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Por Geiza Martins


Cena de "Cinquenta Tons de Cinza" (Foto: Divulgação) — Foto: Glamour
Cena de "Cinquenta Tons de Cinza" (Foto: Divulgação) — Foto: Glamour

Precisamos falar sobre “Cinquenta Tons de Cinza”. Desde que a escritora E.L James criou o fanfic erótico de “Crepúsculo” mais famoso do mundo, a polêmica em torno dessa história nunca mais parou. E bastou sair o trailer do segundo filme “Cinquenta Tons Mais Escuros” para o debate vir à tona novamente.

Se você ainda não viu o trailer, vem dar o play com a gente:

De um jeito ou de outro, o relacionamento de Anastasia e Mr. Grey chama atenção -- seja pelo erotismo ou pelas controvérsias. Para quem não leu e nunca ouviu falar (se é que isso é possível), "Cinquenta Tons" nos apresenta Ana, uma garota virgem que conhece o empresário Christian Grey, adepto do BDSM (acrónimo para a expressão Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo), e topa entrar no seus jogos de dominação sexual.

Muita gente lê nas entrelinhas dessa história a romantização de um relacionamento abusivo, “que se caracteriza quando uma das partes faz o uso excessivo ou indevido de jogos de controle, manipulação, violência e ciúme”, explica a psicóloga Livia Marcella Raineri Braga. Mas seria mesmo este o caso de Christian e Ana? Investigamos essa história que mexe com a cabeça e os desejos de muita gente.

Resultado Parcial
De acordo com o psiquiatra Mario Louzã, se há dois adultos conscientes e de acordo com o que estão fazendo, não há problema algum nessa relação. “Nesses casos, não há regras, não importa o que eles fazem, quando, fazem e onde fazem. Não vejo isso como abusivo”, declara.

Mas o que Louzã descreve é um relacionamento sadomasoquista em que ambos estão fazendo o que querem, espontaneamente e sentindo prazer com isso. Se parece ser assim com o casal dos livros, a princípio, em pouco tempo, a narrativa começa a correr fora dessas linhas. "Grey tem um sentimento por Ana e ela por ele. Então, o que era mais uma relação de fetiche do Mr. Grey vai se transformando em algo que, aparentemente, nem ele sabe o que é", analisa Louzã.

O problema
Tudo muda quando o fetiche sadomasoquista se transforma em dominação e controle sobre a vida pessoal de seu parceiro. “Se isso gera um incômodo grande para quem está sendo dominado fora da fantasia sexual, ou seja, no seu dia a dia, a relação se torna problemática, abusiva”, afirma Louzã.

Isso acontece com Ana. Christian quer saber cada passo que ela dá. “A relação, que tinha tudo para virar uma grande paixão, começa a esfriar, resultando no afastamento da protagonista, que não aguenta o temperamento possessivo e controlador de Grey”, comenta.

Christian, um stalker
Se analisarmos bem, o comportamento manipulador de Grey está presente desde o início. Ele não age de uma maneira correta para conquistar Ana. Ele a persegue, rastreia seu celular para saber onde ela está, demonstra incômodo por Ana conversar com um amigo do trabalho sendo que eles mal se conheciam.

Além disso, ele tenta controlar a carreira da garota e até compra o local onde ela trabalha. “A história que começou com uma proposta apenas de cunho sexual vai se transformando em algo além disso, apesar de ficar nas entrelinhas”, diz Louzã.

Portanto, depois que desconstruímos a relação que muita gente enxerga como uma “paixão avassaladora e complexa”, percebemos que, na verdade, ela é um relacionamento abusivo. E não é o sexo com práticas sadomasoquistas que nos leva a essa conclusão. Mas a maneira como Grey toma posse da vida de Anastasia.

Mas eu sinto desejo ao ver as cenas...
Sim, isso pode acontecer. E talvez aí esteja o segredo do sucesso de E.L. James.: ela escreve sobre uma fantasia sexual recorrente no mundo feminino, ainda que seja pouco assumida e comentada. A ousada escritora francesa Virginie Despentes foi uma das poucas a investigar, analisar e discutir o fetiche de ser dominada.

Em seu polêmico livro “Teoria King Kong” – um ensaio sobre o feminino envolto em pensamentos e vivências pessoais da autora – ela fala justamente dessa sensação. “Existe uma predisposição feminina ao masoquismo e ela não surge dos hormônios ou do tempo das cavernas, mas de um sistema cultural”, declara.

Virginie afirma que essa “fascinação” vem justamente da moral judaico-cristã. Nela, está subentendido de que a mulher não pode ter o domínio pleno da sua sexualidade. Ainda hoje, a mulher dona de sua sexualidade é julgada, criticada e, muitas vezes, apontada como "fácil".

A culpa da liberdade sexual
Para não se sentirem assim, muitas mulheres criam fantasias sexuais de dominação. É como se somente o homem pudesse “liberar” toda sexualidade feminina, pois o sexo nasce do desejo dele, do homem. É ele quem a leva a fazer loucuras, como se ela não tivesse liberdade ou direito para fazer o que quer por vontade própria.

Vale lembrar que, o acordo na hora do sexo deve sempre ser do casal e nunca de apenas uma das partes. Nenhum tipo de relacionamento abusivo é saudável. Não importa o quão satisfatório é o sexo ou outro fator da relação, se houver sinal de abuso, reaja e não aceite se diminiuir por causa do namoro ou casamento.

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