanto racial, quanto de idade, de tribos e fazer uma seleção bacana de perguntas. É um processo meticuloso. Foi também um desafio entender como eu posso finalizar essa experiência de uma maneira que seja leve e gostosa para todo mundo. Esse é o meu maior objetivo, que a experiêcia não acrescente mais ansiedade nas pessoas."

GLAMOUR Algum date já virou namoro? haha vale "webnamoro"?
ISA: Sim, tem gente bem envolvida uma com a outra, a ponto de eu falar: "e aí, quer participar de novo" e a pessoa responder: "não rola, já tô muito envolvido". Tem gente que está fazendo date virtual direto, ou que já virou melhor amigo no Instagram. Teve gente que já recebeu serenata do xodó, outras que até receberam fornada de pão de queijo.

* Ocultamos o nome da jornalista para proteger sua privacidade*

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