• Equipe Caminhos para o Futuro
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Zilma Reis, coordenadora do Centro de Informática e Saúde da Faculdade de Medicina de Minas Gerais (Foto: Acervo pessoal)

Zilma Reis, coordenadora do Centro de Informática e Saúde da Faculdade de Medicina de Minas Gerais (Foto: Acervo pessoal)

O nascimento de um bebê prematuro costuma ser cercado de ansiedade. Baixo peso, dificuldade para mamar e maior vulnerabilidade a problemas respiratórios são alguns dos fatores que exigem um cuidado extra. E, claro, quanto mais novo o bebê, ele precisará de mais suporte. Por isso, uma das perguntas mais importantes é: quantas semanas de gestação ele tem? O problema é que essa resposta nem sempre está disponível.

Um grupo de pesquisadores mineiros está desenvolvendo um equipamento inovador, capaz de identificar a idade gestacional com mais precisão. Batizado de Skinage, o aparelho usará luz LED para identificar algumas características da pele do recém-nascido, como a espessura e a quantidade de queratina. “A pele muda muito rapidamente na vida intrauterina”, afirma a pesquisadora Zilma Reis, coordenadora do Centro de Informática e Saúde da Faculdade de Medicina de Minas Gerais. “Nossa meta é estimar a idade do bebê com uma margem de erro de apenas uma semana.”

Seria um bom avanço em relação aos métodos existentes. O ultrassom é muito preciso quando feito no primeiro trimestre da gravidez – mas, depois disso, apresenta uma margem de erro de três semanas. Já o exame neurológico, feito logo após o nascimento, tem uma margem de erro de duas semanas, conta Zilma.

Essa variação faz diferença principalmente em locais com menos recursos. Por isso, o grupo mineiro busca fazer um aparelho pequeno, seguro, prático e de baixo custo. Assim, aumentam as chances de a tecnologia chegar a locais onde possa realmente fazer diferença, como ambulâncias, postos de saúde e hospitais sem UTI neonatal.

O projeto nasceu de um desafio lançado pela Fundação Bill e Melinda Gates. A entidade oferecia US$ 100 mil a quem apresentasse ideias para salvar bebês prematuros, principalmente aqueles nascidos em comunidades mais pobres ou remotas. Em maio, a fundação divulgou os selecionados, que têm 18 meses para apresentar seus protótipos e resultados iniciais.

Nesta primeira etapa, a equipe realiza análises in vitro, compilando informações sobre a pele do bebê em cada fase da gestação. Segundo Zilma, até o fim do ano terão início os testes in vivo (em bebês recém-nascidos). Se bem-sucedido, o projeto pode concorrer à próxima etapa do programa criado por Bill & Melinda Gates, quando é oferecido US$ 1 milhão para aperfeiçoamentos e testes em larga escala. “É quando a ideia vira produto”, diz Zilma.

O desenvolvimento do Skinage reúne dez pessoas, entre professores e alunos (de graduação e pós-graduação) tanto da faculdade de medicina como do departamento de física da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). E, para Zilma, que coordena o projeto ao lado do físico Rodney Nascimento Guimarães, o fato de contar com um grupo interdisciplinar é fundamental.

“Infelizmente, essa não é uma situação muito frequente nas universidades brasileiras”, diz a pesquisadora. Com pós-doutorado em informática em saúde, ela conta que mesmo as revistas científicas e órgãos de fomento têm dificuldade com propostas nesse modelo. “A gente manda um artigo para uma publicação de medicina e eles respondem que é de tecnologia. Manda para uma de tecnologia e dizem que é de medicina”, comenta a pesquisadora, rindo. “O mesmo ocorre com as bolsas. Aí precisamos de uma verba que veio do exterior para desenvolver um trabalho assim. Precisamos mudar isso, pois a parceria entre profissionais de áreas diferentes ajuda muito a pensar em coisas inovadoras.”

Hospital da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) (Foto: Divulgação)

Hospital da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) (Foto: Divulgação)