Amor & Sexo
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Por Lívia Laranjeira; Beatrice Stopa/Revista Glamour


(Foto: Ellen Von Unwerth Fräulen, reprodução do livro Ellen Von Unwerth Fräulen, Ed. Taschen, 2009, pág. 52) — Foto: Glamour
(Foto: Ellen Von Unwerth Fräulen, reprodução do livro Ellen Von Unwerth Fräulen, Ed. Taschen, 2009, pág. 52) — Foto: Glamour

"Gente, parece a de uma garotinha!”, “Mas a sua é assim? Você também depila tudo, tudinho?”, “Caramba, mas cadê o clitóris e os pequenos lábios que eu não tô vendo?”. Nunca antes na história desta redação a chegada de uma foto por e-mail causou tanto rebuliço quanto a que a repórter Beatrice recebeu de um ginecologista. Era a foto do “ideal de vagina perfeita”: Nenhum pelinho pra contar história, coloração rosada, grandes lábios gordinhos, pequenos lábios discretos e clitóris escondido, apenas com a pontinha à mostra. Mas “vagina perfeita”, vamos frisar bem, segundo o padrão estético vigente. Sim, você leu corretamente: a ditadura da beleza chegou até a nossa estética vaginal. E é ela (a ditadura, não a vagina) que tem feito mulheres optarem cada vez mais pela depilação total e recorrerem com frequência às cirurgias plásticas íntimas.

Então é isso: foram anos de terapia para internalizar que a gente pode ser feliz como
a gente é, com quilinhos a mais, peitos a menos, cabelos que não são assim uma Brastemp, uma pele assim assim (gente, ninguém é tão bem-resolvida quanto querem fazer crer os politicamente corretos)... Aí a gente de repente descobre que nossa vagina não está de acordo com os padrões. E durma-se com um barulho desses!

“É ‘culpa’ dos filmes pornôs, que ditam
O padrão estético vaginal assim como os desfiles de moda ditam o padrão visual corporal, sabe?”, acredita um produtor de filme pornô que preferiu não se identificar. "As atrizes são muitas vezes escolhidas pela vagina bonitinha, simétrica. A mulher assiste, pergunta a si mesma se a sua está dentro do padrão e se sente mal quando não está”, opina. E quando não está? Plástica nelas! Segundo a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica, o Brasil lidera o ranking das labioplastias, as cirurgias plásticas íntimas.

O último relatório do órgão, com dados de 2011, revela que, naquele ano, 9.043 brasileiras entraram na faca para corrigir o que consideravam imperfeições nos lábios vaginais – na maioria das vezes redução de pequenos lábios. O número corresponde a mais de 16% do total de labioplastias no mundo! Para o ginecologista Paulo Guimarães, que realiza cerca de 900 procedimentos como esse por ano, as indicações reais de cirurgia são “desconforto ao vestir roupas justas ou andar de bicicleta”. O resto é pura encucação estética.

Objeto de trabalho: vagina! (Foto: Glamour) — Foto: Glamour
Objeto de trabalho: vagina! (Foto: Glamour) — Foto: Glamour

Agora: o corpitcho, os cabelos, o rosto a gente exibe para Deus e todo o mundo o tempo todo. Mas a vagina a gente só mostra entre quatro paredes, para poucos e bons – ok, há exceções, mas isso é uma outra história. Então por que diabos o visual dela virou uma questão assim tão importante?

A psicanalista e escritora Regina Navarro Lins tem sua teoria: “Mais uma vez, são as mulheres querendo se ajustar ao que elas supõem que os homens querem. Não é diferente do que faziam as gueixas, que espremiam os pés em sapatos minúsculos para ficarem atraentes aos olhos masculinos”, compara. “Porque, ao contrário do que acontece com os homens, que associam o ideal masculino de força e poder ao tamanho do pênis, no universo feminino vagina não tem nada a ver com competição. A gente não fica mostrando os lábios vaginais umas para as outras no banheiro de uma festa. Se mulheres se submetem a procedimentos cirúrgicos, é na tentativa de ficarem lindas para eles”, critica.

É fato. Rapazes trocam impressões sobre seus pênis nos vestiários do futebol com a mesma naturalidade com que escovam os dentes; meninos comparam seus "documentos” muito antes de terem pelos púbicos. Nós, garotas, só começamos a atinar para essa questão da estética vaginal muito recentemente, graças à crescente liberdade sexual e maior acesso à informação (leia-se “acesso ao visual das vaginas alheias”) via internet – filminhos pornôs estão mais acessíveis, ou vai dizer que nunca viu? A difusão da depilação cavada aqui no Brasil, nos anos 80 (alô, alô, biquíni fio dental), também ajudou nessa “descoberta”. Antes disso, a bichinha ficava soterrada por uma generosa camada de pelos.

Como você chama a sua vagina? (Foto: Glamour) — Foto: Glamour
Como você chama a sua vagina? (Foto: Glamour) — Foto: Glamour

Pois então: a vagina ganhou de vez os holofotes atualmente. Tanto que a americana Molly Moore resolveu criar o Pussy Pride Project (mollysdailykiss.com; algo como Projeto do Orgulho Vaginal), uma campanha “ame a sua vagina como ela é”. “As mulheres não têm muitas oportunidades de conhecer a aparência da região íntima de outras mulheres nem de falar abertamente sobre o assunto. O projeto ajuda a dissipar os ideais e mitos que cercam esse assunto”, explica. Emma P. também se engajou em ação semelhante com seu Large Labia Project (largelabiaproject.tumblr.com; não precisa traduzir, né?), que publica fotos de vaginas reais do jeitinho que elas são: grandes, pequenas, peludas, escuras... Glamour assina embaixo: tamanho, principalmente nesse caso, não é documento.

Ideal da vagina perfeita

Se a Barbie tivesse vagina, como seria? Pedimos a ajuda de especialistas – de diretor de filme pornô a cirurgião plástico vaginal, passando, é claro, por homens safadjenhos – para traçar esse padrão.

A MAIS PEDIDA
Pode parecer bizarro (e é um pouco), mas a vagina mais pedida pelas mulheres que entram na faca é bem parecida como a sua já foi um dia: pequena, rosinha, fofinha e com pouco pelo. O clitóris aparece só um pouquinho, os pequenos lábios são bem escondidos, e os grandes lábios, carnudos e bastante unidos.

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