Sociedade

Por Redação Galileu

O racismo atinge grupos minoritários desde o nascimento. É o que demonstra um estudo publicado na revista The Lancet nesta quinta-feira (8). Segundo a análise, bebês nascidos de mães negras em países ricos têm maior probabilidade de nascer mortos ou morrer nas primeiras quatro semanas de vida, do que os filhos de mulheres brancas.

Os impactos negativos na sobrevivência de bebês nascidos de mulheres pretas foi observado em países de renda alta e média-alta, incluindo Reino Unido, Estados Unidos e Canadá. “As evidências existentes sobre os efeitos da raça e etnia nos resultados da gravidez são restritas a estudos individuais feitos em países e sistemas de saúde específicos. Nosso objetivo foi avaliar o impacto da raça e etnia nos resultados perinatais em países mais ricos e verificar se a magnitude das disparidades, se houver, variava entre as regiões geográficas”, explicam os pesquisadores no estudo.

A pesquisa é a maior análise de resultados perinatais já realizada e conta com pesquisadores do Hospital Infantil de Birmingham, no Reino Unido, do Hospital Ramon y Cajal, na Espanha, e das Universidades de St George e Birmingham, também do Reino Unido.

Analisando desigualdades

Com base em 2,2 milhões de gestações em 20 países, a equipe de pesquisadores descobriu que as mulheres negras têm duas vezes mais risco de sofrer mortalidade neonatal, onde seus bebês morrem nos primeiros 28 dias após o nascimento.

A probabilidade de ter um bebê natimorto, parto prematuro e crianças pequenas para a idade gestacional também é maior em mães pretas, em comparação com mulheres brancas, aumentando o risco de complicações de saúde nesse público.

“As disparidades raciais e étnicas na assistência perinatal não estão localizadas em um país ou região específica, o que significa que há um problema sistêmico nos países mais ricos que precisa ser tratado como uma comunidade internacional”, diz Shakila Thangaratinam, professora da Universidade de Birmingham e principal autora do estudo, em comunicado.

No recorte de mortalidade neonatal, as mães hispânicas tiveram os piores índices, com três vezes mais bebês morrendo nas primeiras quatro semanas após o nascimento, em comparação com as mulheres brancas nos países considerados para o estudo.

A análise também descobriu que as mães do sul e leste da Ásia têm taxas significativamente mais altas de parto prematuro e bebês pequenos para a idade gestacional.

Disparidade na saúde global

Em um artigo de opinião também publicado no The Lancet, pesquisadores evidenciam, por meio de uma revisão na literatura, como o racismo, a xenofobia e a discriminação têm impacto crítico na saúde global de pessoas minorizadas. Mas, apesar disso, ainda são negligenciados por aqueles responsáveis por políticas de saúde.

De acordo com o estudo, embora os contextos e as histórias sejam diferentes, os fatores sociais, políticos e as consequências para a saúde da discriminação com base nas categorias de casta, etnia, status migratório, raça, religião e cor da pele são semelhantes em todo o mundo.

Delan Devakuma, professor da Universidade College London (UCL) relata, em nota, que enquanto essas questões não forem universalmente reconhecidas como fatores determinantes da saúde, cada vez mais veremos desigualdades nessa área.

Durante a segunda onda de Covid-19, foi observado que grupos étnicos negros africanos, negros caribenhos, de Bangladesh, paquistaneses e indianos foram os que tiveram altas taxas de mortalidade. Isso ocorre porque, frequentemente, esses grupos sofrem desvantagem devido às barreiras aos serviços de saúde impostas pelos governos.

Da mesma forma, as populações indígenas em todo o mundo sofreram com piores resultados de saúde, incluindo menor expectativa de vida, maior mortalidade infantil e materna e desnutrição.

Para esses grupos, a discriminação não afeta somente a falta de políticas de saúde, em âmbito individual: a pesquisa destaca que ela também afeta os hormônios do corpo e as respostas ao estresse, causando mudanças biológicas de curto e longo prazo.

Além disso, discriminação molda os ambientes de vida e estabelece as bases para muitos dos fatores de risco associados à saúde precária, como exposição a moradias de baixa qualidade, violência, poluição do ar e acesso limitado a espaços verdes e alimentos nutritivos.

“A discriminação afeta a saúde de várias maneiras, que muitas vezes têm sido difíceis de medir porque os efeitos da discriminação podem aparecer durante longos períodos de tempo. No entanto, as evidências existentes sugerem que os impactos biológicos diretos e indiretos da discriminação são um importante impulsionador das desigualdades raciais na saúde em todo o mundo”, aponta Sujitha Selvarajah, pesquisadora da UCL.

Ações globais

Além de medidas que diminuam os impactos do racismo e da desigualdade na saúde , é necessária uma ação mais ampla e profunda para transformar os sistemas existentes que defendem e reproduzem o racismo. Por isso são necessárias mais pesquisas para identificar os principais fatores.

Em relação aos resultados perinatais, embora a análise de 51 artigos demonstre a escala das disparidades, o grupo de pesquisa aponta a falta de dados para identificar a escala dos riscos enfrentados por mulheres de minorias raciais e étnicas.

“Já sabemos que existem barreiras que afetam desproporcionalmente as mulheres de minorias raciais e étnicas, mais dados permitirão que os médicos planejem melhores intervenções para atender às mães pertencentes a minorias e também forneçam uma melhor responsabilidade para fechar a lacuna”, finaliza John Allotey, professor de epidemiologia e saúde da mulher na Universidade de Birmingham.

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